sábado, 27 de dezembro de 2008

hai-cat

tudo é paz e tudo é calmo
e ainda assim



a surpresa é doce

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

mega-canseira

O show da Madonna é ótimo.

Dito isto, quero dizer que saí de lá mais cansada do que qualquer outra coisa - energizada, inspirada, o que pudesse ser. Por quê? Bão, ao que parece, ainda tivemos sorte, pois fomos num esquema bacana, com van do patrocinador levando e buscando, e ficamos na pista - que todo mundo diz que é o melhor lugar. Mas é um Mega-Stress.

A magnífica - e não estou sendo irônica, eu amo esta cidade - cidade de São Paulo não tem uma boa estrutura de transporte público para suportar eventos de grande porte. Quando tem qualquer show gigante, seja no parque do Ibirapuera, seja no Estádio do Morumbi, fica todo mundo dependendo de carro - e de estacionamento, manobreiro, flanelinha, os predadores usuais.

O Estádio do Morumbi, pra quem não é de São Paulo, fica longe. De tudo. Só fica perto mesmo é de quem mora no Morumbi (em geral, os paulistanos que andam de helicóptero)e de algumas favelas da Zona Sul. Tem um rio no meio do caminho. Não dá pra ir de outro jeito, só de carro, mesmo. Imagina o trânsito.

Chegamos no estádio às oito da noite, uma hora boa. Mas a Madonna resolveu atrasar o show duas horas e meia (dizem que foi porque choveu muito e o palco precisava secar) e só entrou às dez e meia. Nesta altura eu já estava com o saco na lua de ficar em pé e levar fumaça na cara. Parece que todo mundo resolveu fumar pra esperar a Madonna e não adiantava nada eu estar num espaço aberto.

Aí o show rolou - e o show é ÓTIMO. Tudo de bom, ela está linda, dançando o tempo todo, a produção é amazing, os backings são maravilhosos, tudo é muito legal. Mas aí tem o stress de neguinho me empurrando ou se imiscuindo na minha frente e eu tendo que apelar pro meu marido grande. Ai que saco. Quando o show acabou eu já estava perto do portão. Louca pra sair. Nada contra a Madonna. Mas aquela empurração me deu no saco.

Nem adianta vir com aquele papo de que "estou muito velha", que não cola. Estou é bem acostumada. Ou vou de metrô e assisto sentada na grama (ou na arquibancada, vá lá), ou compro o dvd.


P.S.: O Marcel, liberado do volante e do alto de seus 1,87, a-do-rou o show, sem reservas.

sábado, 20 de dezembro de 2008

My Favorite Things




clique e curta
boas festas
anna toledo

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

a minha amiga toma-me pela mão



Sem dormir a noite inteira. Nem esforço fiz. Quando o dia amanheceu, era óbvio. Mas eu estava triste.

"Ninguém morreu", eu me dizia, negociando a desproporção da minha tristeza com os fatos. "Um sonho", pensei. Uma ilusão que nutri, e não vingou. Mas tenho mais coisas pra fazer. O novo dia nasceu com coisas pra fazer. Um novo teste, em Moema. Maquiei-me, fiz o cabelo, vesti a blusinha sóbria, tomei um café quente e amargo. Cheguei no ponto de ônibus em cima da hora. O ônibus passou por mim sem parar.

Subiu o nó na minha garganta.

Bateu um medo enorme, ou uma solidão, ou um não-sei-o-quê. Um ônibus tinha me ignorado! Aí era demais. Liguei pra minha amiga Renata.

- Eu dei sinal e o ônibus passou batido! - as lágrimas escorriam pela superfície maquiada do meu rosto.

Renata, com a voz boa, ignorando piedosamente o fato de eu estar chorando por ter perdido um ônibus:

- Fica tranquila, em que rua você está?
- Na Joaquim Távora. Snif.
- Passa um monte de ônibus aí - ela disse - Qual você ia pegar?
- O Terminal Santo Amaro. Snif.
- Pode pegar o Capelinha, também. Vem que eu já estou aqui no teste te esperando.

Depois de uns dez minutos passou o tal Capelinha e, depois de meia hora, cheguei no teste, bem atrasada. O produtor me olhou, com cara de fim de ano:

- Pode preencher a ficha e voltar depois das duas. A gravação da manhã já fechou.
- Eu dou aula à tarde - avisei - Se eu for embora eu não volto.
- Pois é, mas já passou das onze.
- SÃO ONZE E DEZ! Você já andou de carro nesta cidade?

Neste altura da conversa, Renata - ela mesma- surgiu da sala de maquiagem, pronta pra gravar. Eu já ia embora. Ela foi falar com o moço e, honestamente, não sei o que disse. Mas ele levantou da mesa e me entregou uma claquete, com o meu nome escrito:

- Pode gravar seu teste depois dela.

Mal pude agradecê-la. Renata fez o teste e saiu voando - feito um anjo? - para outro canto da cidade. Outro teste em Perdizes, parece.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

andante maestoso


Qual é o compasso de espera? Quando dizemos "tal coisa está em compasso de espera", provavelmente, sem pensar nadinha, estamos falando num 4x4 - ou pior!, um 4x2, um compasso raro e pesadão. Mas nunca um compasso binário ou ternário, por definicão mais leves, convidativos ao movimento.


Se, por exemplo, um noivado estivesse em compasso de espera, e o compasso fosse 6/8, um dos noivos já teria sido visto circulando pela noite, nos braços de muitos outros braços, confundindo os pés com outros pés e o noivado não precisaria esperar: terminaria de uma vez.


Se o crédito de um financiamento estivesse em compasso de espera 2x4, também sairia logo, animadamente, e sem pedir muita papelada.


A minha semana está em compasso de espera. Clássico: 4x4, andante maestoso. Às vezes, tenho a sensação de que estou dentro de uma fermata. Coisas para acontecer: todas pra daqui a pouco, só daqui a alguns dias. Até lá, espere direito. Pá. Pá. Pá. Pá.

quando o carteiro chegou

É sério. Chegou um telegrama aqui em casa. Estas coisas não acontecem à toa. Só com coisa séria.
Pois bateu o carteiro, com um telegrama: "Parabéns, você ganhou o concurso tal-tal-tal e vai assistir o show da Madonna com um acompanhante".

Juro que isto pra mim é muito sério.




Faça-se justiça: apesar de eu ter concorrido, também, quem preencheu a ficha vencedora foi o Marcel. Mas vamos - os dois - juntos ao show da Madonna. Ê!

Vamos ter que usar as camisetas do patrocinador durante o show. Rá.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

análise sintática

Pedrão* é – entre outras atividades - músico de estúdio. Significa que ele acompanha todo o tipo de banda que precisar de um tecladista. Por exemplo, um conjunto que normalmente só tem percussão e violão na formação original vai usar os serviços do Pedrão na hora de gravar em estúdio e rechear suas músicas com outros timbres.

Foi justamente uma destas bandas que nos proporcionou esta historinha exemplar.

Como me foi narrada por Pedrão:








“Cinco horas de pagode. Em 30 minutos já tinha abençoado o plug-in Pitch Shifter**, amaldiçoado os vocalistas, e apresentado as tarrachas de afinação pro menino do baixo.

Sejei justo’ (como diz meu jardineiro): o resto da banda era bacana, e o violonista tinha ótima harmona*** e swing. Então lembrei que, assim como meu jardineiro, Deus também é justo e é óbvio que não me deixaria sofrer por todo o período de 5 horas. E finalmente a gravina**** fluiu.

Só uma coisa ainda me incomodava. Uma das faixas era um cover do Exaltasamba, de uma música chamada ‘A Carta’, e na letra o compositor fez uma brincadeira com palavras e melodia, enquanto relatava a tal carta que tinha escrito. Por exemplo:

‘Entenda o que vou lhe dizer, dois pontos: Vem de volta pro meu coração exclamação!’

Deu pra entender? E assim a música ia, até que numa parte a letra dizia ...

...’ nem virgula vai separar nessa oração teu nome da minha paixão...’

Como é do costume no mundo do pagode, pra tudo existe uma coreografia. E, nesse caso, o cantor dançava a sua até para gravar - imaginando-se no palco talvez, vai saber. Acontece que sempre que cantava a tal parte, na palavra oração o cantor fazia o sinal da cruz!

Isto foi me dando nos nervos.

Já na minha saida, com o teclado no case***** e o cachê no bolso, ouvia pela última vez uma linha de cordas que tinha colocado na tal música e o fulano veio do meu lado. Não se contentou e novamente encenou a tal coreografia.

Aí resolvi falar:

- Cesinha, nessa parte da música, oração é frase.

E ele retrucou.

- Pedrão, meu querido, não interessa o tamanho da oração, e sim o que ela representa.”



Wehehehe


* os nomes foram alterados
** Pitch-Shifter: recurso do computador que corrige falhas de afinação numa gravação
*** harmonia, boa escolha de acordes
**** gravação
*****estojo do instrumento

sábado, 6 de dezembro de 2008

Nara strikes. Again.





o meu coração é o incrível Hulk destransformado, pegando aquele ônibus pra uma outra cidade, com aquela mochila nas costas e o monstro no espírito

Assionara Souza




ilustração Dan-Ah-Kim

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Guelra e Paz


Tem alguns filmes que são totalmente zoados pela crítica e nunca mais se recuperam do baque. Waterworld, do Kevin Costner, é um deles. Está sempre na lista dos piores de todos os tempos, rivalizando com Plan 9 From Outer Space (com seus sensacionais efeitos especiais sweded*), Batman e Robin (aquele com o George Clooney com armadura de mamilos, pois é...), Glitter (alguém lembra, do filme-veículo da Mariah Carey, onde ela entra no palco e diz “parem, parem, esta não é a música que eu quero cantar!” e começa a cantar outra que o seu ex-namorado escreveu num papel - e a banda, milagrosamente, a acompanha?) e outras tantas delícias** que assistimos gritando de horror e prazer.


Estes dias reprisou Waterworld na tevê, num caso de bad timing exemplar, considerando que o telespectador brasileiro, por estes dias, está particularmente sensível a cenas de inundação e devastação pelas águas. Mas o filme é bem engraçado. E eu me lembrei de uma historinha bacana:


Tenho um amigo músico - alemão - que foi criado numa comunidade alternativa. Desde criança, ele viveu apartado da sociedade que conhecemos e privado de uma série de estímulos e informações que recebemos quase que osmoticamente – pela tevê, rádio, outdoors, cinema, ticetra. Claro, recebeu educação da melhor qualidade – alta cultura. Conhecia tudo de literatura, música erudita, artes plásticas, poesia, teatro. Mas mal tinha ido ao cinema até os trinta e poucos anos. Cinema americano, então, pfff.


Pois este amigo meu, Burkhardt - já fora da casca e vivendo em Berlim há alguns anos - foi ao cinema, um dia, e assistiu Waterworld. Seu mundo mudou. Sua vida mudou. Ele nunca tinha visto nada igual, nem sabia que era possível. Ele quis conhecer cinema. Quis ouvir mais trilhas. Chegou no jazz. Descobriu Gershwin e Duke Ellington! A música popular e as emoções baratas.


Tudo por causa de um filme sem pé nem cabeça (mas com guelras).


Aliás, aqui no Brasil, para variar, o título do filme ficou sendo uma daquelas maravilhas inesquecíveis, tipo Waterworld – O Mundo Perdido, ou Waterworld – O Mundo Submarino, ou Waterworld – o Subtítulo Esquecido. Para o relançamento em DVD, eu já deixo aqui a minha sugestão de tradução, estampada no título do post: Waterworld - Guelra e Paz.


*sweded: ver "Rebobine, Por Favor". Expressão usada para definir uma realização artesanal tosca.

** os meus filmes-tranqueira favoritos são Showgirls e Staying Alive. O equivalente cinematográfico a um pacote de cheetos-bacon com fanta. A-do-ro.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

pousa-se toda maria

O novo sucesso musical do verão já está tocando em todas as rádios. Trata-se da nova música de Marisa Monte – Não é Proibido – que foi lançada junto com o DVD-documentário da turnê, por apenas 60 reais! A canção foi composta em parceria com dois outros consagrados artistas da MPB – Dadi e Seu Jorge – e tem tudo para ser um grande sucesso: alegria, ritmo contagiante e um “quê” descontraído. Apenas a letra, de lirismo complexo e forte simbolismo, pode dificultar a aproximação com o grande público.

Num serviço de utilidade pública, oferece-se aqui uma interpretação do texto de Não é Proibido:

NÃO É PROIBIDO
(Marisa Monte/Dadi/Seu Jorge)

Jujuba, bananada, pipoca,
Cocada, queijadinha, sorvete,
Chiclete, sundae de chocolate

[Os autores fazem uma metáfora da doçura da vida e de todas as coisas boas que não rimam, mas que grudam no dente]

Paçoca, mariola, quindim,
Frumelo, doce de abóbora com coco,
Bala juquinha, algodão doce, manjar

[Ainda usando o moderno recurso do verso branco, os autores agora transgridem também a métrica, no verso que soa como “docedeabobracomco”, insinuando que as coisas boas da vida não obedecem a regras]

Venha pra cá, venha comigo,
A hora é pra já, não é proibido,
Vou te contar, tá divertido,
Pode chegar

[Nestes versos, há uma referência clara à clássica canção de protesto, proibida nos anos 70, “Pra Não Dizer que Não Falei Das Flores”, que dizia “Vem, vamos embora (...)/ Quem sabe, faz a hora” e segreda que os tempos mudaram para melhor, pois diz que não é mais proibido e tá divertido.]

Uh, uh, uh
Vai ser nesse fim de semana,
Manda um e-mail para a Joana vir

Uh, uh, uh
Não precisa tocar bacana,
Fala para o Peixoto chegar aí

[Aqui considero a maior demonstração de virtuosismo lírico de toda a canção: os versos rimam entre si – “semana” com “Joana” e “bacana” – e as estrofes rimam também – “vir” com “aí”. É sublime. A referência ao e-mail atenta para a contemporaneidade do tema e da urgência dos encontros humanos, ainda que imperfeitos ("não precisa tocar bacana"). Quanto ao corinho “uh uh uh”, não tenho certeza, mas creio que é uma evocação de um Coro Grego, conclamando a todos para a grande celebração dionisíaca!]

Bis

[Repetem-se os versos da bananada e da jujuba, carregados de um novo sentido: além de evocar as alegrias da vida, estes doces remetem à infância e à inocência, onde o Bem e o Mal não existem. Com a palavra “Frumelo”, abre-se um portal do Éden, onde todos, inclusive Joana e Peixoto, celebram felizes a inexistência do pecado. Nada mais é proibido. Deslumbrante. ]

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Outra de gato





Tive uma noite ruim. O dia amanheceu e eu já perdia o sono. Já que era assim, pus a roupa de ginástica e fui pro primeiro horário da aula de ioga, lá em Pinheiros.

Cheguei cedo e não tinha ninguém (minha professora dá aulas em casa). A porta estava aberta, entrei, chamei, nada. Dali a pouco ela saiu, pela porta da cozinha, com o rosto inchado de choro.

- Meu gato pulou.

Imediatamente entendi que ele tinha pulado da janela do quarto andar do apartamento. A próxima pergunta era:

- Está vivo?
- Acabei de pegar ele lá embaixo, não sei o que fazer.

Fui olhar o bichano. Vivíssimo, o cretino. Mancava, pra dizer muito, de uma das patas. Mas só se a gente prestasse muita atenção. Pelo miado, estava só assustado.

- O que eu faço? – ela me perguntou.
- Se quiser ter certeza, leve num veterinário – respondi – Mas ele não quebrou nada, nem bateu nada. Se não, não estava aqui puxando conversa.

Fomos para a sala de prática. Minha professora pediu para eu cantar o mantra ritual de início da aula sozinha, porque ela ainda estava abalada. Depois que cantei o mantra, ela ponderou que tinha se assustado demais pelo fato de que o gato, que vivia com ela há 15 anos, e que nunca havia descuidado do parapeito, pudesse cair pela janela. Achava que era um sinal para prestar mais atenção em tudo o que considerava já conquistado. Eu comentei:

- Mas, Renata (é o nome da minha professora), ele sobreviveu e ficou lá embaixo te esperando.

Ela abriu um sorriso enorme.

- É verdade!


E era mesmo.

um soneto roubado - do blog da Nara




Gato Rebuscado



Figura Cézanne descolada do antes
Um jeito de um gato é um quando
Movimentar-se sinuosa e suave mente
entre coisas inclusive. E não - solto livre

Gatozen se água longe do escaldado
E assim queira, salta para o alto
a to c o n t í n uo do g a to: o pára-gato
ao lado da gata em patas de estátua

Gato enamorado espera a hora em que, áspera,
a língua asseie em cio sutil o pêlo de sua gata
Olhos cerrados e as narinas aptas do sirigaito

Bigodes -pautas regendo o ar envolto
em silenciosíssima e gatinífica sinfonia:
Sorve em ser e sombra a felinamorada


segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

fui almoçar

Três da tarde. Entro no restaurante já vazio. A garçonete me cumprimenta:

- Boa noite. Opa. Boa tarde. Desculpa. Tô tão evoluída...

três gatos na minha cama


Se tem uma coisa que me apazigua é chegar da rua e encontrar os gatos na cama.


Logo cedo acordo, alongo, aqueço a voz. Ponho um vestido bonito, um sapato de dança e pego o metrô para mais uma audição.


Faço meu teste. Saio e tomo um café, ligo o telefone e ele começa a tocar. Meus alunos também estão em plena temporada de testes e precisam de orientação. Audicionam para as mesmas peças que eu. Ajudo-os com o repertório, sugiro os dezesseis compassos da música que vão cantar, antecipo o espírito do teste, aconselho um idioma para a canção escolhida, estas coisas.


Desligo novamente o telefone e entro numa igreja. Ali dentro é fresco e escuro e no altar está somente Nossa Senhora com um Menino Jesus no colo. Parece bom. Fico ali quase sozinha. A população total da igreja são umas cinco ou seis mulheres que também meditam e alguns poucos homens que parecem dormir sentados, com a cabeça apoiada no banco da frente. Eu só fico quieta por alguns minutos. Depois pego o metrô de volta para casa.


Os gatos estão deitados na cama, como se nada. Sorrio profundamente.