Quarta feira passada fui ver a
Dianne Reeves no Via Funchal.
A
Dianne Reeves já era a minha cantora - viva - favorita, antes de eu ter esta oportunidade de assistí-la em carne e osso, com banda - e na fila do gargarejo, devo acrescentar.
Agora não tem mais o que dizer. A mulher não é só uma cantora excepcional: é uma sacerdotisa, uma divindade, uma sei-lá-o-quê que transborda música e beleza e amor e transforma até aquele ambiente esquisito do via funchal num lugar aquecido, feito de pessoas amigas, batendo os pés juntas, baixinho, no ritmo, enquanto a nêga-deusa canta
a cappella.
No mais, um suíngue abusivo, a voz que engole a banda toda (quando ela quer), um
scat originalíssimo e de bom gosto - o estilo africano que ela consagrou, misturado ao
scat tradicional - usado na medida.
Pontos altíssimos: as duas canções brasileiras -
Triste/Solitude (com um scat memorável, arrematado com "Estamos Aí") e
Amor em Paz/Once I Loved (arranjo magnífico de Romero Lubambo, que provou que ainda dá para fazer coisas novas com o violão da bossa nova);
One for My Baby, One For The Road, que virou um
blues roots, totalmente descolado da interpretação do
Sinatra, e no final descambou para um
negro spiritual; That's All, a canção mais suingada e com o
scat mais furioso, feita numa leveza incrível;
Testify (não tenho certeza se é este o nome), uma maravilha de transe musical, que fez a platéia inteira cantar junto.
Então é assim: ouça as gravações, veja os vídeos no
you tube. Não perca a Dianne de vista.
Se puder, se ela estiver passando pela sua cidade, agarre a chance de ter esta experiência de transbordamento e êxtase.*
Este vídeo que postei tem uns vinte anos. Dianne flertava com o afro-jazz e, ainda no estilo "swing" clássico, interpreta How High the Moon. Só o corte de cabelo está too Grace Jones. Ahaha.
*Não exagero. Se eu estava rindo e chorando, como é típico, um senhor na minha frente abraçava e beijava sem parar a filha e a esposa.