segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

tempo tempo tempo

O ensinamento que o ano me deixa é o da urgência de estar presente. Todo o resto é consequência ou ilusão. Juro, não é papo budista, ainda que eu tenha entre meus bons amigos alguns seguidores da filosofia. O que afirmo é mais um reflexo de algumas fichas que caíram, em vários momentos deste ano. Estar presente, plenamente - o que é bem mais difícil do que parece, vamos combinar - é a única justificativa para trabalhar loucamente, juntar dinheiro, montar uma obra, discutir uma idéia, brigar com alguém, reconciliar-se, todas estas tarefas desgastantes que implicam em estar vivo e relacionando-se com o mundo. A fama, o futuro, o legado, o amor do próximo, são consequências. Ou ilusão, quando são a cenoura à frente do burro, a única motivação para o movimento.

Pensa o quê? Minha busca é estar presente. Eu, que passei meia vida olhando pra frente e correndo atrás, noites em claro pensando no que pode dar errado, longas discussões entre eu e migo sobre o que é certo, o que eu deveria ter feito, o que eu podia... Muito tempo esperando o tempo certo, muito tempo deixando para depois, quando for o tempo. Não é simples. Agora, por exemplo, reflito olhando para trás, que é o que sei fazer.

sábado, 29 de dezembro de 2007

tempo de chavões e despedidas

Na madrugada do dia 26, um amigo querido foi embora. Ele estava doente, no hospital, e não sobreviveu. Foi muito rápido. Nós - os amigos - fomos informados da situação quando ele já estava na UTI e em menos de duas semanas ele faleceu.


O Alex - é o nome do meu amigo: Alex Neves - gostava muito de trabalhar. Muito, muito. Trabalhou além das forças, ignorou os sinais de fraqueza do corpo, parou só porque foi internado e aí já não dava mais tempo, mas não dava pra saber. Ele era bailarino, coreógrafo, professor, tinha 39 anos.


Durante este ano ele foi meu professor de dança. Eu tinha comentado com ele que minha decisão de ano-novo (no caso, o ano que termina) era aprender a dançar decentemente. Ele espalmou minha mão na sua, disse "arrasou!" e desde então estabelecemos esta relação nova, de professor e aluna. Já éramos colegas e amigos há seis anos, estávamos na nossa terceira peça juntos. Como professor, ele era de uma competência ímpar. O que sempre me impressionava era o bom-humor e a disposição para tentar de outro jeito. E a vontade de estar ali, onde quer que ali fosse. A aula se estendia para além da hora e meia, aí ficávamos sem almoço porque o ensaio já era dali a uma hora e ele chegava no teatro feliz como se tivesse ido pra casa, tomado um banho e batido um prato de feijão com bife.


Estou triste, os amigos estão tristes, foi rápido, não deu tempo de ir ao hospital e falar "peraí". Está esquisito pensar que as coisas continuam sem ele, quando continuarem. Mas continuam, eu sei. Esta consciência só me faz pensar novamente neste trajeto, nesta viagem que fazemos, no tempo que passamos olhando para frente, para a cenoura sempre adiante, e no tempo que passamos olhando pra paisagem, em que prestamos atenção no vento, no calor ou na chuva, nos companheiros de estrada, nos detalhes do caminho.


Caminhar, tentar saber pra onde, olhar a paisagem, tentar fazer sentido.


Chavão abre porta grande, já dizia o Itamar Assumpção. Pois é.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

A luz da Venezuela

Então, agora o Hugo Chávez resolveu atrasar oficialmente os relógios da Venezuela em meia hora, para "socializar" a luz - o que quer que isto signifique.

Minha cabecinha é pequena demais para compreender os motivos que levam um governante a mudar A HORA de um país, que não sejam simplesmente o desejo de se assemelhar a Deus diante de seus governados.

Tenho medo, tenho mesmo.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

'stamos em pleno mar


De Nova York para São Paulo, duas noites em casa e depois descer para Santos, para uma gig num navio, por uma semaninha.


O navio era italiano: os oficiais falavam italiano e inglês e os garçons, faxineiros, camareiros e cozinheiros falavam malaio e/ou espanhol. De dia o navio ancorava em algum lugar legal e todo mundo pegava um barquinho e descia passear. Peguei praia todo dia - nem lembro qual foi a última vez que tinha ido à praia - bebi cerveja com os meninos e até passeei pelo Rio de Janeiro no último dia (fui num shopping lindinho no Leblon, chamado Rio Design, queria passar a tarde ali). À tardinha partimos do porto do Rio (na praça mauá) e eu fiquei vendo, do deck do navio, a cidade, o recorte da costa, as luzes das favelas, as montanhas, tudo muito lindo.

À noite - bem tarde, tipo umas 23:30h - era o nosso show. Eu agarrava o pedestal do microfone para manter o equilíbrio (o teatro ficava justamente na proa do navio, onde o balanço é mais sentido) e tudo bem.

Me diverti muito, no final das contas. Mas é bom ir para casa.

No snow for you

Nevou niqui eu voltei. Ainda não foi desta vez. Terei que voltar.