segunda-feira, 14 de abril de 2008

um dia, um gato

foto de Felipe Fontoura

domingo, 13 de abril de 2008

sim, impaciente

Portaria de condomínio. Domingo à noite.
- Pois não?
- Oi, boa noite. Eu vou no 81 E
- Seu nome?
- Ana.
- Como?
- ANA.
- Só um momento. (toca o interfone)Está aqui a senhora... como é o seu nome mesmo?
- Deusleyde.
- Pode subir.

Rosineide de domingo

Istayla, 10 anos, é irmã de Islayder, de 8. Ela adorou que agora no novo Shopping Pompéia tem a loja da Starbucks: "é o único café que eu tomo!", afirma.

A mãe dos meninos, Rosineide, é bonita, falante e engraçada. Trabalha viajando, como vendedora, e ainda é bem jovem, não aparenta trinta anos. Veio do interior do Paraná e casou aqui, com um moço do interior de São Paulo.

"Ele queria morar em Franca. Deus me livre. Que aqui é tudo mais caro, mas o povo é muito mais inteligente."

Rose está no banheiro do shopping, conversando a esmo, enquanto os filhos aguardam. Ela continua:

"No Rio, por exemplo, todo mundo é muito mais quente. Mas conversa, conversa, e ninguém quer saber de comprar nada. Aqui já chega, quer saber quanto é, pronto. Pão, pão. Não enrola. Lá tem muita gente ruim. Mas também tem gente boa."

"Agora, Campinas, por exemplo. Eu tenho que reconhecer. Por ser a capital do homossexualismo, o povo é todo muito mais aberto!"

segunda-feira, 7 de abril de 2008

O Afeto Anglo-Saxão

Há uns dois dias atrás chegou aqui em casa um cartão muito bonito, simples e elegante, com uma folha (de árvore) colada. Era de uma amiga recente, que conheci em Nova York. Uma senhora da Virgínia, muito anglo-saxã, de uma delicadeza e distinção toda dela.

Eis o que ela me escreveu:

"A primavera primaveresce nesta parte do mundo. A primavera chega antes no sudeste da Virgínia do que em Nova York ou mesmo do que no norte da Virgínia. Montes de forsítias, camélias, azaléias, narcisos. Tulipas não crescem bem aqui porque raramente faz tanto frio. Hortensias estão florescendo. E as árvores floridas incluem a olaia, o corniso, a cerejeira, a macã silvestre e uma variedade de magnólia. Existem nogueiras no Brasil? É uma árvore tão bonita no outono. (...) Espero que você esteja bem."*

De repente, sinto-me tão elegante, também. **

*"Spring is springing in this part of the world. Southwestern Virginia has spring earlier than New York or even northern Virginia. Lots of forsythia, camellias, azaleas, daffodils. Tulips do not do well here because it is rarely cold enough. Hydrangea are coming into bloom. And the flowering trees include red bud; dogwood, cherry, crabapple and a variety of magnolia. Are there gingkos in Brazil? It is such a lovely tree in the autumn.
(...) Hope you're well. Look forward to hearing from you again"


** O texto é lindo em ambas as línguas! Eu adoro o som de "olaia, corniso e cerejeira".

sexta-feira, 4 de abril de 2008

tchubaruba

Ela é fofa! Ela é uma coisa! Ela é divertida e talentosa! Estou falando da Mallu Magalhães*.

A tal da tchubaruba é infecciosa, como diriam os americanos. Melodia catchy, refrão fofo, espertíssimo. E a guria canta deliciosamente.

Ela é smooth como a Feist, tão gostosa de ouvir como Cat Power ou Eddie Brickel. E o som já está no mesmo nível. Quando eu tinha a idade dela, eu mataria sem piedade para tocar, cantar e compor deste jeito. Aliás, muitos nunca conseguiram. A menina realmente chegou queimando etapas.

Que ninguém confunda a celebridade instantânea dos que ficam seminus e se xingam publicamente no horário nobre da tevê com o reconhecimento que esta menina adquiriu aos quinze anos de idade.

*Ah, tá, eu sei, você nunca ouviu falar nesta pessoa. Por onde você andou nos últimos dez minutos?

Show de Céu



Veja bem.. Não é nada pessoal... É que eu abri a UOL e vi a manchete: Show de Céu. Cliquei, imaginando que veria uma linda foto de um por do sol (coisa mais pós-modernista, pré-apocalíptica, procurar um por do sol dentro do computador...) E dei de cara com a linda cantora Céu, com suas pulseiras coloridas e seus cachinhos e seu vestido verde. Então eu postei um céu aqui, para o caso de alguém mais querer olhar para um por do sol.



p.s.: a ilustração é do Millôr
p.s.2: já estão valendo as novas regras ortográficas para "por do sol"? Sinto-me uma bárbara. Pôr-do-sol. Pronto. Pronto.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

quarta-feira, 2 de abril de 2008

As Três Irmãs

Tenho pensado na peça As Três Irmãs, de Tchecov. Para ser honesta, tenho pensado nela obsessivamente. A idéia, a lembrança desta peça ressurgiu como uma cantilena, há alguns dias atrás, e não abandona a minha mente desde então.

O enredo fala das irmãs Irina, Masha e Olga, que moram numa cidade do interior da Rússia, mas que sonham viver em Moscou - e tentam fazê-lo através de amizades, casamentos, alianças sociais promovidas entre os homens da família. Imagine, carreira profissional era uma coisa um pouco mais difícil para mulheres da alta sociedade no início do século XX. Ao final, uma intrusa, Natasha – uma garota de origem social e cultural inferior – atrapalha os seus planos. É bem simples, na verdade. O genial, o comovente, é a narrativa.

Pois é a narrativa que está me acompanhando ao fechar e ao abrir os olhos.

No primeiro ato, as três irmãs estão recebendo convidados, num salão da sua casa, em sua grande propriedade. O segundo ato é dentro de um quarto, na mesma casa. As três estão fechadas, confinadas ali dentro. O terceiro ato passa-se no jardim da mansão. Elas foram expelidas – fisicamente, ainda que não tenham sido expulsas de verdade – da própria casa. A locação das cenas dá a dimensão e a evolução das personagens.*

Penso neste movimento dramático: nas três irmãs que vivem na grande casa iluminada, na música, os risos, depois as luzes se apagando, o espaço diminuindo, o confinamento, até a expulsão final - do próprio sonho, da própria vida.

*Quem primeiro me apontou este virtuosismo narrativo foi o Márcio Mattana, estudioso sério, professor de direção da FAAP e, graças ao bom Deus, um grande amigo. Ele me disse (mais ou menos o seguinte, pois já faz muito tempo): “em Tchecov, a cenografia faz metade do trabalho da direção.”