sábado, 27 de dezembro de 2008

hai-cat

tudo é paz e tudo é calmo
e ainda assim



a surpresa é doce

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

mega-canseira

O show da Madonna é ótimo.

Dito isto, quero dizer que saí de lá mais cansada do que qualquer outra coisa - energizada, inspirada, o que pudesse ser. Por quê? Bão, ao que parece, ainda tivemos sorte, pois fomos num esquema bacana, com van do patrocinador levando e buscando, e ficamos na pista - que todo mundo diz que é o melhor lugar. Mas é um Mega-Stress.

A magnífica - e não estou sendo irônica, eu amo esta cidade - cidade de São Paulo não tem uma boa estrutura de transporte público para suportar eventos de grande porte. Quando tem qualquer show gigante, seja no parque do Ibirapuera, seja no Estádio do Morumbi, fica todo mundo dependendo de carro - e de estacionamento, manobreiro, flanelinha, os predadores usuais.

O Estádio do Morumbi, pra quem não é de São Paulo, fica longe. De tudo. Só fica perto mesmo é de quem mora no Morumbi (em geral, os paulistanos que andam de helicóptero)e de algumas favelas da Zona Sul. Tem um rio no meio do caminho. Não dá pra ir de outro jeito, só de carro, mesmo. Imagina o trânsito.

Chegamos no estádio às oito da noite, uma hora boa. Mas a Madonna resolveu atrasar o show duas horas e meia (dizem que foi porque choveu muito e o palco precisava secar) e só entrou às dez e meia. Nesta altura eu já estava com o saco na lua de ficar em pé e levar fumaça na cara. Parece que todo mundo resolveu fumar pra esperar a Madonna e não adiantava nada eu estar num espaço aberto.

Aí o show rolou - e o show é ÓTIMO. Tudo de bom, ela está linda, dançando o tempo todo, a produção é amazing, os backings são maravilhosos, tudo é muito legal. Mas aí tem o stress de neguinho me empurrando ou se imiscuindo na minha frente e eu tendo que apelar pro meu marido grande. Ai que saco. Quando o show acabou eu já estava perto do portão. Louca pra sair. Nada contra a Madonna. Mas aquela empurração me deu no saco.

Nem adianta vir com aquele papo de que "estou muito velha", que não cola. Estou é bem acostumada. Ou vou de metrô e assisto sentada na grama (ou na arquibancada, vá lá), ou compro o dvd.


P.S.: O Marcel, liberado do volante e do alto de seus 1,87, a-do-rou o show, sem reservas.

sábado, 20 de dezembro de 2008

My Favorite Things




clique e curta
boas festas
anna toledo

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

a minha amiga toma-me pela mão



Sem dormir a noite inteira. Nem esforço fiz. Quando o dia amanheceu, era óbvio. Mas eu estava triste.

"Ninguém morreu", eu me dizia, negociando a desproporção da minha tristeza com os fatos. "Um sonho", pensei. Uma ilusão que nutri, e não vingou. Mas tenho mais coisas pra fazer. O novo dia nasceu com coisas pra fazer. Um novo teste, em Moema. Maquiei-me, fiz o cabelo, vesti a blusinha sóbria, tomei um café quente e amargo. Cheguei no ponto de ônibus em cima da hora. O ônibus passou por mim sem parar.

Subiu o nó na minha garganta.

Bateu um medo enorme, ou uma solidão, ou um não-sei-o-quê. Um ônibus tinha me ignorado! Aí era demais. Liguei pra minha amiga Renata.

- Eu dei sinal e o ônibus passou batido! - as lágrimas escorriam pela superfície maquiada do meu rosto.

Renata, com a voz boa, ignorando piedosamente o fato de eu estar chorando por ter perdido um ônibus:

- Fica tranquila, em que rua você está?
- Na Joaquim Távora. Snif.
- Passa um monte de ônibus aí - ela disse - Qual você ia pegar?
- O Terminal Santo Amaro. Snif.
- Pode pegar o Capelinha, também. Vem que eu já estou aqui no teste te esperando.

Depois de uns dez minutos passou o tal Capelinha e, depois de meia hora, cheguei no teste, bem atrasada. O produtor me olhou, com cara de fim de ano:

- Pode preencher a ficha e voltar depois das duas. A gravação da manhã já fechou.
- Eu dou aula à tarde - avisei - Se eu for embora eu não volto.
- Pois é, mas já passou das onze.
- SÃO ONZE E DEZ! Você já andou de carro nesta cidade?

Neste altura da conversa, Renata - ela mesma- surgiu da sala de maquiagem, pronta pra gravar. Eu já ia embora. Ela foi falar com o moço e, honestamente, não sei o que disse. Mas ele levantou da mesa e me entregou uma claquete, com o meu nome escrito:

- Pode gravar seu teste depois dela.

Mal pude agradecê-la. Renata fez o teste e saiu voando - feito um anjo? - para outro canto da cidade. Outro teste em Perdizes, parece.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

andante maestoso


Qual é o compasso de espera? Quando dizemos "tal coisa está em compasso de espera", provavelmente, sem pensar nadinha, estamos falando num 4x4 - ou pior!, um 4x2, um compasso raro e pesadão. Mas nunca um compasso binário ou ternário, por definicão mais leves, convidativos ao movimento.


Se, por exemplo, um noivado estivesse em compasso de espera, e o compasso fosse 6/8, um dos noivos já teria sido visto circulando pela noite, nos braços de muitos outros braços, confundindo os pés com outros pés e o noivado não precisaria esperar: terminaria de uma vez.


Se o crédito de um financiamento estivesse em compasso de espera 2x4, também sairia logo, animadamente, e sem pedir muita papelada.


A minha semana está em compasso de espera. Clássico: 4x4, andante maestoso. Às vezes, tenho a sensação de que estou dentro de uma fermata. Coisas para acontecer: todas pra daqui a pouco, só daqui a alguns dias. Até lá, espere direito. Pá. Pá. Pá. Pá.

quando o carteiro chegou

É sério. Chegou um telegrama aqui em casa. Estas coisas não acontecem à toa. Só com coisa séria.
Pois bateu o carteiro, com um telegrama: "Parabéns, você ganhou o concurso tal-tal-tal e vai assistir o show da Madonna com um acompanhante".

Juro que isto pra mim é muito sério.




Faça-se justiça: apesar de eu ter concorrido, também, quem preencheu a ficha vencedora foi o Marcel. Mas vamos - os dois - juntos ao show da Madonna. Ê!

Vamos ter que usar as camisetas do patrocinador durante o show. Rá.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

análise sintática

Pedrão* é – entre outras atividades - músico de estúdio. Significa que ele acompanha todo o tipo de banda que precisar de um tecladista. Por exemplo, um conjunto que normalmente só tem percussão e violão na formação original vai usar os serviços do Pedrão na hora de gravar em estúdio e rechear suas músicas com outros timbres.

Foi justamente uma destas bandas que nos proporcionou esta historinha exemplar.

Como me foi narrada por Pedrão:








“Cinco horas de pagode. Em 30 minutos já tinha abençoado o plug-in Pitch Shifter**, amaldiçoado os vocalistas, e apresentado as tarrachas de afinação pro menino do baixo.

Sejei justo’ (como diz meu jardineiro): o resto da banda era bacana, e o violonista tinha ótima harmona*** e swing. Então lembrei que, assim como meu jardineiro, Deus também é justo e é óbvio que não me deixaria sofrer por todo o período de 5 horas. E finalmente a gravina**** fluiu.

Só uma coisa ainda me incomodava. Uma das faixas era um cover do Exaltasamba, de uma música chamada ‘A Carta’, e na letra o compositor fez uma brincadeira com palavras e melodia, enquanto relatava a tal carta que tinha escrito. Por exemplo:

‘Entenda o que vou lhe dizer, dois pontos: Vem de volta pro meu coração exclamação!’

Deu pra entender? E assim a música ia, até que numa parte a letra dizia ...

...’ nem virgula vai separar nessa oração teu nome da minha paixão...’

Como é do costume no mundo do pagode, pra tudo existe uma coreografia. E, nesse caso, o cantor dançava a sua até para gravar - imaginando-se no palco talvez, vai saber. Acontece que sempre que cantava a tal parte, na palavra oração o cantor fazia o sinal da cruz!

Isto foi me dando nos nervos.

Já na minha saida, com o teclado no case***** e o cachê no bolso, ouvia pela última vez uma linha de cordas que tinha colocado na tal música e o fulano veio do meu lado. Não se contentou e novamente encenou a tal coreografia.

Aí resolvi falar:

- Cesinha, nessa parte da música, oração é frase.

E ele retrucou.

- Pedrão, meu querido, não interessa o tamanho da oração, e sim o que ela representa.”



Wehehehe


* os nomes foram alterados
** Pitch-Shifter: recurso do computador que corrige falhas de afinação numa gravação
*** harmonia, boa escolha de acordes
**** gravação
*****estojo do instrumento

sábado, 6 de dezembro de 2008

Nara strikes. Again.





o meu coração é o incrível Hulk destransformado, pegando aquele ônibus pra uma outra cidade, com aquela mochila nas costas e o monstro no espírito

Assionara Souza




ilustração Dan-Ah-Kim

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Guelra e Paz


Tem alguns filmes que são totalmente zoados pela crítica e nunca mais se recuperam do baque. Waterworld, do Kevin Costner, é um deles. Está sempre na lista dos piores de todos os tempos, rivalizando com Plan 9 From Outer Space (com seus sensacionais efeitos especiais sweded*), Batman e Robin (aquele com o George Clooney com armadura de mamilos, pois é...), Glitter (alguém lembra, do filme-veículo da Mariah Carey, onde ela entra no palco e diz “parem, parem, esta não é a música que eu quero cantar!” e começa a cantar outra que o seu ex-namorado escreveu num papel - e a banda, milagrosamente, a acompanha?) e outras tantas delícias** que assistimos gritando de horror e prazer.


Estes dias reprisou Waterworld na tevê, num caso de bad timing exemplar, considerando que o telespectador brasileiro, por estes dias, está particularmente sensível a cenas de inundação e devastação pelas águas. Mas o filme é bem engraçado. E eu me lembrei de uma historinha bacana:


Tenho um amigo músico - alemão - que foi criado numa comunidade alternativa. Desde criança, ele viveu apartado da sociedade que conhecemos e privado de uma série de estímulos e informações que recebemos quase que osmoticamente – pela tevê, rádio, outdoors, cinema, ticetra. Claro, recebeu educação da melhor qualidade – alta cultura. Conhecia tudo de literatura, música erudita, artes plásticas, poesia, teatro. Mas mal tinha ido ao cinema até os trinta e poucos anos. Cinema americano, então, pfff.


Pois este amigo meu, Burkhardt - já fora da casca e vivendo em Berlim há alguns anos - foi ao cinema, um dia, e assistiu Waterworld. Seu mundo mudou. Sua vida mudou. Ele nunca tinha visto nada igual, nem sabia que era possível. Ele quis conhecer cinema. Quis ouvir mais trilhas. Chegou no jazz. Descobriu Gershwin e Duke Ellington! A música popular e as emoções baratas.


Tudo por causa de um filme sem pé nem cabeça (mas com guelras).


Aliás, aqui no Brasil, para variar, o título do filme ficou sendo uma daquelas maravilhas inesquecíveis, tipo Waterworld – O Mundo Perdido, ou Waterworld – O Mundo Submarino, ou Waterworld – o Subtítulo Esquecido. Para o relançamento em DVD, eu já deixo aqui a minha sugestão de tradução, estampada no título do post: Waterworld - Guelra e Paz.


*sweded: ver "Rebobine, Por Favor". Expressão usada para definir uma realização artesanal tosca.

** os meus filmes-tranqueira favoritos são Showgirls e Staying Alive. O equivalente cinematográfico a um pacote de cheetos-bacon com fanta. A-do-ro.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

pousa-se toda maria

O novo sucesso musical do verão já está tocando em todas as rádios. Trata-se da nova música de Marisa Monte – Não é Proibido – que foi lançada junto com o DVD-documentário da turnê, por apenas 60 reais! A canção foi composta em parceria com dois outros consagrados artistas da MPB – Dadi e Seu Jorge – e tem tudo para ser um grande sucesso: alegria, ritmo contagiante e um “quê” descontraído. Apenas a letra, de lirismo complexo e forte simbolismo, pode dificultar a aproximação com o grande público.

Num serviço de utilidade pública, oferece-se aqui uma interpretação do texto de Não é Proibido:

NÃO É PROIBIDO
(Marisa Monte/Dadi/Seu Jorge)

Jujuba, bananada, pipoca,
Cocada, queijadinha, sorvete,
Chiclete, sundae de chocolate

[Os autores fazem uma metáfora da doçura da vida e de todas as coisas boas que não rimam, mas que grudam no dente]

Paçoca, mariola, quindim,
Frumelo, doce de abóbora com coco,
Bala juquinha, algodão doce, manjar

[Ainda usando o moderno recurso do verso branco, os autores agora transgridem também a métrica, no verso que soa como “docedeabobracomco”, insinuando que as coisas boas da vida não obedecem a regras]

Venha pra cá, venha comigo,
A hora é pra já, não é proibido,
Vou te contar, tá divertido,
Pode chegar

[Nestes versos, há uma referência clara à clássica canção de protesto, proibida nos anos 70, “Pra Não Dizer que Não Falei Das Flores”, que dizia “Vem, vamos embora (...)/ Quem sabe, faz a hora” e segreda que os tempos mudaram para melhor, pois diz que não é mais proibido e tá divertido.]

Uh, uh, uh
Vai ser nesse fim de semana,
Manda um e-mail para a Joana vir

Uh, uh, uh
Não precisa tocar bacana,
Fala para o Peixoto chegar aí

[Aqui considero a maior demonstração de virtuosismo lírico de toda a canção: os versos rimam entre si – “semana” com “Joana” e “bacana” – e as estrofes rimam também – “vir” com “aí”. É sublime. A referência ao e-mail atenta para a contemporaneidade do tema e da urgência dos encontros humanos, ainda que imperfeitos ("não precisa tocar bacana"). Quanto ao corinho “uh uh uh”, não tenho certeza, mas creio que é uma evocação de um Coro Grego, conclamando a todos para a grande celebração dionisíaca!]

Bis

[Repetem-se os versos da bananada e da jujuba, carregados de um novo sentido: além de evocar as alegrias da vida, estes doces remetem à infância e à inocência, onde o Bem e o Mal não existem. Com a palavra “Frumelo”, abre-se um portal do Éden, onde todos, inclusive Joana e Peixoto, celebram felizes a inexistência do pecado. Nada mais é proibido. Deslumbrante. ]

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Outra de gato





Tive uma noite ruim. O dia amanheceu e eu já perdia o sono. Já que era assim, pus a roupa de ginástica e fui pro primeiro horário da aula de ioga, lá em Pinheiros.

Cheguei cedo e não tinha ninguém (minha professora dá aulas em casa). A porta estava aberta, entrei, chamei, nada. Dali a pouco ela saiu, pela porta da cozinha, com o rosto inchado de choro.

- Meu gato pulou.

Imediatamente entendi que ele tinha pulado da janela do quarto andar do apartamento. A próxima pergunta era:

- Está vivo?
- Acabei de pegar ele lá embaixo, não sei o que fazer.

Fui olhar o bichano. Vivíssimo, o cretino. Mancava, pra dizer muito, de uma das patas. Mas só se a gente prestasse muita atenção. Pelo miado, estava só assustado.

- O que eu faço? – ela me perguntou.
- Se quiser ter certeza, leve num veterinário – respondi – Mas ele não quebrou nada, nem bateu nada. Se não, não estava aqui puxando conversa.

Fomos para a sala de prática. Minha professora pediu para eu cantar o mantra ritual de início da aula sozinha, porque ela ainda estava abalada. Depois que cantei o mantra, ela ponderou que tinha se assustado demais pelo fato de que o gato, que vivia com ela há 15 anos, e que nunca havia descuidado do parapeito, pudesse cair pela janela. Achava que era um sinal para prestar mais atenção em tudo o que considerava já conquistado. Eu comentei:

- Mas, Renata (é o nome da minha professora), ele sobreviveu e ficou lá embaixo te esperando.

Ela abriu um sorriso enorme.

- É verdade!


E era mesmo.

um soneto roubado - do blog da Nara




Gato Rebuscado



Figura Cézanne descolada do antes
Um jeito de um gato é um quando
Movimentar-se sinuosa e suave mente
entre coisas inclusive. E não - solto livre

Gatozen se água longe do escaldado
E assim queira, salta para o alto
a to c o n t í n uo do g a to: o pára-gato
ao lado da gata em patas de estátua

Gato enamorado espera a hora em que, áspera,
a língua asseie em cio sutil o pêlo de sua gata
Olhos cerrados e as narinas aptas do sirigaito

Bigodes -pautas regendo o ar envolto
em silenciosíssima e gatinífica sinfonia:
Sorve em ser e sombra a felinamorada


segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

fui almoçar

Três da tarde. Entro no restaurante já vazio. A garçonete me cumprimenta:

- Boa noite. Opa. Boa tarde. Desculpa. Tô tão evoluída...

três gatos na minha cama


Se tem uma coisa que me apazigua é chegar da rua e encontrar os gatos na cama.


Logo cedo acordo, alongo, aqueço a voz. Ponho um vestido bonito, um sapato de dança e pego o metrô para mais uma audição.


Faço meu teste. Saio e tomo um café, ligo o telefone e ele começa a tocar. Meus alunos também estão em plena temporada de testes e precisam de orientação. Audicionam para as mesmas peças que eu. Ajudo-os com o repertório, sugiro os dezesseis compassos da música que vão cantar, antecipo o espírito do teste, aconselho um idioma para a canção escolhida, estas coisas.


Desligo novamente o telefone e entro numa igreja. Ali dentro é fresco e escuro e no altar está somente Nossa Senhora com um Menino Jesus no colo. Parece bom. Fico ali quase sozinha. A população total da igreja são umas cinco ou seis mulheres que também meditam e alguns poucos homens que parecem dormir sentados, com a cabeça apoiada no banco da frente. Eu só fico quieta por alguns minutos. Depois pego o metrô de volta para casa.


Os gatos estão deitados na cama, como se nada. Sorrio profundamente.


domingo, 30 de novembro de 2008

social wife


Eu não ligo pra bufê de casamentos.
Eu não ligo para arranjos de flores.
Eu não sei quem é a donatela.
Pois é, que sorte, não pinto o cabelo.

Podia tocar um funk agora.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

mil palavras e nada

eu queria uma imagem bonita
que dissesse alguma coisa - boa
para quando acontece de chover sobre a vida de tanta gente
e simplesmente levar tudo

não há o que dizer
as minhas palavras são só assombro e ohs e meu deus
eu queria uma imagem que fosse esperança
mas talvez seja cedo

humildade

terça-feira, 25 de novembro de 2008

i'd rather be singing

Em 2004, fui ouvinte no mestrado de Música da UNESP - não cheguei a frequentar o curso por mais de um semestre. Hoje, faxinando, encontrei o caderno na gaveta. Entre muitos desenhos de leões (pelo jeito, uma fixação, na época) e de algumas divas wagnerianas, encontrei as seguintes anotações:

"O objeto sonoro, como som extraído, foi descontextualizado. Forçar uma audição morfológica do objeto sonoro e abordar fenomenologia."

"A escrita existe de uma forma latente no sentido notacional do termo. Processo dialético".

"O pensamento serial vem em oposição ao estruturalismo, enquanto representacionalidade simbólica".

"Sintese são sons com suporte informacional"

E uma carta:

"Caro Deus,

Eu não sei para onde ir e estou indo. Agora eu me trouxe até a UNESP, onde me sinto incrivelmente deslocada ou inadequada, apesar de identificar entre os meus colegas pessoas boas. Não consigo estabelecer um contato. Aliás, eu ainda não cheguei aqui. Eu me trago até aqui todos os dias, mas não chego."

domingo, 23 de novembro de 2008

Deixa a vida me levaaaaar

E num laivo de ecletismo, fui assistir ao show do Zeca Pagodinho no Credicard Hall.

Os ingressos desembocaram em nós depois de um caminho tortuoso: meu sogro havia participado de alguma promoção do Citibank para ganhar outra coisa e acabou ganhando dois ingressos para o show do Zeca Pagodinho. Minha sogra não era a fim de ir e ele não podia devolver nem trocar.

Perguntou se conhecíamos alguém que queria ir ao show. Num impulso, falei "Eu nunca fui num show do Zeca Pagodinho!" E pronto, estava feito.

O apedrejamento moral a que fomos submetidos pelos nossos amigos nos dias que precederam o show - sob forma de chacota, claro, mas também sob forma de cobrança indignada - só acabou por confirmar nosso desejo de ir e ter a experiência. Iríamos gastar com o estacionamento e, se fosse muito ruim, sairíamos na terceira música, foi o trato. Eu gosto de samba, é fato, e sou uma curiosa da estrutura dos grandes shows. O Marcel gosta de música e também é fascinado por estrutura de entretenimento. Queríamos ver como é que o cara fazia. Afinal, era um show de samba para 3000 pessoas.

Fomos e foi sensacional. Dezoito pessoas na banda - percussionistas, seção de cordas, metais, madeiras e três vocais (duas "pastoras" e um vocal masculino). Luz bonita, cenário bonito. O Zeca, um entertainer de primeira, simpático pacas, bebendo (muito) entre as canções e falando pouco. Muito suingado, muito divertido. E o público em estado de graça, cantando tudo, batendo palma no ritmo, completamente contagiante.

Foram duas horas em que ele cantou quase ininterruptamente (parando para beber), deixando tudo com cara de roda de samba, ao mesmo tempo com sofisticação e limpeza musical, tudo muito profissional, tudo beeeem azeitadinho. As músicas em geral eram boas - acho que me aborreci com uma ou duas. Teve Velha Guarda da Portela, teve choro, teve um monte de sambas que eu conhecia de rodas de sambas imemoriais. E teve o "Descobri que te amo demaaaais..." e o "Vai Vadiaaaaar", que eu resolvi achar sensacional de ontem em diante, depois de ouví-lo entoado por três mil vozes felizes.

sábado, 22 de novembro de 2008

carta enigmática





highlights de um grande dia

10h-11h: Ensinei um aluno a cantar "Morena dos Olhos d'Água", do Chico Buarque.

15h: Ganhei um notebook - verde! - de presente.

17h: Fui ver Vicky Cristina Barcelona, com o Marcel. Que filme bom.

22h-23h: Compus uma canção para o Marcel tocar na guitarra. Se gravaremos, é tarefa para outro grande dia.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

um satélite enquanto isso

Hoje foi feriado.
Dia da Consciência Negra.
Shows de samba e hip-hop por toda a cidade.
Negros não gostam de Mozart ou Villa-Lobos, também?

Eu, hein.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

tempos augustos


Passei pela minha nebulosa mensal (ou mental, também serve). Foram dois dias este mês - mas digo isto por enquanto, pois só atacou um lado da cabeça até agora. São períodos em que desisto e não faço nada, durante o tempo em que A Dor dura.

Achava que ia conseguir praticar meditação durante a crise, pois tenho treinado um pouquinho todos os dias nas ultimas semanas, e que a meditação pudesse ajudar a atenuar o mal-estar. Quá.

Bão, estava eu esta tarde na padaria, comemorando o meu regresso com um café e uma rabanada, e a meu lado estava um senhorzinho e sua senhora, tomando seus respectivos cafés. O senhorzinho suspirou:

- É preciso lembrar Augusto: "Apressa-te lentamente"!
A senhorinha acedeu, sorrindo. Repetiu:
- "Apressa-te lentamente!"
- Um gênio, este Augusto. Trinta anos antes de Cristo!

Os dois sorriram. Furiosamente, minha cabeça tentava processar o aforismo. Como assim? É lindo, sem dúvida, mas o que quer dizer? Quase fui perguntar, mas achei que não ficava bem. Vamos lá, eu já fui boa nisto: "Apressa-te lentamente". É para aproveitar a pressa? É para não ter pressa em chegar na frente? É para confundir o adversário? É para prestar atenção no caminho?

Devia ter perguntado.

Chego à conclusão de que é mais fácil desacelerar de súbito do que apressar-se lentamente.

domingo, 16 de novembro de 2008

impermanencias


Celio Barros, Ellen Fischer, Meredith Monk, Crisca e Anna Toledo
Teatro do Colégio Santa Cruz, 15 de novembro de 2008.

e vivam os celulares com câmera!

epifania: meredith monk

Sou muito grata. Mesmo. Assisti a Meredith Monk e o seu Vocal Ensemble ao vivo.

Hiper-estimulados como somos pelo excesso de ofertas de lazer e consumo, pode ser difícil reconhecer uma experiência transcedental. Por outro lado, pensando bem: uma vez que a experiência começa, não é possível confundí-la com outra coisa. Eu tive uma revelação. Uma pequena revelação.

Só posso estar grata.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

música contemporânea

O mash-up - procedimento de um DJ fundir duas músicas já gravadas e tocá-las ao mesmo tempo na balada - rompeu definitivamente com um dos parâmetros musicais mais fundamentais da música pop: a tonalidade.

Agora, desde que a música permaneça no mesmo ritmo, a melodia pode estar tocando fora do tom, com o baixo e o bumbo em dissonância, que tudo bem (sim, o bumbo tem afinação, antes que alguém pergunte). O que importa é a batida.

O conceito do mash-up me agrada, pois não passa de um arranjo: a promoção do encontro de duas músicas que podiam ter algo em comum e nem sabiam. O problema, a meu ver, é a realização, que gera um ruído totalmente indesejável, quando as duas músicas estão em tons incompatíveis. Bem, pelo menos para os meus ouvidos do século passado.

Um compositor do início do século passado, Charles Yves, norte-americano, já compunha mash-ups avant-la-lettre* (ou seja, muito antes de existir este termo). Ele escrevia marchas diferentes para duas bandas, ficava no alto de uma torre, dava um sinal e as duas vinham, cada uma de um ponto da rua, até se encontrarem numa esquina. As composições não estavam em "tons compatíveis", ou seja, as dissonâncias iam se aproximando lentamente. A experiência era, justamente, experimentar as dissonâncias e a politonalidade.

Me ocorre que se Yves e outros compositores que experimentaram a politonalidade e as dissonâncias fizeram-no pelo desejo de exceder os parâmetros musicais conhecidos (melodia, harmonia, ritmo) - ou seja, por gostar muito de música - hoje, o grande público que consome a música eletrônica aceita a politonalidade do mash up por desprezar os mesmos parâmetros. Eles provavelmente não estão ouvindo.


Link: mash up de I kissed a girl e Womanizer, na radio uol, aos 30'



*ui, que insuportável que eu sou...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

gafe


xi, menina...
a gente veio com o mesmo vestido!
mais no fotoblog

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

clássicos da gaveta

Arrumando as gavetas do computador, encontrei esta versão de Spain para voz e violão, que apresentei com o Michi Ruzistchka.

Na época eu me lembro que não gostei da gravação porque eu tinha errado a letra no começo e respirado mal no final. Bem, os erros continuam gravados. Mas tem acertos, também. E é Spain, ora bolas.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

a propósito -3

A peça de campanha política mais legal que eu assisti na internet se chama Les Misbarack , um número musical pro-Obama baseado em Les Misérables, com a canção One Day More.

Mc Cain e Palin cantam a parte do Sr e Sra. Ténardiers. Ahaha.

A propósito - 2

O discurso de vitória de Barack Obama em Chicago foi um dos grandes momentos da história dos Estados Unidos. Assombroso. O carisma e o poder de oratória do novo presidente são assombrosos, ele parecia um reverendo. Fiquei impressionadíssima.

O discurso de derrota de John McCain foi muito generoso, também. E muito bom.

a propósito

Dentro do espírito de otimismo e mudança que tomou meio mundo desde a eleição de ontem, onde o senador Barack Obama foi eleito o próximo presidente dos Estados Unidos - e parafraseando o discurso de derrota do senador John McCain, que falou novamente em garantirmos um mundo melhor para nossos filhos - eu gostaria de lançar aqui o desafio* de começarmos a criar filhos melhores para o nosso mundo.




* a sacada brilhante é da Kusum.
**foto-ilustração Cyril Auvity

terça-feira, 4 de novembro de 2008

a arte é para quê?

Nem se animem: não tenho estofo filosófico-intelectual para sustentar este raciocínio e ele vai acabar com "ah, eu sinto assim..."

Quando eu tinha lá os meus treze para quatorze anos, li a maravilhosa frase de Oscar Wilde: "Toda arte é completamente inútil". Escorada neste conceito libertador, entendi que a funcionalidade da obra seria (ou não) atribuída muito mais tarde, mas que não cabia ao artista preocupar-se com isto.

Anos depois (só alguns, vai) descobri que, realmente, enquanto Artista não cabia a mim ficar pensando no que iria resultar a minha criação. Mas, enquanto Produtora, eu me preocupava em como vender o produto que esta Artista estava criando.

Então o processo artístico exige um pouco de descolamento, de esquizofrenia:"Agora eu não sei para o que isto vai servir, isto é problema... meu! "

...

Para ficar quase no mesmo assunto: por que insistimos?

Há muitos anos, uma professora alemã me aconselhou duramente a deixar de cantar. Não que eu tivesse problemas vocais: ela só não via utilidade para mais uma soprano no mundo, sendo que eu não tinha nenhum recurso vocal excepcional que me destacasse na multidão. Aos prantos e mostrando os dentes (ah, os latinos...) eu fui atrás dela e disse: "Você não está entendendo?! Isto é o que eu faço!" E ela deu um sorrisinho: "vielleicht (talvez)... with that attitude..."

A vaca.

Talvez ela estivesse certa. O mundo é muito grande e é pequeno ao mesmo tempo. Marcar território, fincar uma bandeira e fazer os outros te reconhecerem como algo distinto, nada disto é simples. Mas insisto. E nem é porque as coisas deram supercerto para mim. Algumas coisas deram muito certo. Mas às vezes não dão, mesmo. Ainda assim, não me ocorre fazer outra coisa, simplesmente porque isto é o que eu faço.
...

Na quinta passada, fui ao show da Ithamara Koorax, aqui no SESC Vila Mariana. O show foi no auditório, o teatro menorzinho, com 80 lugares, e não estava lotado. A Ithamara Koorax é uma cantora com uma carreira brilhante no exterior, que já ganhou duas vezes a votação de melhor cantora de jazz do mundo da revista Down Beat. Mas estava fazendo um show num teatro pequeno, para uma platéia de poucos bem-informados - o ingresso custava 12 reais.

No final do show, fui falar com ela, que estava muito feliz de voltar a cantar no Brasil. Comentei que era a primeira vez que conseguia assistí-la ao vivo e ela disse "É, é difícil tocar aqui. Mas o negócio é insistir sempre."

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

chuva ritual


mathilde aubier


Ontem choveu, é claro.


Antes eu achava que chovia infalivelmente em Finados só em Curitiba - porque lá chove, mesmo, nesta época do ano. Depois eu descobri que chovia em qualquer parte, no dia 2 de novembro, onde quer que eu estivesse.


Eliminando a hipótese megalomaníaca de eu causar uma precipitação pluviométrica onde quer que eu fosse (e apenas no feriado de Finados), e levando em conta o senso comum de que "em Finados sempre chove", começo a aceitar o fato sem questionamentos; quase com poesia.


Ontem choveu retumbantemente sobre São Paulo.




Enviei meus pensamentos e meu silêncio para os meus avós e para os meus amigos queridos e saudosos.


sexta-feira, 31 de outubro de 2008

auto-ajuda-lhes

Um achado de Gilson Camargo


Terminei de ler Comer Rezar Amar. Devo ser a 4.895.796a. na conta da editora (comprei o livro).

Os portugueses não usam o termo "Auto-ajuda" para este tipo de livro, pois acreditam que ele serve para aconselhar outra pessoa. Chamam-no simplesmente de livro de "Ajuda". É uma constatação, senão óbvia, reveladora.

Estendendo este raciocínio, as viagens que a autora narra são, cada uma em sua medida, inspiradoras. Me envolvi mais com os episódios italianos, onde a observação da vida local e dos costumes dá o tom. Nos episódios seguintes, na Índia e Indonésia, creio que a autora foi por vezes bem-sucedida em manter uma narrativa emocionada, e rasa, muitas vezes, no anseio (genuíno) de explicar culturalmente povos muito mais complexos do que poderíamos querer. Creio que se ela apenas contasse como eles se comportam, sem tentar dar um motivo ou justificar seus atos, o livro todo ficaria mais interessante.

Em alguns momentos, quando o assunto toca as práticas espirituais, bem, eu não sei, pode ser um tipo de puritanismo meu, mas eu acho tão difícil escrever (bem) sobre sexo quanto descrever (bem) práticas espirituais. Acho que ela sabe disto, mas isto não a livra de nenhum clichê.

De todo o modo, é uma leitura divertida, pois a autora é muito bem-humorada. E, sim, muitas vezes é um livro inspirador.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

deeply drowsy

Um amigo meu, bailarino, que está cursando Faculdade Paulista de Artes (Cênicas), me pediu para supervisionar o trabalho do seu grupo na montagem de fim de ano. É uma cena de Brecht e eles querem encenar um trecho da Ópera dos Três Vinténs. Estou completamente honrada. E feliz. Vou ter com quem ouvir meus cinquenta discos de Kurt Weill e comparar as gravações e ainda vão me achar legal por isto!

Hoje foi nosso primeiro encontro e nós fizemos uma coisa da qual eu tinha uma vaga recordação: trabalho de mesa e investigação do texto. Discutimos motivos, razões intrínsecas, possibilidades, alternativas, hipóteses, discutimos e comparamos as traduções. Por fim, decidi que eles iriam cantar uma terceira versão, que eles mesmo escreveriam até o nosso próximo encontro. Eles saíram felicíssimos e eu fiquei. Leve e animada. Bom, né?

...

Aí - feliz que estava - peguei o resto da tarde e fiquei ouvindo musicais, com o volume no talo. Escutei Curtains e The Drowsy Chaperone, dois dos mais divertidos, da safra recente.

Aliás, gostaria de reparar uma não-menção indesculpável: em agosto, aconteceu em São Paulo uma encenação não-profissional de The Drowsy Chaperone, promovida pela escola Pulsarte, dirigida pela Olívia Mesquita e pelo Guilherme Terra. Foi uma dos trabalhos mais incríveis e felizes que eu já vi acontecer: os alunos estavam cantando, dançando e atuando; sobretudo, estavam se divertindo muito e oferecendo à platéia uma noite deliciosa. E a cerejinha foi a tradução que encontraram para The Drowsy Chaperone: A Acompanhante Lesada.

...

E não fui ao cinema.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

ai que feio - diário da mostra, parte chata

Dei piti no estande da Mostra, hoje. Não consegui ficar elegante, não teve jeito. Aqui é bom explicar que a Mostra funciona da seguinte maneira: quem compra a credencial tem o direito de adquirir ingressos antecipados, para os próximos quatro dias de exibição. Nunca para o mesmo dia. Os ingressos para o mesmo dia são vendidos para o público, vai, diletante. Ou seja, quem quiser ver só um filme tenta comprar no próprio dia.

Entendo que tenha que existir, portanto, uma reserva de ingressos para este público de última hora. Mas fui trocar meus ingressos hoje - um dia antes - e não tinha mais nada!!! Tentei cinco filmes diferentes. Tudo esgotado. Até aí eu estava calma e conformada. Só que o guri de 16 anos que atendia no estande resolveu me aconselhar: "Você pode tentar comprar pela internet".

"Hein? Paguei uma grana para ter uma credencial e adquirir os ingressos antecipados nessa droga de guichê, você quer que eu pague de novo pela internet?!"

Aí veio uma menina (mais madura, devia ter uns 17 anos e meio) me atender e me explicou que era assim mesmo. Ah, bom! Agora eu entendi. Eu olhei para a cara deles todos e eles não podiam estar mais indiferentes. Falei:

- Eu só desejo que vocês passem por isto. E que alguém diga que é para vocês chegarem mais cedo e tentarem comprar com um cambista.

E saí, já arrependida. Paciência.


P.S.: No fim, consegui ingressos para dois filmes obscuros, amanhã. Será que os verei? Depois eu conto.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

ainda na retina

Porque um clássico é um clássico: Conrad Veidt e Olga Baclanova em cena de O Homem que Ri

diário da mostra - etc

L'Homme Qui Rit/The Man Who Laughs (O Homem que Ri)
de Paul Leni

Filme de 1928, baseado na novela (terrível) de Victor Hugo sobre uma criancinha herdeira de um nobre que é arrancada de seu pai pelo rei James II e entregue para malvados "comprachicos" (compradores de crianças) que cortam sua boca e a deixam deformada para sempre, com o aspecto de quem está rindo. A criança é abandonada na neve e ainda por cima encontra um bebê - cego - nos braços de uma mãe morta congelada. Com o bebê no colo, a criança deformada vaga pelo vale dos enforcados, buscando ajuda - que finalmente encontra na casa do filósofo Ursus. Então esta criança cresce e vira uma aberração de feira, um palhaço que nunca consegue deixar de rir. Alguém aí falou em Os Miseráveis? Pois é.

A história vai longe, com novas reviravoltas e revelações ao longo da trama. E o filme é apavorante. Mas muito bom. Conrad Veidt é assombroso e, definitivamente, deu origem a todos os Coringas que surgiram, os bons e os maus. Mary Philbin faz o papel de mulher-anjo e a Olga Baclanova é simplesmente a Madonna! Gente, chegou uma hora que eu desisti de brigar com o meu cérebro e passei a acreditar que a Madonna estava ali num filme de 1928, num papel, inclusive, perfeito para ela: o de nobre devassa e fatal.

O sensacional mesmo foi o privilégio de assistí-lo com uma trilha sonora original (!) executada ao vivo pelo Octuor de France. Isto eu nunca tinha experimentado antes.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Diário da Mostra - 4

Be Kind, Rewind (Rebobine, por favor)
de Michel Gondry

Ou: Dois caras muito loucos aprontando as maiores confusões!

A história é a segunte: Mike (Mos Def) é um carinha que trabalha numa videolocadora (que só aluga VHS) num prédio condenado, numa cidadezinha do interior de Nova Jersey. Um dia, o seu patrão (Danny Glover) precisa se ausentar e deixa a videolocadora aos seus cuidados. Neste período, o seu amigo, Jerry (Jack Black), sofre um esdrúxulo acidente eletromagnético e, ao entrar na locadora, apaga o conteúdo de todas as fitas!

Para se safar, os dois resolvem refazer todos filmes existentes na locadora, refilmando tudo da forma mais tosca, criativa e delirante, no menor tempo possível, e tendo como roteiro as contracapas dos VHS. Assim, eles refilmam desde Ghostbusters até 2001, passando pelo Rei Leão e Driving Miss Daisy. Os filmes acabam sendo um sucesso local e a comunidade se envolve e passa a atuar nos remakes.

Com uma história destas, dá para um filme ser ruim? Então. Não é, mesmo.
E sendo do Michel Gondry, ainda escapa poesia pelos interstícios.

Com Mia Farrow e Melonie Diaz.



diario da mostra - parte três

Palermo Shooting (esta é difícil: pode ser Fotos em Palermo)
de Wim Wenders

Filme bonito e chaaaaaaaato, com elenco putumayo*. Faz Asas do Desejo parecer Guerra nas Estrelas. A diversão possível é encontrar traduções alternativas para o título do filme, enquanto o tempo não passa: Tiros no palerma. O palerma chuta. O chute do palerma. And so on.

Duas horas e dez minutos depois, quem se sentiu meio palerma fui eu. Mas, como diria outro palerma célebre, faz parte.



* multi-étnico e globalizado

terça-feira, 21 de outubro de 2008

diario da Mostra - parte dois

El Nido Vacío (Ninho Vazio)
de Daniel Burman

E vou falar sem medo que já vi o filme mais bonito da Mostra. Generalizando, os argentinos são mesmo mestres nas delicadas relações familiares - vide O Abraço Partido, O Filho da Noiva, As Leis de Familia, e estou esquecendo alguns bons, tenho certeza.

Este filme conta a história de um casal de meia idade, ele, um escritor consagrado e ela, sua companheira fiel, que parece ter abrido mão de uma carreira para apoiá-lo e criar uma família de três filhos adolescentes. O roteiro é uma jóia que se revela cada vez mais brilhante a medida que o filme se desenvolve. Deslumbrante.

Com Oscar Martinez e Cecilia Roth.


Rachel Getting Married (O Casamento de Rachel)
de Jonathan Demme

Estava na hora do primeiro filme chato aparecer. Este é um caso interessante: um filme que padece do mesmo mal do seu protagonista - narcisismo e autocomplacência. A protagonista em questão é uma garota chamada Kym (a irmã da Rachel), viciada em drogas e recém saída de um período numa clínica de reabilitação, direto para uma longa e penosa reunião familiar (o tal casamento do título). A história poderia ser muito boa e o filme conta com excelentes - excelentes! - atores. Aliás, eu só não saí no meio por causa deles. Mas a edição do filme é a coisa mais barriguda, flácida e preguiçosa que eu já vi nos últimos anos. O que me irrita muito, porque não precisava reescrever tudo, tinha um filme muito melhor ali dentro, era só editar decentemente.

O que não significa que sairia um filme espetacular, porque o roteiro também não vai fundo e fica na autocomplacência. Ah, e a trilha parece um disco interminável da Putumayo Records, só que num mau dia. Enfim. Não recomendo.

Com Anne Hathaway, Debra Winger e Bill Irwin.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

a sensacional maratona cinematográfica está de volta!

Eba. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Compro meu passezinho, tiro minha fotinha no cyber-lambe-lambe, faço minha credencial e, com ela no pescoço, vou feliz enfiar-me nas salas escuras da cidade em busca de uma história que nunca ouvi antes; ou da mesma história, contada de um outro modo; ou apenas de um novo filme estrelado pelo George Clooney.

Segue o meu diário:

Burn After Reading (Queime Depois de Ler)
de Joel e Ethan Cohen

Comédia de erros (de espionagem) estrelada por - estão prontos? Segurem-se - George Clooney (aiai..), John Malkowich, Tilda Swinton, Frances MacDormand, Richard Jenkins (o patriarca falecido de Six Feet Under) e Brad Pitt. Trama impossível de resumir, com reviravoltas a cada cinco minutos, e os melhores atores possíveis em sua melhor forma.

Da categoria engraçado pacas.

Three Days of Rain (Três Dias de Chuva)
de Michael Meredith

Filme de ensemble [ou filme-coral, como preferem os franceses*...] inspirado em contos de Anton Checov, mas ambientado em Cleveland, Ohio, num contexto contemporâneo. Muito bem filmado em 35mm, fotografia linda, com elenco de bons atores de teatro norte-americano. Entre rostos (e nomes) mais conhecidos, Peter Falk - e Blythe Danner (a mãe de Gwynelth Paltrow) fazendo uma pontinha boa.

Tive duas grandes sortes. Uma: sou fã de literatura russa. Não sabia sobre o que era o filme - na Mostra, venho com poucas referências; costumo entrar numa sala apostando no palpite que o título me sugere. Porém, fui identificando a semelhança de algumas histórias com aquelas que eu tinha na memória, até perceber que o filme era uma (boa) adaptação de contos de Checov!

A outra grande sorte foi que o filme foi apresentado por ninguém menos do que o Wim Wenders! Em pessoa. Antes da sessão começar, sem nenhum aviso, o Leon Cakoff veio e falou:"Olha, tenho uma surpresa, o Wim Wenders, que é o produtor deste filme, está aqui e gostaria de dizer algumas palavras". Aí o sujeito cabeludo do lado dele pegou o microfone e disse:"Oi, eu sou o Wim Wenders. Tudo bem?"

Ele disse, claro, mais um monte de coisas. Contou do processo do filme, de como conheceu o diretor, de como o Peter Falk é legal, etc, etc, mas enquanto ele falava eu estava pensando: "êêêê! Aquele ali é o Wim Wenders!"


Amanhã tem mais!

*estou très cahiers du cinéma...

descobertas

Sábado à tarde, fomos à Eureka, uma Feira de Ciências da Faculdade Mauá de Engenharia. Na verdade, é uma feira de soluções. São uns sei lá quantos formandos com virtualmente centenas de propostas para o mundo - desde um novo refrigerante ou um cream cheese enriquecido com lactobacilos vivos e anti-radicais livres (!!!) até uma nova proposta de captação de recursos de crédito de carbono, passando por mãos biônicas, carrinhos omnidirecionais e outros efeitos especiais.

Foi o programa mais nerd dos ultimos tempos, batendo até a Hi-Fi Fair, do mês passado, no Anhembi, mas eu achei excelente! Inclusive por ver que - mesmo que seja como trabalho de conclusão de curso - existem pessoas concentradas em encontrar soluções criativa em todas as áreas.

E na volta, quebrei um megapau com o Marcel, discutindo o funcionamento do carrinho omnidirecional. Ai ai. A gente chega a ser ridículo...

...

À noite, fomos no show do Ed Motta no SESC Vila Mariana e foi uma loucura!!! Putz, o melhor show do Ed Motta que eu já assisti! Era um show de lançamento do disco novo - Chapter 9 - e comemorativo de 20 anos de carreira. Então, como o proprio Ed disse, não ficou faltando nadinha. Ele tocou todos os hits e mais as músicas do disco novo. O show teve mais de duas horas, facinho, e podia ter três que seria melhor ainda.

Na banda do Ed, estão os irmãos Leandro e Vitor Cabral, pianista e baterista, respectivamente, com quem tive o prazer de tocar no Upstairs Lounge, no Hyatt Hotel. Mas no palco do SESC eles podem tocar bem mais alto. E os vôos musicais, vou te contar...



A prova: eu, com meia banda do Ed Motta, ehehe. No Upstairs Lounge, em São Paulo.

talibã em santo andré

Eu nem sei o nome do garoto. Não preciso conhecê-lo melhor para desprezá-lo profundamente. Lamento a minha incapacidade de expressar de forma clara e eloqüente a revolta brutal que senti ao conhecer a história estúpida do menino que, depois de terminar com a namorada, mudou de idéia e quis voltar atrás; ela não aceitou. Ele então seqüestrou-a, junto com seus colegas de classe, torturou-a, comandou um circo na televisão (onde mais?), e, por fim, atirou em sua cabeça e em seu sexo.

Fala-se agora na incompetência policial, que não coordenou a contento as negociações do seqüestro, tampouco a operação de resgate dos reféns. Tudo verdade, mas eu não tenho nada a acrescentar a esta discussão, nem tenho uma indignação nova sobre isto. Meu estarrecimento é perceber num menino de vinte anos de Santo André, São Paulo, um machismo talibã, que o leva a se sentir no direito de dispor do sexo e da vida da sua parceira, bem como a se sentir um heroizinho, exibindo a camisa do clube de futebol (puxa, que surpresa) na televisão (nossa..!).

Muitos de nós já conhecemos o sentimento de paixão, descontrole e perda. Intuo, porém, que sentimento motriz desta tragédia foi mesmo a vaidade: o circo foi tomando proporções maiores, o espetáculo foi aumentando e, pelo jeito, exigiu um final mais grandioso.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

recife

na praia de Boa Viagem, com uma espinha no nariz
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Tiramissu

Peço perdão, de antemão, se esta historinha vier a chocar os meus leitores mais bem-educados. A idéia não é esta. Fazer o quê, se eu viajo com sete homens?

Aquele jantarzinho básico à uma da manhã, após o show. Desta vez tivemos a manha de deixar o pedido previamente anotado no restaurante do hotel. Com o salão aberto exclusivamente para nós, chegamos, sentamos e comemos – em oito. Dois garçons muito eficientes vão e vêm, trazendo mais comida ou oferecendo outro prato. Finalmente, a sobremesa. Como vamos acordar às cinco e meia no dia seguinte, um colega desencana e vai dormir. Abro mão da sobremesa, também, já triste de ter comido tanto, tão tarde. Os outros meninos escolhem dois tiramissus, três crepes, e uma pêra ao vinho.

Chegam as sobremesas e descobre-se que quem pediu o tiramissu se deu bem, pois é o doce mais sensacional do restaurante. Os outros começam a resmungar e o garçom sugere – olha que fofo – trazer dois tiramissus a mais, já que dois de nós não comeram a refeição completa a que o voucher dava direito. Beleza. Sugestão aceita, os tiramissus extra são prontamente trazidos para a mesa e estrategicamente distribuídos entre os comensais, que se lançam com colheres sobre os pratinhos, com alegre fúria.

- Porra! – exalta-se X – Mas que merda! Eu não comi e vou ficar sem!
- Ah, pega aí – dizem os outros, despreocupados, enquanto continuam a comer coletivamente.
- Eu quero um pratinho pra mim! – explica X.
- Xi, meu. Aí não vai dar... – todos riem.
- Porra, então enfia este doce no cu.

Todos param de comer e largam as colheres. É melhor não piorar as coisas. Y estende o que sobrou do doce no pratinho:

- Toma, vai, fica com este aqui - ele diz, para X.
- Já falei – retruca X, irredutível – Enfia no cu.

Ninguém mais toca no pratinho de doce. Pedimos um café. O assunto desvia para o Carnaval de Recife, a bateria da Mangueira, a nova estratégia política da Marta, até que X estende o braço para alcançar o tiramissu esquecido. Y dá-lhe um tapão:

- Opa! Este aqui é meu! Guardei para enfiar no cu mais tarde!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

curitiba em sociedade

n'A Venda

Fui a Curitiba no fim de semana. Ainda voto lá, o que acaba sendo interessante, pois sempre encontro os amigos que também voltam para votar. Encontrei meus colegas da primeira faculdade (fiz duas: a primeira foi a mais divertida, Artes Cênicas, mas foi a que larguei no meio para trabalhar; me formei em Música, dez anos depois) cada um com uma história melhor para contar. Alguns eu não via há muito tempo, alguns tinham ido para o Rio, outros para a Alemanha, França, outros tinham ficado em Curitiba; tinha os que eu via às vezes, que também trabalhavam em São Paulo e que estavam por lá para votar... Tinha os que haviam voltado para casa, porque a cidade uma hora chama de volta.

Lelê, Anna e Chiris n'A Venda

Não combinamos o reencontro, mas uma amiga muito querida, a Chiris Gomes - que atuou em São Paulo por 15 anos, até uns três meses atrás - abriu uma vendinha em sociedade com outra atriz querida, a Cris Macedo, perto do Bosque do Papa. O boteco virou um ponto de encontro de artistas curitibanos. Então, no sábado, quando cheguei, minha amiga Letícia, que também estava na cidade visitando a família, foi me buscar no aeroporto e na sequência já carregou todo mundo - sua filha Clarinha, seus pais, minha mãe e eu - para A Venda.

Su & Paulinho

Lá, ela comandou um tipo de convocação, chamando os conhecidos pelo celular. Foram chegando amigos que eu não via há muito tempo, sentando na mesa, a conversa já continuava de um ponto onde tinha parado anos antes, tudo muito fácil. Meu irmão passou por lá, deu oi, avisou que ia na casa de um amigo jogar playstation e vazou. Paulinho Sabbag e sua dileta Su Bettega apareceram, gostaram e ficaram. Enquanto isto, Chiris articulava os planos de uma nova comunidade artística, e eu já avisei que participaria. Ao lado, minha mãe, Clarinha e os pais da Lelê jogavam Stop a noite toda.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

transcendências

Numa aula, ontem, falei sobre o poder transcedental da música - da arte, de um modo geral - usando como exemplo aquele brevíssimo momento em que o artista/a obra/a performance nos toca indelevevelmente e pronto. A percepção mudou. O curso foi alterado.

O artista busca a transcendência no seu ofício. Pequena que seja - diariamente, semanalmente - uma revelaçãozinha, um "oh!", um frescor na própria arte, na mensagem transmitida.

O público também espera do artista uma revelação, por contraditório que isto seja. Afinal, o público costuma resistir ao desconhecido, gosta das mesmas histórias, e isto se aplica à música, também: todo mundo prefere ouvir músicas que já conhece, por exemplo. Mas estou divagando.

Pois hoje tive a minha experiência transcendental, assistindo o pianista Leif Ove Andsnes, na Sala São Paulo. No programa, duas sonatas - Schubert e Beethoven - e a peça Quadros de uma Exposição, de Mussorgsky. Tudo sem partitura, uma performance linda, viva. A música muito viva, urgente. Esta sensação da impermanência, do momento tão precioso da criação única, do privilégio de estar ali naquele momento.

...

E antes que eu me esqueça: Shaná Tová Umetuka.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

anedota (ou: uma história boa demais)

ilustração: Guilherme Dias

Então vamos contar a história assim:



M. e C.* têm um duo de jazz, do tipo sofisticado, que toca em lounges e bares onde as poltronas são de couro e as mesas, de carvalho . Outro dia, foram contratados para entreter musicalmente os clientes do Cafe Photo - para quem não sabe, um dos poucos puteiros remanescentes na cidade, após a lei Cidade Limpa, e o mais luxuoso de todos. Parece que o local tem três ambientes independentes, dois palcos- com show de pop e jazz - e o cachê era bom.

Sendo M. e C. heterossexuais, do sexo masculino, fizeram o favor de sair se gabando para todos os amigos que iam ganhar para passar a noite no Cafe Photo. Entra na história o nosso protagonista, J., amigo de ambos, heterossexual, do sexo masculino, que só sossegou quando conseguiu ir junto, na função de ... ah, sei lá, roadie da banda (nota: piano e sax acústicos).

A noite corria suave, com o jazz fluente, mulheres deslumbrantes deslizando pelo salão e a língua do nosso herói pendendo para fora da boca. J. não sabia mais para onde olhar. Depois de algum tempo perto do palco, bancando o importante, resolveu explorar o outro salão e subiu uma escada. Deparou-se com uma mulher magnífica, pernas fortes esculpidas em matéria dourada, ela toda, uma escultura. Os cabelos - longos, louros, soltos - só faziam destacar a pele perfeita do rosto imperial. Ela parou e o encarou. Ele ficou pasmo:

- Luciana?
- J.?!

Era a sua namorada. Há seis meses.

- Luciana?! - repetiu, assim que recuperou o fôlego - O que você está fazendo aqui?
- Eu? - ela nem piscou - Estou trabalhando. E você? O que é que você veio fazer aqui, hein, malandrão?


* os nomes foram omitidos e/ou alterados por motivos óóóóbvios

sábado, 27 de setembro de 2008

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Agora não falta mais nada



Seu Valdemar é um empreendedor com faro para os bons negócios: vende comidinhas - docinhos, sandubas e refris - na sala de espera da O2, a produtora de filmes.

Mesmo se o teste for só com atrizes (sempre de dieta), dá para tirar um dinheirinho certeiro. Afinal, é muito tempo esperando, sem fazer nada. Pelo menos um brigadeirinho para adoçar a boca...

Agora bom, mesmo, diz ele, é dia de teste com crianças.




No detalhe, reparem na poesia da coisa: seu Valdemar adaptou um estojo de maquiagem para acomodar os seus quitutes.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

O Brasil

Volta e meia tenho este privilégio de viajar pelo país a trabalho. Viajo menos do que eu gostaria, e o tempo é sempre muito curto, mas ainda assim, é um privilégio. O mero desembarque em outro aeroporto, onde os passageiros dividem a pista com os poucos aviões que taxeiam, já sinaliza um outro mundo. Algo intrigante no ar, o que é? Ah, é o ar! É limpo!

Desembarquei em Navegantes, desta vez, e rumei a Blumenau. Chegamos em Blumenau por volta de dez horas da manhã (depois do transfer de van) , me fechei no quarto do hotel e dormi até o meio dia.

Consegui dar uma volta na cidade antes da passagem de som. O lugar é lindo, fica num vale, tem um rio limpo e florestas em volta, tem pessoas educadas e orgulhosas da cidade. Sempre que eu pedia uma informação, me deparava com guias turísticos em potencial. E mais de uma pessoa me perguntou se eu falava alemão. Parece que ainda é um fator relevante por lá.

O hotel era muito antigo. Em bom estado, mas no estilo muito antigo. O café da manhã era do estilo ignorante - o que os habitantes do sul do país costumam chamar de "café colonial" e o que eu costumo chamar de "8000 calorias". O almoço e o jantar mantiveram a coerência calórica. Tudo irritantemente bom. Comi marreco recheado com maçã caramelada à uma da manhã (depois do show). Era o que havia de mais leve no cardápio.

As viagens com a banda acontecem em horários bizarros - os vôos às vezes saem de madrugada. Para ir a Blumenau, ontem, acordei às quatro da manhã, cheguei às cinco no aeroporto, peguei o avião às seis e meia (uma hora de vôo) e depois mais uma hora e pouco de van. Hoje às seis da manhã, pulamos novamente na van. Toca pro aeroporto, de volta pra Congonhas.

Nosso motorista local, Etienne, veio nos contando, com o maior orgulho, a história da Oktoberfest.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

no transito


São Paulo, oito da noite. Estancados sobre o Viaduto Santa Generosa, alguns motoristas já desligaram o motor do carro e ignoram as luzes do semáforo, que pisca inutilmente para uma serpente adormecida de veículos enfileirados. Um homem grisalho, de terno azul escuro, abaixa o seu vidro, apóia o cotovelo para fora da porta e começa a soprar uma gaita.

O som da harmônica silencia todos os outros. E o que estava parado ficou suspenso.

eu tenho uma dúvida




Anunciado para novembro o lançamento do filme 24 Horas que fará as vezes de 6a temporada, servindo como ponte para o 7o. longo dia de Jack Bauer, que estréia na tevê em janeiro. Oba.


Minha dúvida é: se a ação do filme ocorre em tempo real, como é na série, o título vai mudar para "2h"? Ou "120 minutos"?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

até aqui, tudo bem

Filmagem no Jardim Botânico, às oito da manhã. Cheguei às dez. Não sou de aprontar destas, mas a produtora me deu a dica que eu poderia atrasar porque eles iriam montar o set às oito. Dica misericordiosa, aliás, já que hoje fez uns onze graus e precisei usar a minha incrível técnica de me auto-chutar da cama para conseguir levantar (Faço um pêndulo com uma das pernas e chuto a outra para fora do colchão. Com o desequilíbrio, eu fico em pé. Coisas que aprendi ao longo de anos de trabalho ora varando a madrugada, ora gravando logo cedo, para aproveitar a luz) .

Fui de metrô até onde dava, depois peguei um táxi que chegou rápido ao Jardim Botânico, mas rodou 8 reais comigo lá dentro, até encontrarmos a equipe de filmagem. Set montado, tudo muito pronto, eu já cheguei maquiada e vestida, começamos a rodar.

Às vezes passava um avião - bem, quase sempre passava um avião - e tínhamos que interromper. Mas, de resto, a filmagem durou três horinhas, o diretor era uma simpatia e toda a equipe estava de bom-humor. Tinha uma criança no elenco, que tinha que contracenar comigo e com outro ator, e ela era educada e gentil.

Ou seja, é possível. É possível!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Memórias

Na fila do caixa, no mercadinho, o senhor na minha frente empacou. Esquecera a própria senha. Não conseguia passar o cartão para finalizar a compra. A fila se amontoou. O caixa era prestativo: saiu do seu posto, foi buscar um copo d'água pro senhorzinho e pediu que ficasse ali sentado, que ele - o caixa - tinha separado as compras e que, assim que o senhor lembrasse os números a transação seria completada.

O homem estava contrariado, nervosíssimo. Causar transtorno é chato, verdade. Mas, esquecer a própria senha? A traição que o próprio cérebro perpetra. Com quem se zangar? O que mais esperar?

Tive vontade de ir lá acalmá-lo. Falar: "Todo mundo esquece tudo, em algum momento". Não fui, fiquei sem-jeito. O pobre sujeito ia e vinha ao longo do balcão do caixa, feito um velho leão na jaula. Pensei: "Com que idade eu vou passar por isto? Com 60 anos? Com 80?"

Sempre tive orgulho da minha memória. Aprendia muito rápido textos e música e não esquecia. Hoje tomo um remédio para dor de cabeça que diminuiu a minha velocidade de apreensão de informações. Ou seja, já decoro com mais dificuldade do que antes.

É fato que em algum momento - espero que longínquo, mas certo - também vou atrasar alguma fila, tentando lembrar de algo absolutamente corriqueiro e que vai me parecer tão sorrateiro como uma barata.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Sagas

Desta vez foi com o Bob. A booker ligou para ele, um teste que era a sua cara. Hora marcada, no estúdio B da produtora X, em Heliópolis. Hein? Isso mesmo, no estúdio B, em Heliópolis.

O Bob é descolado, mora em São Paulo há dois anos, depois de uma temporada ralando em Paris e outra vivendo bem em Goiânia. Ainda não tem um carro. Como bom migrante, conhece os caminhos e as conduções melhor que os nativos (nunca pergunte um nome de rua para um paulistano). Mas Heliópolis... Onde fica, como chega? Qual o percentual de glamour possível de emular após duas horas de ônibus e lotação até este destino?

Diz ele que fez a barba, passou colônia, pôs uma camisa propositalmente amassada - moderna - e entrou no ônibus. Desceu na porta do estúdio cozido, sacudido, mas ainda cheiroso, quase duas horas depois. Reajustou o ar triunfante, atravessou a sala de espera e foi falar com a produtora de elenco.

- Oi, eu sou o Bob, meu teste é às quatro horas.
- Ah. Ok. Senta ali, eu já vou chamar, vai preenchendo a ficha.

Ajeitou-se no banco, procurando não encarar os poucos concorrentes que se esforçavam em não medí-lo de alto a baixo. Cruzou as pernas e tentou preencher o formulário sobre o dorso da coxa sem rasgar o papel.

Cinco minutos depois, ela chamou:
- Você é que é o Bob?
- Sim.
- Acho que teve uma confusão. Agora a gente vai gravar o ator barbudo.
- Mas às quatro horas sou eu.
- Tá aqui no schedule. Quatro em diante: barbudos. Você fez a barba?
- Ninguém me avisou.
- Ah, então: não podia.

São Paulo é um lugar com muita oferta. Testes pedem atores que cantem em inglês e espanhol, dancem balé clássico, jazz e sapateado e meçam pelo menos 1,68m (mulheres) e 1,78 (homens). E aparecem quatro dúzias de profissionais com este perfil para serem selecionados. Já peguei trabalho por causa de três centímetros de altura e já fui cortada em inúmeras seleções pelos mesmos frágeis motivos: vestido errado, cabelo errado, bonita demais (sim, já ouvi isto!!!), normal demais (também já ouvi esta, mais de uma vez!), jovem demais, velha demais.

Então não adiantou o Bob explicar que a barba dele cresceria, oportunamente, e que ele poderia fazer o teste assim mesmo e mostrar que é um ator bacana. E que o diretor poderia vê-lo em cena e imaginá-lo com barba. Sei lá. Algo assim, totalmente impensável.

Bob voltou para casa sem ter feito o teste. O bolso liso como sua cara: como não gravou, não pagaram cachê-teste.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

A Melhor Síntese

A mais perfeita descrição do gap entre gerações apareceu outro dia num episódio de Two and A Half Men. Charlie Harper (40) e seu sobrinho, Jake (10), estão assistindo DVD. A música-tema não deixa dúvidas: estão assistindo "Tubarão". A música cresce, indicando uma cena de grande tensão. Jake fala:
- Que filme estúpido.
- Isto é um clássico! - diz o tio Charlie, indignado
- Faz quarenta minutos que a gente tá assistindo isto e não apareceu esta droga de tubarão.
- Isto é criar suspense. Use a sua imaginação.
- Sabe o que eu estou imaginando? Um filme melhor que este. Por exemplo: Serpentes a Bordo. Você está num avião cheio de cobras! Cobras por todo o lado! Você abre sua mala e sai uma cobra! Isso sim.

Tio Charlie desliga o DVD.
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Isto só fez me lembrar da vez em que eu resolvi apresentar para um amigo, oito anos mais novo que eu, o filme mais aterrorizante que eu já vira - O Iluminado. Meu amigo dormiu.

sem esperanças


E aí eu fui ver o Linha de Passe. Cheia de vontade de gostar, por todos os motivos que expliquei abaixo, mais a fome de ver um filme com bons atores, um roteiro possivelmente bom, diretores provadamente competentes, essas coisas.


Credo. Cruzes. Não gostei nadinha. E quero explicar, antes de tudo, que os diretores são bons, os atores são excelentes e o roteiro é consistente. Eu apenas sofri com o que o filme argumenta - aliás, de modo muito eficiente, pois o filme consegue deprimir qualquer um.


Não consigo ver nenhum tipo de denúncia, apenas proselitismo, num filme que retrata piedosamente a vida de uma família de pobres cuja vida é duríssima, que não se ajudam, que vivem na ignorância e no alheamento (a mãe engravida compulsivamente, outro decide assaltar para pagar as contas, outro passa os dias fugido de casa, procurando o pai desconhecido, outro é crente, mas entra em crise com a religião) . O filme parece argumentar que não há saída, que vai sempre dar tudo errado, que não há um sentido, senão apenas viver (ou sobreviver) - daí o final sem fechamento, com todos em movimento. E me pedem muito: Querem que eu tenha compaixão do motoboy que assalta e sequestra para pagar a pensão da filha. Calma lá. Jura que esta é a única opção?


A única história realmente interessante, que provoca a fantasia do público, é a do filho que joga futebol e que está passando da idade para entrar nos times profissionais. Mas os diretores optaram por não se aprofundar nesta história, nem oferecer nenhuma esperança. Como se o desejo e o sonho individual estivessem fadados a serem esmagados pelo sistema, a sociedade, os playboys, os corruptos. Ah, não. Não, não...


Acredito que há muitas maneiras de se contribuir com a sociedade e com a discussão sobre a grande lacuna social. Não sei se olhar o pobre como uma vítima pura e não-passível de crítica e/ou responsabilidade é um caminho para algum lugar mais interessante.

boa vontade

Tenho muita vontade de gostar de filmes brasileiros. O desembaraço das legendas permite que eu veja melhor todo o quadro, ouça melhor a música, acompanhe a narrativa sem maiores filtros e obstáculos. E a língua, ah, que língua bonita. Não deixa de ter um gosto especial assistir uma história contada na nossa própria língua, com cenários reconhecíveis, rostos parecidos com os nossos. Às vezes a gente ri à toa, só de ver alguém parecido com um vizinho ou um tio.

Então a minha boa vontade está instalada. De resto, a minha exigência de público é a mesma: dêem-me uma história compreensível, inteligente, coerente e, de preferência, emocionante. Mas vamo aí, não tem muita receita, pode ser documentário ou comédia romântica.



Neste pique, fui assistir Os Desafinados, do Walter Lima Jr. Torci até o final pelo filme, mas não teve jeito, o bicho é fraquinho mesmo. O roteiro não se entende, os personagens são frágeis - digamos que sofrem de uma certa clareza existencial: até o final do filme eu não sabia o que eles estavam fazendo ali, nem o que eles queriam da vida. Quem resgata o filme da chatice absoluta são alguns bravos atores, a saber: Rodrigo Santoro, Claudia Abreu, Alessandra Negrini, aquele menino que fala engraçado - Selton Mello - e o ator que faz o baterista, André Moraes, que é um tipo carismático e em quem eu acreditei. A história não tem pé nem cabeça, apesar de se basear em várias passagens reais. O final apresenta um lapso temporal seriíssimo, que pelo jeito só teve importância para mim, pois fui a única que se incomodou com o fato de uma criança concebida nos anos 70 ter 20 anos em 2008. Mas dentro da fragilidade do filme, isto acaba mesmo tendo pouca importância. O mais complicado é que o filme falha em contar uma história compreensível e falha, portanto, em emocionar seu público, que era seu objetivo mais claro.