segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Across the Universe



Um dos mais belos filmes já feitos. Afirmo isto sem medo. Diante de um trabalho como este, o mínimo que eu posso fazer é ser destemperada.

Across the Universe é o terceiro filme da Julie Taymor (que realizou Titus (1999) e Frida (2002), além da legendária montagem d' O Rei Leão, na Broadway). O ponto de partida para a história são as canções dos Beatles. Personagens como Jude, Prudence, Lucy, Sadie, vivem os anos 60 e a cultura hippie, o movimento pacifista, os conflitos sociais, a guerra do Vietnã e a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos.

Claro, o paralelo histórico com a guerra no Iraque é incontornável, é um dos motivos pelos quais o filme é tão preciso e necessário hoje. Ao mesmo tempo, este é um filme atemporal, como são as músicas dos Beatles. As músicas soam novas, revolucionárias, perfeitas, fresquíssimas. As imagens são encantadoras.

A ousadia em contextualizar as canções é imensa e, ao mesmo tempo, esta é uma opção generosa de Julie Taymor, ao expor radicalmente sua visão e compartilhá-la conosco. Quando ela oferece uma visão tão nova, ela só está dizendo que isto é possível - muitas visões, muitas versões, muitas canções são possíveis.


Passou na Mostra. Se Deus quiser, faz muito sucesso nos Estados Unidos e volta ao circuito comercial (no Brasil) no ano que vem.

Mais TIM Festival

Não fui ver a Björk. É a primeira coisa que preciso esclarecer, sempre que falo que fui ao TIM Festival. Sabe, ainda tenho esta pretensão, ilusão, desvario, sei lá, de pagar um preço razoável e assistir um show da Björk sentada, nem que seja para levantar para dançar, mas como parte opcional do show (em SP, o ingresso convencional para o show da Björk custava 200 reais. Não precisei pensar muito para ficar com preguiça).

Então tá, dito isto, fui ontem no auditório do Ibirapuera, ver a edição de jazz do TIM Festival. Abriu com o noneto do Joe Lovano, que fez um puta show legal, com uma pegada muito forte, todo mundo se divertindo. Depois veio o Joey de Francesco (organista) com o Bobby Hutcherson (vibrafonista), acompanhados por uma guitarra e uma bateria. Foi um show lindo, muito doce - ainda que com dois longos solos de bateria num show que durou 45 minutos no máximo!

Aí chegou o Cecil Taylor. Foi engraçado. Ele prendeu um pandeiro dentro do piano e ficava batendo nas notas graves para a platinela soar enquanto ele tocava. Divertido. Só que já iam uns vinte minutos e a piada continuava a mesma. Quando ele levantou, tirou a platinela de dentro do piano e continuou fazendo escala pra cima e pra baixo, eu desci tomar um café.

Acabei a noite no karaokê da Liberdade, onde ia encontrar uns amigos. Lá, sim, a transgressão musical é para valer.

Mais TIM

domingo, 28 de outubro de 2007

E agora... O incrivelmente parcial boletim do Tim Festival!

O show da Kátia B. foi bem chato. Ouvi quatro músicas e fui tomar café no lounge.

O show da Cibelle foi divertidíssimo. Di-ver-ti-dís-si-mo.

A Cat Power é muito legal, tem uma voz linda e é muito bacana de assistir. Mas depois do décimo-segundo blues eu peguei um táxi e voltei pra casa. Até que eu fiquei bastante...

Hoje, se tudo correr bem, vou ver o Joe Lovano.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

sensacional boletim etc etc etc

Déficit
estréia de Gael Garcia Bernal na direção. México, 2007.

Vamos, vamos. Faça um esforço. A tentação é grande. Mas é quase como chutar um cachorro caído. Vá. Resista ao impulso de usar o nome do filme para falar na fragilidade do roteiro. Resista ao trocadilho com a falta de direção e com a fraqueza das imagens. Ora, vamos, a intenção era boa e o Gael é um fofo, e este é o seu primeiro esforço na realização cinematográfica (ele produziu o filme, além de dirigí-lo).

Olhe pelo lado bom: o filme é bem-intencionado, quer retratar ... arram... o quê, mesmo? ah, sim, a juventude estragadinha, as diferenças sociais no méxico, a alienação, as drogas, zzzzz... Não, olhe, olhe. O filme tem outro grande mérito: não dura nem 90 minutos. Quando você está pensando que poderia ter ficado tomando café no lounge da Mostra, ele acaba. Não é tão ruim assim, é?

E o Gael é um ótimo ator. Veja por este lado. Ele vai se convencer de que deve continuar atuando e que um roteiro auto-indulgente e preguiçoso dificilmente sai do papel como algo bom, a menos que o diretor seja incrivelmente esperto e bom com as imagens. Ou seja. Viva o ator Gael.

imperdível boletim totalmente parcial sobre a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, parte tres



O Amor nos Tempos do Cólera, de Mike Newell (Inglaterra, 2007)
tradução desastrada do romance de Gabriel Garcia Márquez para o cinema.


A escolha do elenco é exemplar (do que imaginam os produtores e o diretor e o roteirista - ingleses - a respeito da cultura latina). Javier Bardem (espanhol), Giovanna Mezzogiorno (italiana), Fernanda Montenegro (brasileira), Benjamin Bratt e John Leguizamo (porto-riquenhos), Catalina Sandino-Moreno (colombiana): todos latinos, certo?

Está tudo muito três tons acima, todo mundo grita, o sangue ferve, as mulheres rasgam a roupa e mostram os peitos a qualquer pretexto - febre, raiva, tristeza, paixão, alegria, you name it. John Leguizamo, que sempre é caricato, seja fazendo Spawn ou ER, parece um vilão egresso de Zorro. Só falta torcer a ponta do bigode enquanto dá uma risadinha como canto da boca. Pensando bem, acho que ele faz isto.


Os personagens são pobremente retratados, sem nenhum tipo de tentativa de verossimilhança ou de compreensão por parte dos atores. Ok, concessão para o Javier Bardem, que consegue dar uma dignidadezinha ao seu personagem.


Não é bom. Não é bom.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

cão sem mundo


O artista costa-riquenho Guillermo Habacuc Vargas participou de uma exposição na Nicarágua com uma instalação que consistia de um cachorro amarrado numa cordinha de nylon, presa à parede da galeria. Na parede oposta, escrita com ração, lia-se a frase Eres lo que lees. O cachorro, apanhado na rua, doente e subnutrido, morreu depois de um dia, sem comida, sem água e sem descanso, submetido à visitação pública.


Tentando entender: Habacuc, o autor/artista/cretino, afirma que “o importante para mim era a hipocrisia do povo: um animal torna-se o foco de atenção quando o ponho num lugar branco onde as pessoas vão ver arte, e não quando está na rua morto de fome. O cão está mais vivo do que nunca porque continua a dar que falar”.


(E o Rasklonikov matou a velhinha porque a julgava vil e inútil e o seu julgamento bastava. E porque sem piedade um homem vai mais longe...)

A situação, denunciada pelo El País e documentada em várias imagens, deu origem a uma petição online contra o seu autor que já reúne, perto de 100.000 assinaturas (eu assinei a n.91.762). A petição pede que o artista seja boicotado e "desindicado" para representar a Costa Rica nas próximas exposições internacionais.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Sensacional boletim incrivelmente parcial da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo - parte dois



(título em português: A Era da Inocência),

de Denys Arcand (Canadá, 2007)


Denys Arcand é um artista eloquënte, com inteligência narrativa, bom-gosto e precisão nas imagens, edição, luz, escolha de elenco. Mas a sua matéria-prima, o que o leva a usar estas ferramentas, é o texto e, mais profundamente, sua necessidade de compartilhar sua visão humana.


Novamente, como em seus filmes mais conhecidos (O Declínio do Império Americano e As Invasões Bárbaras), o cineasta se utiliza de um paralelo entre um momento histórico arquetípico, vamos dizer assim, e a sociedade atual. No caso, o período escolhido para a comparação é a Idade Média - a Idade das Trevas do título original - uma época marcada pela mistificação, pela intolerância e pela alienação.


Corta para a vida cotidiana de Jean-Marc, um sujeito culto, inteligente e, em sua juventude, promissor, que vive alienado de si mesmo, massacrado pela rotina do seu casamento, pela relação com as filhas, pelo trabalho como funcionário público. Sua válvula de escape são os delírios onde ele obtém reconhecimento, sucesso, sexo e, às vezes, simplesmente algum afeto.


A sociedade retratada por Arcand é igualmente delirante - e, infelizmente, muito familiar. A a intolerância desumaniza . A obsessão regulamentar por formulários, procedimentos, padrões politicamente corretos e mistificações new-age alienam. A palavra que o protagonista busca, ao final do filme, para resumir o momento em que vive é "desintegração".


Denys Arcand é um humanista (um "pós-socialista", vamos falar assim) profundamente ferido e desapontado com o rumo que tomou a sociedade ocidental. No entanto, sua crença nas relações humanas permeia o sabor amargo de seu filme. Não há vida na alienação. Se voltarmos a nos ouvir e nos enxergar, voltaremos a viver.

Boletim incrivelmente parcial da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, parte um:



The Jane Austen Book Club (O Clube de Leitura de Jane Austen):
filme independente norte-americano da linhagem de Tomates Verdes Fritos (feel-good-chick-flick)
Com um monte de atores que eu conheço da tevê a cabo (a pediatra do Grey's Anatomy, a patricinha do Lost, a amiga das Gilmore Girls, a mãe da mina do Six Feet Under, o irmão da patricinha do Lost, o cara do House and so on...), mais a Maria Bello e a Emily Blunt.

Um monte de mulheres mezzo-neuróticas, mezzo-descoladas resolvem se reunir para um grupo de leitura da obra de Jane Austen. A vida de cada uma delas tem relação com os romances que estão discutindo. Elas se transformam gradualmente, se aproximam e se entendem e se divertem! Os homens que orbitam a vida delas acabam revelando-se muito menos clichês do que se esperaria de um filme aparentemente feminista. É divertido. Na verdade, é muito legal.

E o melhor é que a sessão não tinha fila, porque Cinéfilo de Mostra só assiste comédia romântica americana se for por engano. Dava para escolher lugar no cinema!

Largada(s)



Depois de um tempo, largar fica menos complicado. Largar a mão dos pais ao atravessar a rua, largar a casa antiga, a família, largar a cidade natal, largar a cidade que não vingou e a que vingou - mas só por um tempo. Largar o projeto que não ia dar tão certo assim. Largar hábitos. Largar um trabalho.

Às vezes não há muita escolha neste largar. Ainda que o abandono implique numa perda, a partida irreversível é mais leve do que aquela que carrega consigo a dúvida: terei errado?

Largar é disponibilizar. Ter as mãos livres, novamente, criar espaço, desapegar. Largar é seguir em frente.

Não é fácil. Eu só disse que, depois de um tempo, é menos complicado.


Domingo passado, o espetáculo My Fair Lady encerrou sua temporada, depois de oito meses em cartaz. Me despedi dos colegas com quem dividi intimamente meu cotidiano - muitos ali, vindos de trabalhos anteriores, mais próximos e frequentes do que a maioria dos meus familiares. De hoje em diante, bifurcamos novamente nossos caminhos e seguimos em frente, acenando até a próxima curva.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Circular Interna

Assunto:Churrasco de Fim de Ano
Att: todos os funcionários

Queridos amigos e colegas!
Estamos chegando ao final de 2007! Como é de praxe, teremos uma festa de confraternização e o Sr. Geraldo ofereceu o sítio para um churrasco. Os colegas que foram à festa, em anos anteriores, vão lembrar que o local é realmente muito agradável e propício a um evento deste porte.

A Dona Aline, esposa do Sr. Geraldo, está muito satisfeita em receber novamente o pessoal da empresa. Ela só pede que não façam bagunça como da outra vez, que não joguem os restos da carne na piscina, que não escondam as latinhas de cerveja vazias entre as almofadas do sofá e que esperem para usar o banheiro um de cada vez. Para evitar aborrecimentos, ela pediu uma caução de 50 reais por pessoa, a ser entregue na porteira do sítio para o Seu Neto, e que será devolvida na saída, caso o convidado não tenha destruído nada. Ela concordou em abrir mão do processo de danos morais que movia contra a empresa desde 2001, contanto que o Dr. Nivaldo concorde em permanecer de bermuda durante toda a festa e que a empresa pague o acordo devido até a próxima sexta feira, anterior ao sábado do churrasco.

Para evitar que alguém deixe de ir, ou se perca, sugerimos uma caravana para sairmos juntos de São Paulo em direção ao sítio do Sr. Geraldo. Assim as caronas ficam organizadas e todos saem e chegam no mesmo horário. Atendendo a maioria dos pedidos, o horário da saída ficou às 7:00, para chegar logo e ir esquentando a grelha. Ainda que para alguns pareça cedo, é importante lembrar que a Dona Hortênsia pediu para voltar antes das cinco, por causa da artrite, e a Dona Mara, da Contabilidade, só pode ir se for para voltar antes da novela das 6, porque, como todos sabem, a filha dela está atuando e ela – a dona Mara - ainda não aprendeu a gravar no DVD.

O local da saída será o estacionamento do Bar Bicha, nos fundos da loja de móveis Cesco, em frente à praça Benedito Calixto, em Pinheiros. Para facilitar o encontro, pedimos que todos esperem fora dos carros, se não estiver chovendo. Ou ainda, podemos nos encontrar todos na própria praça, que é mais fácil de achar. Para os que não sabem chegar no estacionamento do Bar Bicha, haverá uma pré-caravana saindo às 6:30h do Centro Cultural, no Metrô Vergueiro, em direção à praça Benedito Calixto, em Pinheiros. Pedimos a todos para não haver atrasos e não questionar a organização da caravana, que foi cuidadosamente estudada pelo nosso departamento de logística. O Sr. Mathias, do Departamento de Logística, também avisa que oferecerá um desconto para os carros que ficarem no estacionamento do Bar Bicha, de propriedade do seu tio Jonas.

Este ano, a Dona Jussara não vai comprar a carne, pois alega que todo mundo só come lingüiça e coraçãozinho, reclama que não tem picanha e joga metade da alcatra fora assim que ela esfria. Ficou acertado, então, que cada um deve levar a carne que pretende comer. Quem levar frango não pode mudar de idéia, depois. O churrasqueiro será o Rafael (Mosquito), do setor de limpeza. O Sr.Giuca e o Sr. Leonardo farão a provisão do carvão e do álcool. O Sr.Giuca também ficou de buscar o Mosquito no Jardim Letícia, às cinco da manhã do sábado, mas este último já avisou que talvez ele venha direto do forró – e neste caso, não será preciso buscá-lo.

Finalmente, pedimos a compreensão de todos para o assunto da sobremesa. Uma vez que foi decidido que a sobremesa é opcional, solicitamos que aqueles que desejem trazê-la, que o façam de modo discreto e comam em local afastado. Não podemos esquecer do lamentável incidente do ano retrasado, quando o Sr. Miguel Jorge, hoje afastado dos nossos quadros, chamou a Dona Terezinha de “gorda esganada”, porque ela não ajudara a comprar o sorvete, argumentando que estava de dieta, e tinha comido tudo.

Contamos com a presença de todos. Estamos certos de que será um dia de grande alegria e festa! Sem mais, atenciosamente,

Joana Ribeiro
Comissão de Relações Públicas e Eventos

Anexo a esta circular, vai um mapa com as direções para o Sítio do Sr. Geraldo. Contamos com a ajuda do Dr. Roberto Mirto, do Jurídico, único que lembra exatamente onde é para pegar a faixa 4 da Dutra para a Fernão Dias e onde fica a alça para Mairiporã. Sugerimos a todos que fiquem com seus celulares ligados na estrada e evitem os trotes, pois o Sr. Elpídio teve sérios problemas familiares na última festa, quando foi parar em Belo Horizonte devido a uma indicação errônea.

sábado, 13 de outubro de 2007


Paulo Autran (1922-2007)

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

só pra entrar no assunto

Tropa de Elite, o filme, provoca a mesma discussão que o seriado da Fox, 24H: " Estamos em guerra, afinal?" E - respondida a primeira pergunta [afirmativamente] - Vale tudo numa guerra? As perdas civis - ou inocentes - são justificáveis? Que guerra é esta?

O filme marca um gol inquestionável quando co-responsabiliza a classe média pela manutenção do tráfico. Ainda que não seja nenhuma novidade, a história dos estudantes que mantém uma ONG na favela e fumam maconha (fornecida por traficantes) é exemplar. Comprometimento social e tática do avestruz realmente não coexistem de modo sustentável.

...

A direção de atores é primorosa. Caio Junqueira apresenta o seu melhor trabalho. Wagner Moura é assombroso.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Sensíveis

A primeira vez que vi uma porta com sensor de movimento, eu tinha seis anos. Minha mãe trabalhava no BADEP - uma sigla que hoje não decifro mais - e a entrada do prédio ostentava uma novíssima e intimidadora porta de vidro que abria sozinha à aproximação do visitante. Lembro que todas as vezes que ia com a minha mãe ao seu trabalho, ela tinha que passar comigo umas trinta vezes por aquela porta. E ela passava, conversava com a porta, tentava enganá-la, entrava no jogo talvez até mais do que eu. Divertidíssimo.

Nos Estados Unidos, já adulta, travei contato com as descargas sensorizadas. Descargas de banheiro. Assim que a água da privada atinge um certo nível, ela dispara. O que provoca alguns sustos - mesmo em quem já sabe que isto pode acontecer, mas que está ali sentadinho, pensando na vida.

Em alguns barzinhos e boates, aqui em São Paulo, mesmo, a luz do banheiro acende assim que você entra. Ótimo se você estiver bêbado. Mas se você se agacha muito e/ou cai, a luz volta a apagar, o que é péssimo, se você estiver bêbado. Uma vez eu estava nesta situação - no banheiro, bêbada e muito agachada - e a luz apagou. Gritei "ei!" e a luz acendeu, o que me fez deduzir,bebadamente, que talvez o sensor fosse sonoro. Fiquei assobiando dentro da casinha para manter a luz acesa. Mico, mico, mico.

Hoje, num café dos Jardins, conheci uma lixeira com sensor de movimento. É só chegar meio perto dela que a tampa abre. Pois fiquei argumentando com a tampa, tentando enganá-la e testando a sua rapidez em engolir bolinhas de papel. Lembrei de novo da porta do BADEP, da minha mãe e dos meus seis, sete anos de idade.

Dois cafés com conhaque deixam a gente muito sensível.

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Treze anos depois da primeira crise, começo a considerar a perspectiva de ter enxaqueca para sempre. Não é uma boa perspectiva. Mas sinto um tipo de alívio na resignação.

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Segunda feira fui ao Centro. Fazia um ano que eu não passeava de verdade no Centro. Fui clássica: Cracolândia (rua Mauá e arredores, que melhoraram muito, por sinal), Senador Queiroz, Mercado Municipal e Rua 25 de Março. Puta passeio legal. Comi um pastel no mercado, com um abacaxi de sobremesa.

Só dá para encarar a 25 com MUITO bom humor - o que era o caso, depois de um pastel seguido de abacaxi. A 25 é indescritível, pode ser exasperante e assustadora, mas é a coisa mais parecida com um caldeirão de gente que eu conheço. As dez músicas diferentes que tocam ao mesmo tempo no mesmo espaço de dez metros quadrados, os carros e as pessoas que ocupam o mesmo lugar na rua, os ambulantes que não só abordam, mas pegam, puxam, seduzem, riem, cantam e jogam coisas na sua direção. Fui massageada (sim! e por duas pessoas diferentes!) enquanto andava, negociei preço de coisas que não comprei. Por fim, nos últimos vinte metros, tive que me livrar do bom humor e sair empurrando as pessoas com os cotovelos, para conseguir chegar na porta do metrô São Bento.

Puta passeio legal. A gente se sente milionário na 25.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Dieta da Carochinha




Tomo café da manhã de princesinha.
Almoço feito rainha.
Janto como um ogro.