quinta-feira, 30 de abril de 2009

Feriadão

Assunto: Churrasco do Dia do Trabalho
Att: todos os funcionários


Queridos amigos e colegas!
Na próxima semana comemoramos do Dia do Trabalho! Como é de praxe, teremos uma festa de confraternização e, este ano, o Sr. Geraldo ofereceu o sítio para um churrasco. Os colegas que foram à festa, em anos anteriores, vão lembrar que o local é realmente muito agradável e propício a um evento deste porte.

A Dona Aline, esposa do Sr. Geraldo, ficou muito satisfeita em receber novamente o pessoal da empresa. Ela só pede que não façam bagunça como da outra vez, que não joguem os restos da carne na piscina, que não escondam as latinhas de cerveja vazias entre as almofadas do sofá e que esperem para usar o banheiro um de cada vez. Para evitar aborrecimentos, ela pediu uma caução de 50 reais por pessoa, a ser entregue na porteira do sítio para o Seu Neto, e que será devolvida na saída, caso o convidado não tenha destruído nada. Ela concordou em abrir mão do processo de danos morais que movia contra a empresa desde 2001, contanto que o Dr. Nivaldo concorde em permanecer de bermuda durante toda a festa e que a empresa pague o acordo devido até esta sexta feira, anterior ao sábado do churrasco.

Para evitar que alguém deixe de ir, ou se perca, sugerimos uma caravana para sairmos juntos de São Paulo em direção ao sítio do Sr. Geraldo. Assim as caronas ficam organizadas e todos saem e chegam no mesmo horário. Atendendo a maioria dos pedidos, o horário da saída ficou às 7:00, para chegar logo e ir esquentando a grelha. Ainda que para alguns pareça cedo, é importante lembrar que a Dona Hortênsia pediu para voltar antes das cinco, por causa da artrite, e a Dona Mara, da Contabilidade, só pode ir se for para voltar antes da novela das 6, porque, como todos sabem, a filha dela está atuando e ela – a dona Mara - ainda não aprendeu a gravar no DVD.

O local da saída será o estacionamento do Bar Bicha, nos fundos da loja de móveis Cesco, em frente à praça Benedito Calixto, em Pinheiros. Para facilitar o encontro, pedimos que todos esperem fora dos carros, se não estiver chovendo. Ou ainda, podemos nos encontrar todos na própria praça, que é mais fácil de achar. Para os que não sabem chegar no estacionamento do Bar Bicha, haverá uma pré-caravana saindo às 6:30h do Centro Cultural, no Metrô Vergueiro, em direção à praça Benedito Calixto, em Pinheiros. Pedimos a todos para não haver atrasos e não questionar a organização da caravana, que foi cuidadosamente estudada pelo nosso departamento de logística. O Sr. Mathias, do Departamento de Logística, também avisa que oferecerá um desconto para os carros que ficarem no estacionamento do Bar Bicha, de propriedade do seu tio Jonas.

Este ano, a Dona Jussara não vai comprar a carne, pois alega que todo mundo só come lingüiça e coraçãozinho, reclama que não tem picanha e joga metade da alcatra fora assim que ela esfria. Ficou acertado, então, que cada um deve levar a carne que pretende comer. Quem levar frango não pode mudar de idéia, depois. O churrasqueiro será o Rafael (Mosquito), do setor de limpeza. O Sr.Giuca e o Sr. Leonardo farão a provisão do carvão e do álcool. O Sr.Giuca também ficou de buscar o Mosquito no Jardim Letícia, às cinco da manhã do sábado, mas este último já avisou que talvez ele venha direto do forró – e neste caso, não será preciso buscá-lo.

Finalmente, pedimos a compreensão de todos para o assunto da sobremesa. Uma vez que foi decidido que a sobremesa é opcional, solicitamos que aqueles que desejem trazê-la, que o façam de modo discreto e comam em local afastado. Não podemos esquecer do lamentável incidente do ano retrasado, quando o Sr. Miguel Jorge, hoje afastado dos nossos quadros, chamou a Dona Terezinha de “gorda esganada”, porque ela não ajudara a comprar o sorvete, argumentando que estava de dieta, e tinha comido tudo.

Contamos com a presença de todos. Estamos certos de que será um dia de grande alegria e festa! Sem mais, atenciosamente,

Joana Ribeiro
Comissão de Relações Públicas e Eventos


Anexo a esta circular, vai um mapa com as direções para o Sítio do Sr. Geraldo. Contamos com a ajuda do Dr. Roberto Mirto, do Jurídico, único que lembra exatamente onde é para pegar a faixa 4 da Dutra para a Fernão Dias e onde fica a alça para Mairiporã. Sugerimos a todos que fiquem com seus celulares ligados na estrada e evitem os trotes, pois o Sr. Elpídio teve sérios problemas familiares na última festa, quando foi parar em Belo Horizonte devido a uma indicação errônea.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

How to Be Fofa: The Software

Não interessa se a mulher tem dois diplomas, MBA em Tecnologia do Conhecimento, carteirinha da OAB, ou se traduziu um livro de poemas simbolistas elogiado pela Hilda Hilst. Assim que senta ao lado do namorado na cadeira do cinema, roda no seu cérebro um programa chamado “Fofix”. Imediatamente, esta mesma mulher começa a fazer perguntas do tipo:

- Ué, mas ele morreu? (...) E este aí? É o bandido? (...) Mas pra onde eles foram?

“Fofix” tem a função primária de ativar a masculinidade do parceiro: o homem se sente infinitamente mais forte e capaz do que aquela coisa linda que não consegue acompanhar a trama sozinha. Costuma ter bons resultados, pois o macho se torna mais carinhoso e protetor, mas passará o filme explicando tudinho para a namorada:

- Não, meu bem. Espere que ele vai aparecer. Querida, o bandido é aquele ali de preto. Eles vão fugir dos bandidos que querem pegar eles,entendeu?

- Aaaaahhn...

(Segue-se o som de um pacote de papel sendo remexido. O homem coloca uma pipoca na boca da fofa em questão. Som de beijinhos.)

O programa “Fofix” não vem de fábrica, a instalação é opcional e pode ocorrer a partir de qualquer idade, sendo a adolescência o período mais indicado. As usuárias do programa garantem estar muito satisfeitas com os resultados obtidos.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

faz falta o quê


o meu coração
o meu coração, meu coração
meu coração, nem nada.

minha cabeça é que vai, volta, estanca e cansa
meu pensamento é que me cerca e me falta.

sábado, 18 de abril de 2009

gato espiatório


Meu gato anda com vontade de conhecer a rua. Espia pela fresta da porta e mia longamente, desde que escapuliu, ontem à tarde, e passou quase duas horas fugido. Foi recuperado pela vizinha, que ligou para o número gravado na coleira. Não vou nem comentar o meu estado de nervos, apenas digo que metade do camarim comemorou o telefonema.

Wilbur, o gato, ficou tão eufórico com a experiência da liberdade total que não foi pra cama ontem à noite. Dormiu na sala, olhando a janela. Só quando amanheceu é que subiu pro quarto. Ô, dó...



quinta-feira, 16 de abril de 2009

7 - O Musical

Ai, meu coração...



Assisti a um ensaio geral de 7 - O Musical ontem à noite, no Teatro Sérgio Cardoso. Voltei para casa com o coração aos pulos, certa de que tínhamos visto a preparação de uma obra-prima. Ainda no calor da hora e com o entusiasmo de quem foi encantada, não tenho nenhum pudor em afirmar que apareceu um grande musical brasileiro para o século 21.

7 tem música original composta por Ed Motta, letras de Cláudio Botelho e texto de Charles Moeller. A música é des-lum-bran-te, complexa, com fortes passagens jazzísticas, mas muito ritmo e harmonia brasileiros, a orquestração é genial, cheia de cordas dedilhadas, leve, chorona, valorizando as vozes, é tudo muito bonito. Eu preciso ouvir isto mais dez vezes.


O roteiro, excelente, macabro, fecha todas as pontas. Bem contado, rico em personagens interessantes, apresenta bem a história e seus protagonistas. Conta a história de uma mulher - Amelia - que faz um trabalho de magia negra para ter seu homem de volta. Ao mesmo tempo, há um paralelo com a história da Bruxa, que deseja destruir Branca de Neve por sentir inveja da sua beleza. As histórias se fecham. Não me perguntem como: Vão assistir 7.




Se a obra é brilhante, a montagem não foi menos do que genial na escalação do seu elenco: a escolha de Rogéria e Zezé Motta, como os dois pólos místicos da peça, foi de uma felicidade absurda. Eliana Pittmann tem uma voz rouca ancestral que convence qualquer um de sua sabedoria. E Susana Fainni, que entrou substituindo a saudosa Ida Gomes, está igualmente magnífica.

Alessandra Maestrini é uma força da natureza. Alessandra Verney é perfeita como a mulher mais linda do mundo, pois até quando está horrível traz uma delicadeza e uma fragilidade de princesa. Jarbas Homem de Mello é um ator corajoso e emocionante.

Exacerbei? Tô transbordando de entusiasmo. Repertório novo, peça nova! Viva!

A estréia oficial em São Paulo está marcada para sexta feira.


Gente, e só pra deixar registrado: a Zezé Motta é uma loucura! É ridículo que esta mulher não tenha se transformado numa Deusa Pop aqui no país.

Mais um bom motivo para ver 7 - o Musical: Zezé Motta em todo o seu esplendor.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Moshi-Moshi


É muito bom ter um blog, pela absoluta falta de compromisso - com a coerência, a consistência temática, enfim. Hoje, por exemplo, vou falar do que comi na noite passada.

Descobri há pouco tempo, lendo num livro de viagens do Antoine Bourdain, que o sushi e o sashimi não são exatamente considerados comida para os japoneses. São iguarias, sim, servidas antes da refeição principal. E é só o que nós, brasileiros, conhecemos e comemos. Para fazer um paralelo bem paulistano: seria como se nós fôssemos numa magnífica cantina e nos contentássemos em almoçar pão com sardella.

Munida desta nova indignação, e do meu caderninho com endereços valiosos de restaurantes na Liberdade - fornecidos pela Sheli, minha amiga japonesa com certificação de origem - resolvi ir ao Kaburá e encarar aquele cardápio com fotos de pratos desconhecidos.

Já tinha ido ao Kaburá uma vez, sentado no balcão e observado os sushimen gritando "Haaaaaaai" e "Iokonokosonokoioko" (ou algo semelhante) a cada cinco minutos enquanto cortavam os peixes e jogavam crustáceos gigantes na panela. Mas da primeira vez eu tomei saquê e comi - reconheço - o melhor sushi da minha vida. E foi só isto. A verdade é que eu tinha sido intimidada pelas 30 páginas do cardápio - só fotos.

Desta vez eu sabia que tínhamos que pedir sushi só de entrada (porque o sushi de lá é imperdível), mas era imperativo escolher um prato. Acabamos escolhendo uma espécie de loucura que eu nunca vou lembrar o nome, algo com nogu-nogu, ou chamu-chamu, e que era um festival de legumes, peixes e temperos aferventados numa panela, sobre a própria mesa e depois mergulhados num molho megapicante.

(era o príncípio de um sukiaki, mas no sukiaki vai carne, ovo, arroz, a panela é diferente e o molho é outro, então, bem, era diferente, ahaha.)

Saímos do lugar quase duas horas depois, passados. Um novo portal calórico se abrira para nós.

...
Muito além do sushi

Na Liberdade, a maioria dos restaurantes serve refeição japs, é só saber pedir. O Kaburá fica na rua Galvão Bueno, é uma portinha com cara de bar. De restaurante, tem o Takô, que tem uma refeição completa incrível (com um pudim de ovo memorável), na rua da Glória. E tem vários na Tomás Gonzaga, todos cujos nome e aparência desafiam minha memória: são portinhas de correr, uma ao lado da outra, e ninguém fala português direito, mas a comida é ótima.

Je ne regrette rien

Hoje foi a missa de 7º. dia do Francarlos Reis, na Igreja da Consolação.

Por algum motivo familiar que não pôde ser resolvido de jeito nenhum, o velório e o sepultamento do Fran foram em Campinas. Ou seja, quase nenhum amigo conseguiu se despedir dele direito, já que ele vivia em São Paulo há trocentos anos.

Na sexta feira passada fizemos uma espécie de cerimônia de despedida no Luna de Capri, o bar onde ele vivia. Alguns colegas de elenco foram e beberam o seu drinque favorito – a caipirinha de abacaxi com steinhegger – em sua homenagem. Seguiu-se uma salva de palmas. Quem foi ficou quase satisfeito.

Hoje foi o dia da classe artística inteira aparecer. Foi bem bonito. Foi emocionante e triste, também. Tem horas que a gente fica completamente perdido, vendo o colega rendido, chorando. Tive muita vontade de pular vários bancos e ir abraçar o Marcos Caruso, que parecia de papel, de tão triste que estava.

A missa foi celebrada com a participação dos artistas amigos. Etty Fraser leu algumas passagens bíblicas. Juca de Oliveira falou ao final (lindamente). Carlinha Cottini abriu a missa com a Valsa de Musetta, de La Bohème e cantou a Ave Maria, de Gounod. Saulo Javan cantou Somewhere, de West Side Story, na comunhão. Eu tive a honra incrível de encerrar a missa, cantando Non, Je Ne Regrette Rien, da Edith Piaf.

Foi um dia bonito, uma cerimônia importante. Acho que estamos bem. Com saudades, sim. Mas estamos resolvidos.

sábado, 11 de abril de 2009

luxo do século

Tempo é uma coisa muito luxenta.

O tempo é o tecido da vida, li em algum lugar. Adorei o conceito. Mas não refleti mais demoradamente, por pura pressa.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Francarlos Reis (1941-2009)

Francarlos Reis (1941-2009)

Foi embora hoje à noite, dormindo.

Estava num momento muito bom da carreira, fazendo sucesso com o Tio Max, na Noviça Rebelde, roubando a cena, para variar, e ganhando aplausos e gargalhadas em cena aberta.

Antes tinha feito uma peça de Edward Albee, da qual tinha se orgulhado muito - e obtido sucesso comercial, vejam só.

E antes ainda tinha posto a casa abaixo em My Fair Lady, no papel de Doolittle. Lá a gente contracenava numa cena pequenina, mas muito divertida. Ele era um ator generoso, que gostava de conhecer gente nova e jogar com a bola que estivesse disponível.

Fico com muita saudades, desde já. Lá na peça, a perda é irrecuperável. Para nós, que temos o privilégio de nos chamar de colegas e amigos do Francarlos, fica, além da saudade, o compromisso de honrar o palco, o jogo, a alegria de estar em cena, sempre.

Vai ser foda, Fran. Se cuida. Um beijo.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

teoria do caos

Hoje a Neide limpava meus livros, quando comentou: "Isso aqui está uma bagunça". Ao que eu respondi: "E você fez tudo isto sozinha!"

Atualmente, as obras completas de Shakespeare estão junto com o Dicionário Alemão - Português e o Guia Quatro Rodas Fim de Semana em São Paulo. Há um sistema. Deve haver algum tipo de associação (livros grossos? capa escura?).

Os Saramago foram desbaratados. Cheguei a achar que um maníaco tinha passado aqui em casa e levado meu Ano da Morte de Ricardo Reis. Nada. A Neide levou-o para passear na prateleira de biografias. Está do lado do Freud e do Billy Wilder. Vejam. Há um método.

Os livros de poesia foram anexados à prateleira de livros estrangeiros, na língua original (estaria a Neide querendo dizer algo? ). É sério. Ela misturou os meus guias de viagem com O Mundo É Plano, ahahaha. Finalmente, (que nada) ela empilha sem a menor cerimônia o que não consegue recolocar e deixa um livro sobre o outro, em colunas assimétricas. Não deixa de ser engraçado, quando eu não estou com vontade de matá-la.

- É por isto que o Dr. Marcel não deixa eu mexer nas coisas dele. - conclui a Neide, com o desplante de uma bananeira, enquanto termina de passar o pano na estante.