segunda-feira, 30 de julho de 2007

la mélancholie

Na esquina da minha rua tem uma banca que não vende jornais. Nem revistas. É uma banca daquelas de lata, com o jornaleiro dentro, mas há meses que ele não tem nada para vender e continua ali, o dia inteiro, com a banca aberta, ouvindo a rádio Cultura.

Ele ainda vende revistas velhas de tricô, cruzadinhas e alguns fascículos dessequenciados dos Mestres da Pintura. E a National Geographic de maio, que comprei mês passado só pra ter assunto.

Seu Geraldo, se não me engano. Passo por ali e digo "tudo bem?" e ele acena com a cabeça, sorri, depois volta para as suas palavras-cruzadas Coquetel, edição de fevereiro.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Na agenda!

show dia 3 de agosto, sexta feira, 21h, no SESC Pompéia.
Mais info: www.myspace.com/annatoledo

Mind Games: nah!

Nove graus em São Paulo.
Decidida a lutar contra o óbvio e o redundante, proponho-me um jogo: não usar a expressão "que frio!" durante todo o dia, principalmente no trabalho.
Encapoto-me toda e parto em direção ao ponto de ônibus. 70 minutos depois, desço perto do viaduto João Dias e caminho os dez minutos que faltam até o Teatro Alfa. O porteiro me diz "Boa noite!", eu respondo: "Mas que frio, hein!?"

Assim não dá. Mas eu devia desconsiderar, afinal, fui pega desprevenida: vinha andando no vento gelado, ao cair da tarde, só passava isto pela minha cabeça. E se o jogo é meu, posso me dar outra chance. De agora em diante, atenção.

Entro no teatro pelo lobby (é mais quentinho), assino meu ponto e desço em direção ao camarim. Passo por todos os camareiros - "que frio, hein, Aninha?" - e apenas faço mímica de congelamento, enquanto beijo cada um. Mímica pode.

As outras atrizes vão chegando, uma a uma, comentando a temperatura lá fora. Reclamam do vento ao tirar a roupa e resmungam que o figurino poderia ser mais quentinho. Depois dos aquecimentos, subimos ao palco - quase todos comentando o vento encanado que sopra das docas. Resolvo fazer uns polichinelos - de vestido, peruca e chapéu florido, mesmo. "Frio, Aninha?", alguém pergunta. Bato os dentes, em resposta. Bater os dentes vale.

A peça começa e a luz dos refletores esquenta um pouco quem está no palco. Saio da primeira cena e vou para as docas, onde faço minha primeira troca de roupa. Tiro a saia, o casaco e o chapéu. Fico só de meia e collant, enquanto a camareira vai buscar a roupa da segunda cena. O vento encanado - aquele mesmo - bate em cheio nas minhas costas. Aí não vale.

- Puuuuutaqueopariuuuuquefriiiiio!!!

"Calma, Aninha. Frio é psicológico" - diz a Vera, minha camareira, rindo de dentro do seu casaco.

Assim não dá.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

...

Que tempos são estes
Em que é quase um delito falar de coisas inocentes
Pois implica silenciar tantos horrores?

Bertold Brecht

terça-feira, 17 de julho de 2007

D.O.M. (de iludir)

Couvert: alho assado, coalhada com ervas, manteiga com sal grosso, berigela e pimenta cambuci; Entrada: vieiras (2) no leite de coco com castanha e (1)chip de manga;
Prato Um: fois gras com sorbet de cambuci, arroz selvagem tostado, lascas de avelãs e consomé de bonito;
Prato Dois: filé(zinho) de pirarucu e camarão glaçado;
Prato Três: (uma colher de) purê de batata com trufa negra ralada*;
Prato Quatro: cupim com purê de batata e pequi, no consomê de cupim**;
Epílogo: (uma colher de) purê de batata com queijo minas e queijo gruyère.
Sobremesa: (uma colher de )sorvete de baunilha com calda de chocolate branco trufado e uma lasca de chocolate;
Café leggero (com acompanhamentos diversos);
Vinho chileno*** e água com gás.

...e pronto:a felicidade! Ou algo bem parecido.

*Obs.: foi o meu primeiro encontro com uma trufa. É interessante: tem gosto de terra, como outras raízes, mas com um fundo adocicado, sei lá. O garçom deixou eu cheirar. É uma bolota gigante, do tamanho de uma mão, preta por fora e cinzenta por dentro. Tem um cheiro de... trufa.

** by far, o melhor prato da noite. O cupim parecia um pudinzinho, nem tinha faca para comer, era só uma colher e um garfo. O purê de batata com pequi é um achado, fica laranja, da cor do pequi, e com o gosto do pequi, mas com consistência de purê.

*** foi o vinho mais barato da carta. Tinha um vinho, Chateau Petrus 78, que custava módicos 14.500 reais. Rárárá!!! Era pedir o vinho e entregar a chave do carro.


ilusão? realidade? quem se importa? a memória é o meu refúgio.

Angústias


São a coisa mais aborrecida do mundo. Não há problema aparente, o problema é dentro – daonde? O problema é um vazio ou um cheio, um nada que busca comida, bebida, televisão, trabalho, sexo, diversão ou outra argamassa para tapá-lo.

Angústia pode ser falta do que fazer. Mas às vezes, muita coisa a fazer também angustia.

Já tive uma grande angústia. Ou duas, ou três. Que sempre resultaram num ônibus, um avião, um destino novo para encontrar minha velha angústia esperando na plataforma.

terça-feira, 10 de julho de 2007

melhor é fazer a mala*

Grandes são os desertos, minh'alma,
e tudo é deserto..!

Acordei determinada a ir à academia
li num periódico que a massa muscular aumenta a queima calórica
e acelera o metabolismo

O despertador tocou no modo soneca: uma, duas, três vezes,
os gatos ajeitaram-se sobre meus joelhos,
quatro, cinco vezes. Levantei-me às onze horas e fui preparar minha primeira refeição
(li que é indispensável tomar o café da manhã
para o bom funcionamento do metabolismo).

Vesti a roupa de ginástica, para não mudar de idéia.

Tomei meu chá verde com leite de soja
(nem café, nem laticínio, de acordo com a dieta do tipo sanguíneo).
Liguei a televisão.
Revi o Grey's Anatomy, que vira ontem à noite.
Assisti o último capítulo da 2a. temporada de 6FeetUnder, no DVD
e os capítulos de Lost que um amigo emprestou.

Ainda estou com a roupa de ginástica.

Grandes são os desertos, minh'alma,
e tudo é deserto..!


* álvaro de campos

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Novas utilidades para os teasers da Sessão da Tarde

Agora que o gabarito-gerador de chamadas da Sessão da Tarde ficou um pouco desacreditado, poderia-se utilizá-lo para anunciar outros produtos culturais, como, sei lá, peças de teatro ou livros. A linguagem de forte apelo publicitário poderia, inclusive, ajudar a popularizar grandes clássicos da cultura universal. Se não, vejamos:

"Um cara muito louco, aprontando as maiores confusões!"
(sobre Hamlet, de Shakespeare)

"Uma família muito louca, aprontando todas num casamento da pesada!"
(álbum de Família, de Nelson Rodrigues)

"Estas caras muito doidos vaõ aprontar as maiores confusões!"
(Os irmãos karamázov, de Dostoiévski)

"Uma família da pesada, que vai deixar esta cidade muito louca de cabeça pra baixo!"
(Cem anos de Solidão, de Garcia Márquez)

"Um cara muito louco..."
(O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro/Fernando Pessoa)

"Um cara muito louco, aprontando as maiores confusões!"
(Novo Testamento, n'A Bíblia, vários autores)

Uma turma da pesada aprontando as maiores confusões!

Sensacional!

Êba! Veio alguém com mais talento e paciência, editou os teasers da Sessão da Tarde e postou um clipe no You Tube, deixando muito clara como é mole a vida dos redatores das chamadas dos filmes vespertinos. Ou como é chata.

Agora não adianta falar que eu já tinha pensado nisto.

Ao que interessa: o clipe aqui.