domingo, 30 de novembro de 2008

social wife


Eu não ligo pra bufê de casamentos.
Eu não ligo para arranjos de flores.
Eu não sei quem é a donatela.
Pois é, que sorte, não pinto o cabelo.

Podia tocar um funk agora.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

mil palavras e nada

eu queria uma imagem bonita
que dissesse alguma coisa - boa
para quando acontece de chover sobre a vida de tanta gente
e simplesmente levar tudo

não há o que dizer
as minhas palavras são só assombro e ohs e meu deus
eu queria uma imagem que fosse esperança
mas talvez seja cedo

humildade

terça-feira, 25 de novembro de 2008

i'd rather be singing

Em 2004, fui ouvinte no mestrado de Música da UNESP - não cheguei a frequentar o curso por mais de um semestre. Hoje, faxinando, encontrei o caderno na gaveta. Entre muitos desenhos de leões (pelo jeito, uma fixação, na época) e de algumas divas wagnerianas, encontrei as seguintes anotações:

"O objeto sonoro, como som extraído, foi descontextualizado. Forçar uma audição morfológica do objeto sonoro e abordar fenomenologia."

"A escrita existe de uma forma latente no sentido notacional do termo. Processo dialético".

"O pensamento serial vem em oposição ao estruturalismo, enquanto representacionalidade simbólica".

"Sintese são sons com suporte informacional"

E uma carta:

"Caro Deus,

Eu não sei para onde ir e estou indo. Agora eu me trouxe até a UNESP, onde me sinto incrivelmente deslocada ou inadequada, apesar de identificar entre os meus colegas pessoas boas. Não consigo estabelecer um contato. Aliás, eu ainda não cheguei aqui. Eu me trago até aqui todos os dias, mas não chego."

domingo, 23 de novembro de 2008

Deixa a vida me levaaaaar

E num laivo de ecletismo, fui assistir ao show do Zeca Pagodinho no Credicard Hall.

Os ingressos desembocaram em nós depois de um caminho tortuoso: meu sogro havia participado de alguma promoção do Citibank para ganhar outra coisa e acabou ganhando dois ingressos para o show do Zeca Pagodinho. Minha sogra não era a fim de ir e ele não podia devolver nem trocar.

Perguntou se conhecíamos alguém que queria ir ao show. Num impulso, falei "Eu nunca fui num show do Zeca Pagodinho!" E pronto, estava feito.

O apedrejamento moral a que fomos submetidos pelos nossos amigos nos dias que precederam o show - sob forma de chacota, claro, mas também sob forma de cobrança indignada - só acabou por confirmar nosso desejo de ir e ter a experiência. Iríamos gastar com o estacionamento e, se fosse muito ruim, sairíamos na terceira música, foi o trato. Eu gosto de samba, é fato, e sou uma curiosa da estrutura dos grandes shows. O Marcel gosta de música e também é fascinado por estrutura de entretenimento. Queríamos ver como é que o cara fazia. Afinal, era um show de samba para 3000 pessoas.

Fomos e foi sensacional. Dezoito pessoas na banda - percussionistas, seção de cordas, metais, madeiras e três vocais (duas "pastoras" e um vocal masculino). Luz bonita, cenário bonito. O Zeca, um entertainer de primeira, simpático pacas, bebendo (muito) entre as canções e falando pouco. Muito suingado, muito divertido. E o público em estado de graça, cantando tudo, batendo palma no ritmo, completamente contagiante.

Foram duas horas em que ele cantou quase ininterruptamente (parando para beber), deixando tudo com cara de roda de samba, ao mesmo tempo com sofisticação e limpeza musical, tudo muito profissional, tudo beeeem azeitadinho. As músicas em geral eram boas - acho que me aborreci com uma ou duas. Teve Velha Guarda da Portela, teve choro, teve um monte de sambas que eu conhecia de rodas de sambas imemoriais. E teve o "Descobri que te amo demaaaais..." e o "Vai Vadiaaaaar", que eu resolvi achar sensacional de ontem em diante, depois de ouví-lo entoado por três mil vozes felizes.

sábado, 22 de novembro de 2008

carta enigmática





highlights de um grande dia

10h-11h: Ensinei um aluno a cantar "Morena dos Olhos d'Água", do Chico Buarque.

15h: Ganhei um notebook - verde! - de presente.

17h: Fui ver Vicky Cristina Barcelona, com o Marcel. Que filme bom.

22h-23h: Compus uma canção para o Marcel tocar na guitarra. Se gravaremos, é tarefa para outro grande dia.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

um satélite enquanto isso

Hoje foi feriado.
Dia da Consciência Negra.
Shows de samba e hip-hop por toda a cidade.
Negros não gostam de Mozart ou Villa-Lobos, também?

Eu, hein.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

tempos augustos


Passei pela minha nebulosa mensal (ou mental, também serve). Foram dois dias este mês - mas digo isto por enquanto, pois só atacou um lado da cabeça até agora. São períodos em que desisto e não faço nada, durante o tempo em que A Dor dura.

Achava que ia conseguir praticar meditação durante a crise, pois tenho treinado um pouquinho todos os dias nas ultimas semanas, e que a meditação pudesse ajudar a atenuar o mal-estar. Quá.

Bão, estava eu esta tarde na padaria, comemorando o meu regresso com um café e uma rabanada, e a meu lado estava um senhorzinho e sua senhora, tomando seus respectivos cafés. O senhorzinho suspirou:

- É preciso lembrar Augusto: "Apressa-te lentamente"!
A senhorinha acedeu, sorrindo. Repetiu:
- "Apressa-te lentamente!"
- Um gênio, este Augusto. Trinta anos antes de Cristo!

Os dois sorriram. Furiosamente, minha cabeça tentava processar o aforismo. Como assim? É lindo, sem dúvida, mas o que quer dizer? Quase fui perguntar, mas achei que não ficava bem. Vamos lá, eu já fui boa nisto: "Apressa-te lentamente". É para aproveitar a pressa? É para não ter pressa em chegar na frente? É para confundir o adversário? É para prestar atenção no caminho?

Devia ter perguntado.

Chego à conclusão de que é mais fácil desacelerar de súbito do que apressar-se lentamente.

domingo, 16 de novembro de 2008

impermanencias


Celio Barros, Ellen Fischer, Meredith Monk, Crisca e Anna Toledo
Teatro do Colégio Santa Cruz, 15 de novembro de 2008.

e vivam os celulares com câmera!

epifania: meredith monk

Sou muito grata. Mesmo. Assisti a Meredith Monk e o seu Vocal Ensemble ao vivo.

Hiper-estimulados como somos pelo excesso de ofertas de lazer e consumo, pode ser difícil reconhecer uma experiência transcedental. Por outro lado, pensando bem: uma vez que a experiência começa, não é possível confundí-la com outra coisa. Eu tive uma revelação. Uma pequena revelação.

Só posso estar grata.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

música contemporânea

O mash-up - procedimento de um DJ fundir duas músicas já gravadas e tocá-las ao mesmo tempo na balada - rompeu definitivamente com um dos parâmetros musicais mais fundamentais da música pop: a tonalidade.

Agora, desde que a música permaneça no mesmo ritmo, a melodia pode estar tocando fora do tom, com o baixo e o bumbo em dissonância, que tudo bem (sim, o bumbo tem afinação, antes que alguém pergunte). O que importa é a batida.

O conceito do mash-up me agrada, pois não passa de um arranjo: a promoção do encontro de duas músicas que podiam ter algo em comum e nem sabiam. O problema, a meu ver, é a realização, que gera um ruído totalmente indesejável, quando as duas músicas estão em tons incompatíveis. Bem, pelo menos para os meus ouvidos do século passado.

Um compositor do início do século passado, Charles Yves, norte-americano, já compunha mash-ups avant-la-lettre* (ou seja, muito antes de existir este termo). Ele escrevia marchas diferentes para duas bandas, ficava no alto de uma torre, dava um sinal e as duas vinham, cada uma de um ponto da rua, até se encontrarem numa esquina. As composições não estavam em "tons compatíveis", ou seja, as dissonâncias iam se aproximando lentamente. A experiência era, justamente, experimentar as dissonâncias e a politonalidade.

Me ocorre que se Yves e outros compositores que experimentaram a politonalidade e as dissonâncias fizeram-no pelo desejo de exceder os parâmetros musicais conhecidos (melodia, harmonia, ritmo) - ou seja, por gostar muito de música - hoje, o grande público que consome a música eletrônica aceita a politonalidade do mash up por desprezar os mesmos parâmetros. Eles provavelmente não estão ouvindo.


Link: mash up de I kissed a girl e Womanizer, na radio uol, aos 30'



*ui, que insuportável que eu sou...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

gafe


xi, menina...
a gente veio com o mesmo vestido!
mais no fotoblog

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

clássicos da gaveta

Arrumando as gavetas do computador, encontrei esta versão de Spain para voz e violão, que apresentei com o Michi Ruzistchka.

Na época eu me lembro que não gostei da gravação porque eu tinha errado a letra no começo e respirado mal no final. Bem, os erros continuam gravados. Mas tem acertos, também. E é Spain, ora bolas.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

a propósito -3

A peça de campanha política mais legal que eu assisti na internet se chama Les Misbarack , um número musical pro-Obama baseado em Les Misérables, com a canção One Day More.

Mc Cain e Palin cantam a parte do Sr e Sra. Ténardiers. Ahaha.

A propósito - 2

O discurso de vitória de Barack Obama em Chicago foi um dos grandes momentos da história dos Estados Unidos. Assombroso. O carisma e o poder de oratória do novo presidente são assombrosos, ele parecia um reverendo. Fiquei impressionadíssima.

O discurso de derrota de John McCain foi muito generoso, também. E muito bom.

a propósito

Dentro do espírito de otimismo e mudança que tomou meio mundo desde a eleição de ontem, onde o senador Barack Obama foi eleito o próximo presidente dos Estados Unidos - e parafraseando o discurso de derrota do senador John McCain, que falou novamente em garantirmos um mundo melhor para nossos filhos - eu gostaria de lançar aqui o desafio* de começarmos a criar filhos melhores para o nosso mundo.




* a sacada brilhante é da Kusum.
**foto-ilustração Cyril Auvity

terça-feira, 4 de novembro de 2008

a arte é para quê?

Nem se animem: não tenho estofo filosófico-intelectual para sustentar este raciocínio e ele vai acabar com "ah, eu sinto assim..."

Quando eu tinha lá os meus treze para quatorze anos, li a maravilhosa frase de Oscar Wilde: "Toda arte é completamente inútil". Escorada neste conceito libertador, entendi que a funcionalidade da obra seria (ou não) atribuída muito mais tarde, mas que não cabia ao artista preocupar-se com isto.

Anos depois (só alguns, vai) descobri que, realmente, enquanto Artista não cabia a mim ficar pensando no que iria resultar a minha criação. Mas, enquanto Produtora, eu me preocupava em como vender o produto que esta Artista estava criando.

Então o processo artístico exige um pouco de descolamento, de esquizofrenia:"Agora eu não sei para o que isto vai servir, isto é problema... meu! "

...

Para ficar quase no mesmo assunto: por que insistimos?

Há muitos anos, uma professora alemã me aconselhou duramente a deixar de cantar. Não que eu tivesse problemas vocais: ela só não via utilidade para mais uma soprano no mundo, sendo que eu não tinha nenhum recurso vocal excepcional que me destacasse na multidão. Aos prantos e mostrando os dentes (ah, os latinos...) eu fui atrás dela e disse: "Você não está entendendo?! Isto é o que eu faço!" E ela deu um sorrisinho: "vielleicht (talvez)... with that attitude..."

A vaca.

Talvez ela estivesse certa. O mundo é muito grande e é pequeno ao mesmo tempo. Marcar território, fincar uma bandeira e fazer os outros te reconhecerem como algo distinto, nada disto é simples. Mas insisto. E nem é porque as coisas deram supercerto para mim. Algumas coisas deram muito certo. Mas às vezes não dão, mesmo. Ainda assim, não me ocorre fazer outra coisa, simplesmente porque isto é o que eu faço.
...

Na quinta passada, fui ao show da Ithamara Koorax, aqui no SESC Vila Mariana. O show foi no auditório, o teatro menorzinho, com 80 lugares, e não estava lotado. A Ithamara Koorax é uma cantora com uma carreira brilhante no exterior, que já ganhou duas vezes a votação de melhor cantora de jazz do mundo da revista Down Beat. Mas estava fazendo um show num teatro pequeno, para uma platéia de poucos bem-informados - o ingresso custava 12 reais.

No final do show, fui falar com ela, que estava muito feliz de voltar a cantar no Brasil. Comentei que era a primeira vez que conseguia assistí-la ao vivo e ela disse "É, é difícil tocar aqui. Mas o negócio é insistir sempre."

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

chuva ritual


mathilde aubier


Ontem choveu, é claro.


Antes eu achava que chovia infalivelmente em Finados só em Curitiba - porque lá chove, mesmo, nesta época do ano. Depois eu descobri que chovia em qualquer parte, no dia 2 de novembro, onde quer que eu estivesse.


Eliminando a hipótese megalomaníaca de eu causar uma precipitação pluviométrica onde quer que eu fosse (e apenas no feriado de Finados), e levando em conta o senso comum de que "em Finados sempre chove", começo a aceitar o fato sem questionamentos; quase com poesia.


Ontem choveu retumbantemente sobre São Paulo.




Enviei meus pensamentos e meu silêncio para os meus avós e para os meus amigos queridos e saudosos.