sexta-feira, 31 de outubro de 2008

auto-ajuda-lhes

Um achado de Gilson Camargo


Terminei de ler Comer Rezar Amar. Devo ser a 4.895.796a. na conta da editora (comprei o livro).

Os portugueses não usam o termo "Auto-ajuda" para este tipo de livro, pois acreditam que ele serve para aconselhar outra pessoa. Chamam-no simplesmente de livro de "Ajuda". É uma constatação, senão óbvia, reveladora.

Estendendo este raciocínio, as viagens que a autora narra são, cada uma em sua medida, inspiradoras. Me envolvi mais com os episódios italianos, onde a observação da vida local e dos costumes dá o tom. Nos episódios seguintes, na Índia e Indonésia, creio que a autora foi por vezes bem-sucedida em manter uma narrativa emocionada, e rasa, muitas vezes, no anseio (genuíno) de explicar culturalmente povos muito mais complexos do que poderíamos querer. Creio que se ela apenas contasse como eles se comportam, sem tentar dar um motivo ou justificar seus atos, o livro todo ficaria mais interessante.

Em alguns momentos, quando o assunto toca as práticas espirituais, bem, eu não sei, pode ser um tipo de puritanismo meu, mas eu acho tão difícil escrever (bem) sobre sexo quanto descrever (bem) práticas espirituais. Acho que ela sabe disto, mas isto não a livra de nenhum clichê.

De todo o modo, é uma leitura divertida, pois a autora é muito bem-humorada. E, sim, muitas vezes é um livro inspirador.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

deeply drowsy

Um amigo meu, bailarino, que está cursando Faculdade Paulista de Artes (Cênicas), me pediu para supervisionar o trabalho do seu grupo na montagem de fim de ano. É uma cena de Brecht e eles querem encenar um trecho da Ópera dos Três Vinténs. Estou completamente honrada. E feliz. Vou ter com quem ouvir meus cinquenta discos de Kurt Weill e comparar as gravações e ainda vão me achar legal por isto!

Hoje foi nosso primeiro encontro e nós fizemos uma coisa da qual eu tinha uma vaga recordação: trabalho de mesa e investigação do texto. Discutimos motivos, razões intrínsecas, possibilidades, alternativas, hipóteses, discutimos e comparamos as traduções. Por fim, decidi que eles iriam cantar uma terceira versão, que eles mesmo escreveriam até o nosso próximo encontro. Eles saíram felicíssimos e eu fiquei. Leve e animada. Bom, né?

...

Aí - feliz que estava - peguei o resto da tarde e fiquei ouvindo musicais, com o volume no talo. Escutei Curtains e The Drowsy Chaperone, dois dos mais divertidos, da safra recente.

Aliás, gostaria de reparar uma não-menção indesculpável: em agosto, aconteceu em São Paulo uma encenação não-profissional de The Drowsy Chaperone, promovida pela escola Pulsarte, dirigida pela Olívia Mesquita e pelo Guilherme Terra. Foi uma dos trabalhos mais incríveis e felizes que eu já vi acontecer: os alunos estavam cantando, dançando e atuando; sobretudo, estavam se divertindo muito e oferecendo à platéia uma noite deliciosa. E a cerejinha foi a tradução que encontraram para The Drowsy Chaperone: A Acompanhante Lesada.

...

E não fui ao cinema.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

ai que feio - diário da mostra, parte chata

Dei piti no estande da Mostra, hoje. Não consegui ficar elegante, não teve jeito. Aqui é bom explicar que a Mostra funciona da seguinte maneira: quem compra a credencial tem o direito de adquirir ingressos antecipados, para os próximos quatro dias de exibição. Nunca para o mesmo dia. Os ingressos para o mesmo dia são vendidos para o público, vai, diletante. Ou seja, quem quiser ver só um filme tenta comprar no próprio dia.

Entendo que tenha que existir, portanto, uma reserva de ingressos para este público de última hora. Mas fui trocar meus ingressos hoje - um dia antes - e não tinha mais nada!!! Tentei cinco filmes diferentes. Tudo esgotado. Até aí eu estava calma e conformada. Só que o guri de 16 anos que atendia no estande resolveu me aconselhar: "Você pode tentar comprar pela internet".

"Hein? Paguei uma grana para ter uma credencial e adquirir os ingressos antecipados nessa droga de guichê, você quer que eu pague de novo pela internet?!"

Aí veio uma menina (mais madura, devia ter uns 17 anos e meio) me atender e me explicou que era assim mesmo. Ah, bom! Agora eu entendi. Eu olhei para a cara deles todos e eles não podiam estar mais indiferentes. Falei:

- Eu só desejo que vocês passem por isto. E que alguém diga que é para vocês chegarem mais cedo e tentarem comprar com um cambista.

E saí, já arrependida. Paciência.


P.S.: No fim, consegui ingressos para dois filmes obscuros, amanhã. Será que os verei? Depois eu conto.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

ainda na retina

Porque um clássico é um clássico: Conrad Veidt e Olga Baclanova em cena de O Homem que Ri

diário da mostra - etc

L'Homme Qui Rit/The Man Who Laughs (O Homem que Ri)
de Paul Leni

Filme de 1928, baseado na novela (terrível) de Victor Hugo sobre uma criancinha herdeira de um nobre que é arrancada de seu pai pelo rei James II e entregue para malvados "comprachicos" (compradores de crianças) que cortam sua boca e a deixam deformada para sempre, com o aspecto de quem está rindo. A criança é abandonada na neve e ainda por cima encontra um bebê - cego - nos braços de uma mãe morta congelada. Com o bebê no colo, a criança deformada vaga pelo vale dos enforcados, buscando ajuda - que finalmente encontra na casa do filósofo Ursus. Então esta criança cresce e vira uma aberração de feira, um palhaço que nunca consegue deixar de rir. Alguém aí falou em Os Miseráveis? Pois é.

A história vai longe, com novas reviravoltas e revelações ao longo da trama. E o filme é apavorante. Mas muito bom. Conrad Veidt é assombroso e, definitivamente, deu origem a todos os Coringas que surgiram, os bons e os maus. Mary Philbin faz o papel de mulher-anjo e a Olga Baclanova é simplesmente a Madonna! Gente, chegou uma hora que eu desisti de brigar com o meu cérebro e passei a acreditar que a Madonna estava ali num filme de 1928, num papel, inclusive, perfeito para ela: o de nobre devassa e fatal.

O sensacional mesmo foi o privilégio de assistí-lo com uma trilha sonora original (!) executada ao vivo pelo Octuor de France. Isto eu nunca tinha experimentado antes.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Diário da Mostra - 4

Be Kind, Rewind (Rebobine, por favor)
de Michel Gondry

Ou: Dois caras muito loucos aprontando as maiores confusões!

A história é a segunte: Mike (Mos Def) é um carinha que trabalha numa videolocadora (que só aluga VHS) num prédio condenado, numa cidadezinha do interior de Nova Jersey. Um dia, o seu patrão (Danny Glover) precisa se ausentar e deixa a videolocadora aos seus cuidados. Neste período, o seu amigo, Jerry (Jack Black), sofre um esdrúxulo acidente eletromagnético e, ao entrar na locadora, apaga o conteúdo de todas as fitas!

Para se safar, os dois resolvem refazer todos filmes existentes na locadora, refilmando tudo da forma mais tosca, criativa e delirante, no menor tempo possível, e tendo como roteiro as contracapas dos VHS. Assim, eles refilmam desde Ghostbusters até 2001, passando pelo Rei Leão e Driving Miss Daisy. Os filmes acabam sendo um sucesso local e a comunidade se envolve e passa a atuar nos remakes.

Com uma história destas, dá para um filme ser ruim? Então. Não é, mesmo.
E sendo do Michel Gondry, ainda escapa poesia pelos interstícios.

Com Mia Farrow e Melonie Diaz.



diario da mostra - parte três

Palermo Shooting (esta é difícil: pode ser Fotos em Palermo)
de Wim Wenders

Filme bonito e chaaaaaaaato, com elenco putumayo*. Faz Asas do Desejo parecer Guerra nas Estrelas. A diversão possível é encontrar traduções alternativas para o título do filme, enquanto o tempo não passa: Tiros no palerma. O palerma chuta. O chute do palerma. And so on.

Duas horas e dez minutos depois, quem se sentiu meio palerma fui eu. Mas, como diria outro palerma célebre, faz parte.



* multi-étnico e globalizado

terça-feira, 21 de outubro de 2008

diario da Mostra - parte dois

El Nido Vacío (Ninho Vazio)
de Daniel Burman

E vou falar sem medo que já vi o filme mais bonito da Mostra. Generalizando, os argentinos são mesmo mestres nas delicadas relações familiares - vide O Abraço Partido, O Filho da Noiva, As Leis de Familia, e estou esquecendo alguns bons, tenho certeza.

Este filme conta a história de um casal de meia idade, ele, um escritor consagrado e ela, sua companheira fiel, que parece ter abrido mão de uma carreira para apoiá-lo e criar uma família de três filhos adolescentes. O roteiro é uma jóia que se revela cada vez mais brilhante a medida que o filme se desenvolve. Deslumbrante.

Com Oscar Martinez e Cecilia Roth.


Rachel Getting Married (O Casamento de Rachel)
de Jonathan Demme

Estava na hora do primeiro filme chato aparecer. Este é um caso interessante: um filme que padece do mesmo mal do seu protagonista - narcisismo e autocomplacência. A protagonista em questão é uma garota chamada Kym (a irmã da Rachel), viciada em drogas e recém saída de um período numa clínica de reabilitação, direto para uma longa e penosa reunião familiar (o tal casamento do título). A história poderia ser muito boa e o filme conta com excelentes - excelentes! - atores. Aliás, eu só não saí no meio por causa deles. Mas a edição do filme é a coisa mais barriguda, flácida e preguiçosa que eu já vi nos últimos anos. O que me irrita muito, porque não precisava reescrever tudo, tinha um filme muito melhor ali dentro, era só editar decentemente.

O que não significa que sairia um filme espetacular, porque o roteiro também não vai fundo e fica na autocomplacência. Ah, e a trilha parece um disco interminável da Putumayo Records, só que num mau dia. Enfim. Não recomendo.

Com Anne Hathaway, Debra Winger e Bill Irwin.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

a sensacional maratona cinematográfica está de volta!

Eba. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Compro meu passezinho, tiro minha fotinha no cyber-lambe-lambe, faço minha credencial e, com ela no pescoço, vou feliz enfiar-me nas salas escuras da cidade em busca de uma história que nunca ouvi antes; ou da mesma história, contada de um outro modo; ou apenas de um novo filme estrelado pelo George Clooney.

Segue o meu diário:

Burn After Reading (Queime Depois de Ler)
de Joel e Ethan Cohen

Comédia de erros (de espionagem) estrelada por - estão prontos? Segurem-se - George Clooney (aiai..), John Malkowich, Tilda Swinton, Frances MacDormand, Richard Jenkins (o patriarca falecido de Six Feet Under) e Brad Pitt. Trama impossível de resumir, com reviravoltas a cada cinco minutos, e os melhores atores possíveis em sua melhor forma.

Da categoria engraçado pacas.

Three Days of Rain (Três Dias de Chuva)
de Michael Meredith

Filme de ensemble [ou filme-coral, como preferem os franceses*...] inspirado em contos de Anton Checov, mas ambientado em Cleveland, Ohio, num contexto contemporâneo. Muito bem filmado em 35mm, fotografia linda, com elenco de bons atores de teatro norte-americano. Entre rostos (e nomes) mais conhecidos, Peter Falk - e Blythe Danner (a mãe de Gwynelth Paltrow) fazendo uma pontinha boa.

Tive duas grandes sortes. Uma: sou fã de literatura russa. Não sabia sobre o que era o filme - na Mostra, venho com poucas referências; costumo entrar numa sala apostando no palpite que o título me sugere. Porém, fui identificando a semelhança de algumas histórias com aquelas que eu tinha na memória, até perceber que o filme era uma (boa) adaptação de contos de Checov!

A outra grande sorte foi que o filme foi apresentado por ninguém menos do que o Wim Wenders! Em pessoa. Antes da sessão começar, sem nenhum aviso, o Leon Cakoff veio e falou:"Olha, tenho uma surpresa, o Wim Wenders, que é o produtor deste filme, está aqui e gostaria de dizer algumas palavras". Aí o sujeito cabeludo do lado dele pegou o microfone e disse:"Oi, eu sou o Wim Wenders. Tudo bem?"

Ele disse, claro, mais um monte de coisas. Contou do processo do filme, de como conheceu o diretor, de como o Peter Falk é legal, etc, etc, mas enquanto ele falava eu estava pensando: "êêêê! Aquele ali é o Wim Wenders!"


Amanhã tem mais!

*estou très cahiers du cinéma...

descobertas

Sábado à tarde, fomos à Eureka, uma Feira de Ciências da Faculdade Mauá de Engenharia. Na verdade, é uma feira de soluções. São uns sei lá quantos formandos com virtualmente centenas de propostas para o mundo - desde um novo refrigerante ou um cream cheese enriquecido com lactobacilos vivos e anti-radicais livres (!!!) até uma nova proposta de captação de recursos de crédito de carbono, passando por mãos biônicas, carrinhos omnidirecionais e outros efeitos especiais.

Foi o programa mais nerd dos ultimos tempos, batendo até a Hi-Fi Fair, do mês passado, no Anhembi, mas eu achei excelente! Inclusive por ver que - mesmo que seja como trabalho de conclusão de curso - existem pessoas concentradas em encontrar soluções criativa em todas as áreas.

E na volta, quebrei um megapau com o Marcel, discutindo o funcionamento do carrinho omnidirecional. Ai ai. A gente chega a ser ridículo...

...

À noite, fomos no show do Ed Motta no SESC Vila Mariana e foi uma loucura!!! Putz, o melhor show do Ed Motta que eu já assisti! Era um show de lançamento do disco novo - Chapter 9 - e comemorativo de 20 anos de carreira. Então, como o proprio Ed disse, não ficou faltando nadinha. Ele tocou todos os hits e mais as músicas do disco novo. O show teve mais de duas horas, facinho, e podia ter três que seria melhor ainda.

Na banda do Ed, estão os irmãos Leandro e Vitor Cabral, pianista e baterista, respectivamente, com quem tive o prazer de tocar no Upstairs Lounge, no Hyatt Hotel. Mas no palco do SESC eles podem tocar bem mais alto. E os vôos musicais, vou te contar...



A prova: eu, com meia banda do Ed Motta, ehehe. No Upstairs Lounge, em São Paulo.

talibã em santo andré

Eu nem sei o nome do garoto. Não preciso conhecê-lo melhor para desprezá-lo profundamente. Lamento a minha incapacidade de expressar de forma clara e eloqüente a revolta brutal que senti ao conhecer a história estúpida do menino que, depois de terminar com a namorada, mudou de idéia e quis voltar atrás; ela não aceitou. Ele então seqüestrou-a, junto com seus colegas de classe, torturou-a, comandou um circo na televisão (onde mais?), e, por fim, atirou em sua cabeça e em seu sexo.

Fala-se agora na incompetência policial, que não coordenou a contento as negociações do seqüestro, tampouco a operação de resgate dos reféns. Tudo verdade, mas eu não tenho nada a acrescentar a esta discussão, nem tenho uma indignação nova sobre isto. Meu estarrecimento é perceber num menino de vinte anos de Santo André, São Paulo, um machismo talibã, que o leva a se sentir no direito de dispor do sexo e da vida da sua parceira, bem como a se sentir um heroizinho, exibindo a camisa do clube de futebol (puxa, que surpresa) na televisão (nossa..!).

Muitos de nós já conhecemos o sentimento de paixão, descontrole e perda. Intuo, porém, que sentimento motriz desta tragédia foi mesmo a vaidade: o circo foi tomando proporções maiores, o espetáculo foi aumentando e, pelo jeito, exigiu um final mais grandioso.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

recife

na praia de Boa Viagem, com uma espinha no nariz
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Tiramissu

Peço perdão, de antemão, se esta historinha vier a chocar os meus leitores mais bem-educados. A idéia não é esta. Fazer o quê, se eu viajo com sete homens?

Aquele jantarzinho básico à uma da manhã, após o show. Desta vez tivemos a manha de deixar o pedido previamente anotado no restaurante do hotel. Com o salão aberto exclusivamente para nós, chegamos, sentamos e comemos – em oito. Dois garçons muito eficientes vão e vêm, trazendo mais comida ou oferecendo outro prato. Finalmente, a sobremesa. Como vamos acordar às cinco e meia no dia seguinte, um colega desencana e vai dormir. Abro mão da sobremesa, também, já triste de ter comido tanto, tão tarde. Os outros meninos escolhem dois tiramissus, três crepes, e uma pêra ao vinho.

Chegam as sobremesas e descobre-se que quem pediu o tiramissu se deu bem, pois é o doce mais sensacional do restaurante. Os outros começam a resmungar e o garçom sugere – olha que fofo – trazer dois tiramissus a mais, já que dois de nós não comeram a refeição completa a que o voucher dava direito. Beleza. Sugestão aceita, os tiramissus extra são prontamente trazidos para a mesa e estrategicamente distribuídos entre os comensais, que se lançam com colheres sobre os pratinhos, com alegre fúria.

- Porra! – exalta-se X – Mas que merda! Eu não comi e vou ficar sem!
- Ah, pega aí – dizem os outros, despreocupados, enquanto continuam a comer coletivamente.
- Eu quero um pratinho pra mim! – explica X.
- Xi, meu. Aí não vai dar... – todos riem.
- Porra, então enfia este doce no cu.

Todos param de comer e largam as colheres. É melhor não piorar as coisas. Y estende o que sobrou do doce no pratinho:

- Toma, vai, fica com este aqui - ele diz, para X.
- Já falei – retruca X, irredutível – Enfia no cu.

Ninguém mais toca no pratinho de doce. Pedimos um café. O assunto desvia para o Carnaval de Recife, a bateria da Mangueira, a nova estratégia política da Marta, até que X estende o braço para alcançar o tiramissu esquecido. Y dá-lhe um tapão:

- Opa! Este aqui é meu! Guardei para enfiar no cu mais tarde!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

curitiba em sociedade

n'A Venda

Fui a Curitiba no fim de semana. Ainda voto lá, o que acaba sendo interessante, pois sempre encontro os amigos que também voltam para votar. Encontrei meus colegas da primeira faculdade (fiz duas: a primeira foi a mais divertida, Artes Cênicas, mas foi a que larguei no meio para trabalhar; me formei em Música, dez anos depois) cada um com uma história melhor para contar. Alguns eu não via há muito tempo, alguns tinham ido para o Rio, outros para a Alemanha, França, outros tinham ficado em Curitiba; tinha os que eu via às vezes, que também trabalhavam em São Paulo e que estavam por lá para votar... Tinha os que haviam voltado para casa, porque a cidade uma hora chama de volta.

Lelê, Anna e Chiris n'A Venda

Não combinamos o reencontro, mas uma amiga muito querida, a Chiris Gomes - que atuou em São Paulo por 15 anos, até uns três meses atrás - abriu uma vendinha em sociedade com outra atriz querida, a Cris Macedo, perto do Bosque do Papa. O boteco virou um ponto de encontro de artistas curitibanos. Então, no sábado, quando cheguei, minha amiga Letícia, que também estava na cidade visitando a família, foi me buscar no aeroporto e na sequência já carregou todo mundo - sua filha Clarinha, seus pais, minha mãe e eu - para A Venda.

Su & Paulinho

Lá, ela comandou um tipo de convocação, chamando os conhecidos pelo celular. Foram chegando amigos que eu não via há muito tempo, sentando na mesa, a conversa já continuava de um ponto onde tinha parado anos antes, tudo muito fácil. Meu irmão passou por lá, deu oi, avisou que ia na casa de um amigo jogar playstation e vazou. Paulinho Sabbag e sua dileta Su Bettega apareceram, gostaram e ficaram. Enquanto isto, Chiris articulava os planos de uma nova comunidade artística, e eu já avisei que participaria. Ao lado, minha mãe, Clarinha e os pais da Lelê jogavam Stop a noite toda.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

transcendências

Numa aula, ontem, falei sobre o poder transcedental da música - da arte, de um modo geral - usando como exemplo aquele brevíssimo momento em que o artista/a obra/a performance nos toca indelevevelmente e pronto. A percepção mudou. O curso foi alterado.

O artista busca a transcendência no seu ofício. Pequena que seja - diariamente, semanalmente - uma revelaçãozinha, um "oh!", um frescor na própria arte, na mensagem transmitida.

O público também espera do artista uma revelação, por contraditório que isto seja. Afinal, o público costuma resistir ao desconhecido, gosta das mesmas histórias, e isto se aplica à música, também: todo mundo prefere ouvir músicas que já conhece, por exemplo. Mas estou divagando.

Pois hoje tive a minha experiência transcendental, assistindo o pianista Leif Ove Andsnes, na Sala São Paulo. No programa, duas sonatas - Schubert e Beethoven - e a peça Quadros de uma Exposição, de Mussorgsky. Tudo sem partitura, uma performance linda, viva. A música muito viva, urgente. Esta sensação da impermanência, do momento tão precioso da criação única, do privilégio de estar ali naquele momento.

...

E antes que eu me esqueça: Shaná Tová Umetuka.