domingo, 20 de dezembro de 2009

FBI: Federal Beagle Investigator

No JFK a policia usa beagles como cães farejadores. As crianças correm para pegar aqueles cachorrinhos vestindo colete policial, o fator intimidação é zero. Mas presenciamos um beagle dando um flagrante. Ele começou a latir e a dar pulos na mala suspeita. Parece que ele está pedindo para brincar, mas a mala e o dono foram apreendidos.

The amazing baby-table

Em uma longa espera para a conexão até Washington, resolvemos deixar as malas no armário do aeroporto e seguir de metro até a cidade (NYC). A viagem de metro dura 40 minutos. Uma senhorinha carregando o seu filho, aproveitou que o bebê dormia, colocou ele de bruços sobre o seu colo e abriu sua marmitinha sobre as costas do bebê.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

eba

No dia 30 de novembro (ontem), meu canal no You Tube foi o 25# mais assistido entre os canais de musica!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

quase famosa

Cruzou por mim, veio ter comigo na rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara, 
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;


Pois estava eu entrando na Tabacaria (ó, tá vendo?) quando fui interceptada pelo Ator Famoso:

- Olá - ele disse.
- Oi - respondi, nitidamente intimidada - Tudo bem?

Ele tocou o meu ombro e me deu um beijinho. Comecei a olhar pros lados, pedindo um socorro tão eloquente que o Dono da Casa materializou-se ao nosso lado:

- Aninha, querida. Conhece o Ator Famoso? Ator Famoso, esta é a Aninha.
- Oi, tudo bem? - repeti. Quase repeti o gesto de dar o rosto para outro beijo. Totalmente desconcertada.
- Mas eu te conheço! De onde eu te conheço? - o AF insistiu.
- Aha. Não sei. Eu, certamente, te conheço - dei uma risadinha péssima.
- Senta aqui com a gente, toma um café.
- Aham - limpei a garganta - Pois é, tô correndo.
- Ah, que pena. A gente chegou agora, íamos pedir um conhaque. - ele sorriu e tragou seu charuto.
O Dono da Casa me apertou e me sacudiu:
- Precisa ver esta mulher cantando!!!
- Ah, então preciso, mesmo.

- Então!- pulei pro lado - Foi um prazer! Tchau! 


Ah, a jequice que não me larga, nem com anos e anos de mondinho.










 

Oi?*


- E aquele seu primo do Rio, que trabalhava na Globo, você tem notícia dele?
- Tenho. Às vezes ele me liga pra contar as novidades.
- Ele ainda trabalha...?
- Está se virando. Agora está fazendo papel de parede.
- Ahn, legal... Em que novela?

* uma colaboração de Odilon Vargas Toledo 

 

sábado, 19 de setembro de 2009

Quem?

No salão, fazendo a unha. Ao meu lado, ociosas, duas manicures conversam, enquanto folheiam uma destas revistas de celebridades. A manchete da reportagem: "Carolina Dieckman vai à praia com o filho e exibe sua plástica perfeita".

Manicure um:
- É perfeita, mesmo. Olhando, ninguém diz.

Manicure dois:
- Imagina, claro que dá pra perceber. Depois de filho, só com plástica.

}Este mês no Buchanan's Lounge





Disfarça e Chora este mês nos Jardins.
Desta vez, com a participação especial do André Dias. E sempre uma música nova no repertório pra dar um gostinho.

Dia 21 de setembro (segunda feira) às 21:30h
Buchanan's Lounge (Ranieri Tabacaria): Alameda Lorena, 1221
Couvert: 20 reais

mais detalhes aqui
+
you tube

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

domingo, 23 de agosto de 2009

Noite feliz, noite de jazz


Nesta segunda:
Phil Degreg (piano) - Anna Toledo (voz) - Celio Barros (contrabaixo)
a true jazz experience
Buchanan's Lounge (na Ranieri Tabacaria)
alameda Lorena, 1221 - Jardins
21:30h

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

mais fácil aprender japonês em braile

Vamos chamá-los de Juliana e Fernando. Namoram há pouco mais de dois anos, mas agora a relação está desgastada. Juliana reclama que Fernando está largado, que a relação caiu na rotina, que acabou o romantismo.

No dia do aniversário de Juliana, Fernando manda entregar um buquê de rosas, na primeira hora da manhã. Ela abre a porta, sonolenta, vê as flores e procura o cartão, que diz:

"Você disse que não sabe se não, mas também não tem certeza que sim. Quer saber? Quando é assim deixa vir do coração"
(Djavan)

- Ué?! O Djavan me mandou flores?! Mas como ele sabia que era meu aniversário?

...

À noite, Fernando liga para saírem. Pelo telefone, mesmo, ela diz que pensou muito e acha melhor darem um tempo: ele esqueceu uma data muito importante, o que prova que não está realmente interessado. E, só pra constar, tem outras pessoas que prestam atenção nela!


(baseado em fatos inacreditavelmente reais)

sábado, 8 de agosto de 2009

Zagati


ou: filmes que (você talvez veja, talvez não, mas deveria ver, porque) fazem diferença na vida.


Assisti ontem a pré-estréia do maravilhoso e emocionante curta Zagati, de Eduardo Filistoque e Nereu Cerdeira. Conta a história do catador de sucata José Zagati - um apaixonado por filmes que construiu um cineminha em Taboão da Serra (SP) com restos de filme e sucata.


São quinze minutinhos de filme, que duram muito mais tempo na memória. Hoje à noite eu ainda lembrei de um trecho que tinha passado meio em branco ontem, depois de assistir com o Marcel. As imagens e as palavras ficam. É uma jóiinha.


Tem no you tube.


E deve passar na tevê no Canal Brasil, dia 10, na estréia do programa Curta São Paulo.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Disfarça e Chora - o medley



clique sobre a figura para assistir.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

terça-feira, 28 de julho de 2009

Nesta terça, 28 de julho às 22h



No Centro Cultural Rio Verde, na Vila Madalena. Ver mapa.
entrada franca

quinta-feira, 23 de julho de 2009

da série: ninguém perguntou


Você sabe que está perto dos quarenta quando precisa de óculos para colocar o absorvente com abas.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Hamlet 2


Acabei de assistir Hamlet 2 no DVD. É de rir alto, sozinha - que foi o que aconteceu.


Na locadora, o filme é encontrado sob o sugestivo título Perdendo a Noção. Acho que Um Cara Muito Louco já tinha sido usado três ou quatro vezes nos ultimos cinco anos.


É a história de um ator fracassado, fracassadíssimo, que dá aulas de teatro numa escola no interior do Arizona. De repente, sua classe fica lotada de latinos e ele acha que pode ser uma inspiração na vida deles, como se ele fosse o professor d'A Sociedade dos Poetas Mortos, ou Ao Mestre com Carinho. Então ele resolve montar uma continuação de Hamlet, onde Jesus chega numa máquina do tempo e encontra o príncipe da Dinamarca, convencendo-o a voltar atrás e impedir que todos os seus amigos morram no final.

Ehehehe. Já comecei a rir de novo. É muito engraçado.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

cuide bem de você

Sophie Calle transformou uma ruptura amorosa numa instalação. A carta através da qual seu namorado se despedia dela foi lida, analisada e respondida por mais de 100 mulheres diferentes. Uma maneira radical de ver as coisas sob outro angulo, eu diria.

A instalação Cuide Bem de Você (Prenez Soin de Vous) será inaugurada dia 10, no SESC-SP, e é claro que já é campeã de audiência, mesmo sem ter aberto. Eu mesma estarei lá, curiosíssima para ver esta alquimia de dor transformada em... em arte? em outra dor? em videoinstalação.

...

Há Tanto Tempo Que Te Amo (Il y a Longtemps Que Je T'Aime) é uma lindeza de filme. Cinema bem feito, bem escrito, atores bons, ritmo impecável. É triste, sim. Mas é lindo.

Kristin Scott Thomas é uma atriz magnífica. Vou ver o filme de novo, só para olhá-la trabalhando.
...

Fui ver Apenas o Fim e saí antes do fim. O começo e o meio estavam chaatos.
...

O frio nunca mais vai passar.

...
Li O Clube do Filme. Nossa, podia ser bem melhor, não? Já esqueci tudo. Que oportunidade de contar uma história boa este cara perdeu. I mean, a história é boa, mas como ele podia ter ido mais fundo. Ou escrito um livro sobre filmes e deixar esta chatice de filho rebelde para lá.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo


voltei a desenhar.
blame it on my plot.

Passo tanto tempo no camarim que comecei a levar a caixa de lápis de cor pro teatro.
O caderno foi presente do Marcel, no início do ano. Pronto. Uma onça.

Escrever é a alma do negócio que não deu certo

No blog da Nara.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Moonwalking

wherever you are
dancing in the sky


quinta-feira, 25 de junho de 2009

cry me a river/chora um rio

Anna Toledo e Adriana Capparelli (voz)

Guilherme Terra (piano) - Rafael Ferrari (baixo)

All of Jazz - junho 2009

quarta-feira, 24 de junho de 2009

thank yous

All of Jazz lotadinho. Cheio de gente querida. Cantamos nossas canções de amor percebendo a batida dos corações e a respiração suspensa entre as pausas.

Obrigada aos amigos que compartilharam conosco esta noite preciosa.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O Cabaré Sentimental

Paulinho de Jesus



Terça feira, dia 23 de junho, às 22h
All of Jazz - rua João Cachoeira 1366 - Itaim
São Paulo - SP
telefone 11 3849 1345
Ingresso: 10 reais

Músicas de Michel Legrand - Burt Bacharach - Cole Porter - Kate Bush - Kurt Weill - Fito Paez - Dorival Caymmi - Tom Jobim - João Donato - Joe Cocker - Quincy Jones - Camille - e mais!
Quem estiver por perto, quem quiser chegar, venha...


E não, nós NÃO sabemos se vamos repetir, se vai estender temporada, etc. It's one night only.


domingo, 21 de junho de 2009

How High the Moon

Só porque hoje eu resolvi abrir meu baú de cantoras favoritas.

E a Ella é a minha cantora favorita. De todas. Ever. Pronto.

Inclusive - inclusive - porque ela é espirituosa e alegre. Vê lá se isto é defeito?! Tem crítico de jazz que devia só pastar o seu boldo, quietinho. Pior é quem lê, repete e perpetua esta bobagem.

Dianne is God

Quarta feira passada fui ver a Dianne Reeves no Via Funchal.

A Dianne Reeves já era a minha cantora - viva - favorita, antes de eu ter esta oportunidade de assistí-la em carne e osso, com banda - e na fila do gargarejo, devo acrescentar.

Agora não tem mais o que dizer. A mulher não é só uma cantora excepcional: é uma sacerdotisa, uma divindade, uma sei-lá-o-quê que transborda música e beleza e amor e transforma até aquele ambiente esquisito do via funchal num lugar aquecido, feito de pessoas amigas, batendo os pés juntas, baixinho, no ritmo, enquanto a nêga-deusa canta a cappella.

No mais, um suíngue abusivo, a voz que engole a banda toda (quando ela quer), um scat originalíssimo e de bom gosto - o estilo africano que ela consagrou, misturado ao scat tradicional - usado na medida.

Pontos altíssimos: as duas canções brasileiras - Triste/Solitude (com um scat memorável, arrematado com "Estamos Aí") e Amor em Paz/Once I Loved (arranjo magnífico de Romero Lubambo, que provou que ainda dá para fazer coisas novas com o violão da bossa nova); One for My Baby, One For The Road, que virou um blues roots, totalmente descolado da interpretação do Sinatra, e no final descambou para um negro spiritual; That's All, a canção mais suingada e com o scat mais furioso, feita numa leveza incrível; Testify (não tenho certeza se é este o nome), uma maravilha de transe musical, que fez a platéia inteira cantar junto.

Então é assim: ouça as gravações, veja os vídeos no you tube. Não perca a Dianne de vista.
Se puder, se ela estiver passando pela sua cidade, agarre a chance de ter esta experiência de transbordamento e êxtase.*


Este vídeo que postei tem uns vinte anos. Dianne flertava com o afro-jazz e, ainda no estilo "swing" clássico, interpreta How High the Moon. Só o corte de cabelo está too Grace Jones. Ahaha.

*Não exagero. Se eu estava rindo e chorando, como é típico, um senhor na minha frente abraçava e beijava sem parar a filha e a esposa.

Dinner at Louboutin's



O facebook me roubou daqui. Meus miniposts sobre coisa alguma rendem comentários instantâneos. Tá tudo explicado.

Agora, ao assunto inescapável que me trouxe de volta: abriu uma loja do Christian Louboutin no shopping Iguatemi. É a maior que já vi - tem oito janelas de vitrine, é praticamente uma exposição. A lojinha que eu conhecia, no Village, em NYC, tinha duas vitrines e a gente enfiava o nariz para olhar dentro. Esta é ampla, iluminadíssima, com cara de galeria de arte.

É de chorar de tão lindo.

Passei um tempo indo e vindo, parada diante de obras como o peep-toe madrepérola aí de cima, que parece ter sido desenhado para a Princesa Aurora*, ou os gloriosos pumps (que a gente chamava de escarpin em 1990), de cores espetaculares e cortes inacreditáveis. E aquela sola vermelha. Cretina. É só este detalhezinho e o sapato agora acende quando você anda ou cruza as pernas.

Na verdade, parece até errado uma coisa tão bonita como esta ser acessível a qualquer mortal com muito dinheiro. Deveria haver um concurso, um tipo de seleção: "Qual é sua banda favorita?" "Vitor e Léo" "Pééééééé!" Eliminada! Não pode comprar este sapato. "Quem foi o ultimo ganhador do BBB?" "[resposta correta]" "Pééééééé!" Eliminada! Ahahahaha!

Tá, eu sei, é kind of nazista da minha parte. Provavelmente é pura mágoa, já que não vou ter um sapato destes por enquanto. E corta o meu coração imaginá-lo em pés menos merecedores, que não o apreciem tanto quanto os meus.

Oh... deixa pra lá. :-)


P.S.: Vale conferir também na web a colaboração de David Lynch e Christian Louboutin: a exposição fotográfica Fetish , em cartaz em Paris. Beeeem legal.


* a.k.a. A Bela Adormecida

terça-feira, 16 de junho de 2009

produções

Anna Toledo



Daniel Salve finalizou seu primeiro disco - Psychotropic - e está na fase de distribuição manual e divulgação corpo-a-corpo, muito familiar aos artistas independentes. Ganhei meu exemplarzinho - olha que privilégio - e me encanto a cada nova audição. O Dani é um hitmaker, as canções estão incríveis. Confiram no my space dele: www.myspace.com/danielsalve

Guto Barra estréia seu novo documentário - Beyond Ipanema - dia 17 de julho no MoMA, em Nova York. Há cinco anos assisti o rough cut deste trabalho, lá na casa dele. De lá para cá, Guto (junto com o Béco Dranoff) pesquisou mais, reescreveu, jogou tudo fora, desistiu umas cinco vezes, montou tudo de novo. Agora vai estrear no espaço mais nobre possível. Eu não podia estar mais orgulhosa.

E daqui uma semana tem show novo no All of Jazz . Somos eu (Anna Toledo), Adriana Capparelli e o Gui Terra apresentando canções românticas modernas em estilo jazz-cabaré - tipo Burt Bacharach, Michel Legrand, tem até Kate Bush e Camille. Por aqui, a gente segue cantando.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

notas para um verão, talvez

Em NY estréia Noite de Reis, de Shakespeare, no Delacorte Theatre. No elenco, Anne Hathaway faz Viola, Raul Esparza é Orsino e Audra McDonald é Olivia.

No Central Park, de graça, durante todo o verão (junho a agosto).

Tá bem na minha lista, junto com a nova montagem de Hair e a peça nova da Yasmina Reza (The God of Carnage) com o James Gandolfini no elenco.

e duas notas de repúdio à atual coleção outono-inverno:

1o. Quem inventou a calça sári estava de sacanagem. Vem cá. Ninguém percebeu ainda? Aquilo é feio.

2o. A bata não precisa ser o traje obrigatório para todos os tipos de evento social. Nem fica bacana em todo mundo.

Nem vou entrar na falta de imaginação da paleta de cores dos shoppings... Ou eu não recebi o memorando onde dizia que neste inverno só podia vestir roxo e verde-oliva. Cruzes.

Ou seja, back to brechó.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Papelaria e Copiadora*


Bob foi até o balcão do xerox, com seus livros e uma pasta de papéis. A balconista aproximou-se. Usava um bottom amarelo, grudado à altura do peito. Bob abriu um sorriso, lendo a inscrição no broche:

- Bom dia, Jussara.

Ela pareceu surpresa. Devolveu a saudação com um aceno de cabeça. Bob continuou:

- Jussara, você pode fazer cópia para mim deste material aqui? Não precisa ser frente e verso. E o livro é só o capítulo 8.
- Só um minuto.

A tal Jussara sumiu para o fundo da loja, carregando o material a ser copiado. Bob escutou algumas vozes e, dali a pouco, outra balconista veio. Esta usava óculos - e o mesmo bottom no casaco.

- Senhor? Nós não fazemos cópia de livros.

Bob olhou para o broche com o nome da atendente. Puxa! Que coincidência! Engrenou o sorriso e insistiu:

- Olá, Jussara, tudo bem? Veja só, eu não estou pedindo para copiar o livro inteiro. É apenas um capítulo.

A balconista estava levemente intrigada. Parecia incomodada. Sacudiu a cabeça e disse:

- Senhor, não podemos copiar nenhuma parte de livro. Se quiser, faço as cópias dos outros documentos. Fica oito reais.

Bob foi até o caixa, resignado. Desapontado com a frieza e a impessoalidade dos paulistanos. Abriu a carteira, estendeu uma nota de dez. Ao pegar o troco com o rapaz, olhou o nome escrito no seu bottom amarelo: Jussara.


Papelaria Jussara. O nome estava na placa, virada para a rua. Bob não voltou mais lá.




*como me foi contada pelo próprio Bob, meu amigo goiano-parisiense

segunda-feira, 18 de maio de 2009

A tragédia dos erros




Recomendo bem. Pela oportunidade de ver em ação um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos - o material levantado pelo documentário é riquíssimo - e pela oportunidade de reflexão que a história oferece. O ocaso de Wilson Simonal é um dos mais aterradores episódios da música brasileira - pelo nível de celebridade que ele gozava antes de cair em desgraça e pela sucessão de erros trágicos que levaram ao seu ostracismo artístico.


Não há como ignorar. Não há como dizer "vão ver o filme para ouvir a música". A história de Simonal também é a tragédia da prepotência de um artista e da intransigência de uma sociedade; também é a tragédia de uma época em que ser alienado era tão perigoso quanto ser engajado.


Mas vão ver o filme para ver Simonal cantando, também. É uma maravilha.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Trabalhinhos

Juliana pegou outra gravação difícil: é às cinco da manhã, no depósito de um hipermercado da Zona Norte, sem aquecimento, numa semana em que o outono resolveu falar alto em São Paulo. Para piorar, não tem camarim: os atores tentam se arrumar dentro de um banheiro usado pelo pessoal da manutenção. O pessoal da manutenção, por sua vez, nunca se divertiu tanto.

A gravação é para um vídeo interno de treinamento, dirigido apenas aos funcionários de uma empresa. Na prática, isto quer dizer que o cachê é significativamente mais baixo, uma vez que a paga de um trabalho é proporcional à sua praça de veiculação. Se um comercial de veiculação nacional paga uns sete mil reais para um ator, hoje (em média), um vídeo de treinamento paga...

- Cento e cinqüenta reais?! – Juliana, indignada.
- Se você der nota – explicou a agente, ao telefone, quando passava o trabalho para a atriz – Caso contrário eu preciso descontar mais 13%.
- Caramba... – Juliana, conformada. – Eu arranjo uma nota. Mas vê se você vai atrás daquele pagamento meu que está atrasado!
- O que é que eu não faço por você, amor?

A ligação foi cortada, deixando Juliana com várias alternativas de resposta. Dezoito horas depois, ela está batendo os dentes ao lado de um display de produtos de limpeza, enquanto a diretora do vídeo mede a luz da gôndola e o reflexo das garrafas de sabão em pó líquido na sua pele.

- Ela está com olheiras. E o cabelo precisa prender.

Volta para a maquiagem. Dentro do quarto de vassouras, acocora-se com um secador e uma escova, enquanto repete: “Cento e cinqüenta reais”. “Cento e cinqüenta reais”.

- É um luxo ter alguém como você nesta gravação!

A diretora está sorrindo. Gostou de todos os takes, gostou do humor, gostou, principalmente, de não ter que repetir nada. Juliana aceita o elogio, com um aceno de cabeça.

- Vamos trabalhar mais juntas! – a diretora diz, entusiasmada. Juliana sorri de volta, querendo dizer “claro que sim”. A diretora continua:
- E se você estiver precisando de um trabalhinho, me fale.
- Bem, na verdade – Juliana entrega, abrindo os braços ao redor – eu estou precisando, sim. Estou aqui, fazendo este trabalho por cento e cinqüenta reais, porque estou precisando muito.
- Ah, pode deixar!

A diretora abre a carteira e Juliana sente uma onda enorme de vergonha. “Ela vai me dar dinheiro?” Tem vontade de falar, de impedi-la, mas está paralisada. Por fim, a mulher encontra um cartão, tira-o da carteira e mostra-o, como um amuleto:

- Aqui – ela sacode o cartão – você vai ligar para este número. Anote aí.

Juliana anota o número, com o coração aos pulos. A diretora continua:

- O nome da pessoa é Dalva. Fala que fui eu que te indiquei. A consulta custa cem reais. Ela abre todos os caminhos.

Hein?

- Estou falando sério – a diretora continua, diante da cara incrédula da atriz - Quando eu saio de uma sessão da Dalva, no portão o meu telefone já começa a tocar. Pense nisto como um investimento. E guarde este número!
- Obrigada – é o que Juliana consegue murmurar.
- De nada! Gostei de você!

Na van, de volta para casa, Juliana olha para o número gravado no celular. Os cento e cinqüenta reais da gravação vão cair no mês que vem, mediante entrega da nota fiscal. Dalva não abrirá seus caminhos.

a propósito da Nova Lei Rouanet

O INGRESSO DE TEATRO É BARATO

por Claudio Botelho*

Dentro de tudo o que tenho lido a respeito das novas proposições para a Lei Rouanet, incluídas aí as críticas e os apoios, uma questão me chama a atenção por estar sendo vendida como uma verdade absoluta, quando de fato é justamente o oposto: a questão do preço dos ingressos.
Os ingressos do teatro no Brasil são muito baratos. Não é verdade que nós cobramos ingressos caros para espetáculos que foram patrocinados com dinheiro público. Vou usar o exemplo da “Noviça rebelde”, espetáculo ao qual estou intimamente ligado e sobre o qual posso falar abertamente, para mostrar o quão distantes estamos de qualquer realidade competitiva praticando os preços que praticamos.

Nossa “Noviça” é, em tamanho do elenco, orquestra, técnicos e equipamentos de luz e som, exatamente do mesmo tamanho que o mesmo espetáculo montado recentemente em Londres, por exemplo. O ingresso mais caro lá é 60 libras, o que equivale a R$ 196.

O ingresso mais caro aqui é R$ 180 reais, e este preço se refere a pouquíssimos lugares no setor mais caro da plateia. Parece semelhante? Pois imagine se que um produtor de um espetáculo como este em Londres faz oito sessões semanais em teatros com pelo menos 1.500 assentos (no mínimo), enquanto que nós trabalhamos com no máximo seis sessões e em teatros cuja média de assentos geralmente não ultrapassa os 1.000 lugares, quando muito. (Não esquecer que aqui — e não lá — existe um descalabro que atende pelo nome de meia-entrada, ok?) Lembremo-nos ainda que este mesmo espetáculo em Londres fica, quando é sucesso, pelo menos três anos em cartaz — sendo que há os que ficam mais de uma década — enquanto nós consideramos um sucesso no Brasil qualquer peça que ultrapasse a barreira dos seis meses. O produtor de um espetáculo bastante similar ao nosso em Londres, Nova York ou qualquer cidade do primeiro mundo tem oportunidade de ver seus investimentos voltarem com prazos no mínimo cinco vezes mais largos que os nossos. Isso só para começar o paralelo.

A comparação não é boa? Por que não? Nós aqui pagamos os mesmos atores, músicos, bailarinos, técnicos, anúncios — ou alguém acha que um grande espetáculo de teatro como os grandes musicais é feito na base da camaradagem? Musical se faz com salários, não é uma ação entre amigos. Ninguém trabalha num musical pra ver o que vai dar na bilheteria e dividir igualmente os “lucros” depois. A folha de pagamentos da “Noviça rebelde” brasileira (que é apenas o meu exemplo) contempla mensalmente 75 profissionais, entre atores, músicos e técnicos, todos assalariados.

Apenas os grupos de produtores aos quais estou ligado profissionalmente mantêm em cartaz atualmente sete espetáculos de teatro no eixo Rio-São Paulo, empregando ao todo mais de 500 pessoas. Elas recebem o quê? Um agrado da produção? Um abraço, um beijo e uma permuta na pizzaria? Os direitos autorais de um grande espetáculo musical variam entre 11% e 15% da bilheteria.

Os teatros no Brasil cobram um aluguel geralmente de 25% da receita. Basta fazer a conta para entender que o que sobra para uma produção gerir seu negócio e pagar todo mundo é pouco mais de 60% da arrecadação. Agora, dá pra ouvir que nosso ingresso é caro e ficar calado? Ora, nós trabalhamos é no limite do impossível, isso sim! É uma ilusão achar que os patrocínios via Lei Rouanet conseguem arcar com os salários de toda essa gente. O patrocínio é fundamental para que se abra o pano e se coloquem em cena os grandes espetáculos, caso contrário os ingressos teriam que custar ainda cinco vezes mais do que custam, o que seria inviável para qualquer temporada.

Mas depois de estreado um grande espetáculo, a bilheteria é fundamental para mantê-lo funcionando. E grandes espetáculos só resistem em cena se houver mais de 70% da platéia lotada, caso contrário é fechar o pano e ir pra casa contar o prejuízo. Ninguém monta um grande musical pra se exibir para os amigos, os críticos, ganhar prêmios no fim do ano. Ou o público vem ou estamos fritos.

Ingressos mais baratos: eles existem. O preço que citei aqui é o do valor máximo, desconsiderando que a maior parte dos frequentadores de teatro no Brasil tem, sendo estudante ou idoso, 50% de desconto nos ingressos. A aberração da meia-entrada é assunto para outra discussão, mas fora isso, há ingressos em setores menos concorridos da plateia a preços muito mais em conta que os R$ 180 citados. E a famigerada carteirinha vale pra tudo isso.

O que importa é que, se queremos continuar a ter espetáculos de grande porte no país, temos de entender que eles custam caro. E a média de público de um espetáculo como a “Noviça rebelde” é, posso garantir, muito maior do que a maioria dos espetáculos “baratos” em cartaz nos grandes centros. O fato de ter um ingresso barato não garante a qualidade de um espetáculo.

Há peças a R$ 10 que não fazem nem dez pagantes em três sessões por semana. Agora, pensemos bem: alguém obrigou 200 mil pessoas a assistirem a “Noviça rebelde” até agora? Ou foi uma opção pessoal de cada um ir lá e pagar o ingresso “caro”? Não há a menor possibilidade de continuarmos a ter grandes musicais no Brasil se pensarmos em baixar os preços dos ingressos. Sugerir que nossos preços são altos é o mesmo que sugerir que um restaurante cinco estrelas não deva cobrar o que cobra por um prato de risoto. Ou que lojas de shopping não cobrem R$ 500 por um jeans rasgado. Cada um vai ao restaurante que quer e compra o jeans que quiser, há escolhas e, que maravilha!, vivemos no Brasil e não na Venezuela.

O patrocínio e a subvenção são apenas o start necessário para que um grande espetáculo consiga ganhar a cena. Imaginar que podemos fazer o que fazemos, empregar as multidões de artistas e técnicos que empregamos de verdade, com salários e condições dignas de trabalho — sem patrocínio e cobrando preço de arquibancada de futebol é debochar do nosso ofício. Ou ainda — como parece ser a nova “onda” das reformulações na Rouanet — sugerir que as faixas de renúncia fiscal para as empresas que patrocinam o teatro sejam algo menor que os 100% de hoje em dia é decretar definitivamente que o teatro brasileiro voltará a existir em suas velhas três sessões por semana, um paninho pendurado no fundo do cenário, um refletor e um ator dizendo poemas em cena. Tudo isso é lindo, digno, culto e tem elevados méritos artísticos — mas para onde vão os nossos 400 assalariados? E pra onde vai o público de 200 mil pessoas que veio nos assistir só na “Noviça rebelde” —, para uma locadora de vídeo?

Claudio Botelho

* Artigo publicado no Jornal O Globo em 13/05/09.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Dia das Mães*

Cinco da manhã em Ribeirão Preto. Regiane e seu noivo, Luis, espanam o sono dos olhos enquanto alongam rapidamente coxas e panturrilhas a caminho da rua. Ainda não há sol, mas é preciso sair logo, pois o calor promete ser inclemente dentro de poucas horas e o treino será longo. Cinco minutos atrás, eles engoliram dois nacos de pão com manteiga e beberam um gole de suco de soja – não dava tempo de passar um café e iriam acordar o resto da casa. Agora já começam a trotar pelas calçadas da cidade vazia, num domingo em que as mães acordarão mais tarde.

Nem tão tarde assim, porém. Às nove, quando os dois estão de volta da corrida, encontram a mãe de Regiane desasada, aflitíssima, à porta da casa:

- Graças a Deus! Eu ia chamar a polícia.
- Mas, mãe – Regiane tenta acalmá-la – Eu avisei, ontem, que nós íamos correr.
- Correr pra onde?
- Correr, mãe. Por aí.
- Mas precisa correr tanto?
- Mãe, a gente está treinando para a maratona.
- Sei – a mãe sacode a cabeça.

Regiane e Luis ensaiam entrar na casa. Hesitam. O noivo coça a testa, encarando os novos parentes – sogro, cunhadas, todos intrigados, sentados à mesa do café. Dia das Mães com a família da noiva e a sensação de ser um alienígena suado.

Sentam-se para o café. Fazer o quê? Lavar o rosto e conversar. A irmã pergunta novamente o porquê da correria uma hora daquelas. Um tio comenta que Regiane já está magra demais para fazer tanto exercício. É o gancho para a outra irmã acrescentar que Regiane deveria fazer musculação, ao invés de corrida, pois o exercício aeróbico emagrece demais.

Calada, a mãe observa a filha mais velha se explicando, o novo genro esticando os lábios em direção às orelhas, na tentativa de sorrir. Serve-se de um copo de café e pergunta:

- Minha filha, e depois?
- Depois o quê, mãe? – devolve Regiane.
- Você corre esta maratona... e depois, o que acontece?

Regiane suspira.

- Não acontece nada, mãe.

A mãe dá um sorriso. Vitoriosa. Corta dois pedaços de bolo de milho e serve-os para a filha e o genro exaustos.



*um agradecimento especial à Renata Briani, que me contou a história que inspirou esta croniqueta.

terça-feira, 12 de maio de 2009

vão ver vik



Vik Muniz - Medusa Marinara



Há uma retrospectiva de Vik Muniz no MASP, em cartaz até junho. É uma oportunidade estupenda de conhecer ou reconhecer a abrangência e o alcance deste artista magnífico.



O que mais me assombra no trabalho de Vik Muniz, à parte o virtuosismo que sugere uma obsessão, é a sua comunicação imediata e poderosa. Pela escolha dos elementos e das mídias, os seus retratos ganham camadas e mais camadas de história; tudo ganha um subtexto, uma sensação adicional à primeira impressão. A sua obra sempre convida: olhe melhor, olhe atentamente.



Curioso; para fins de catálogo, Vik Muniz é definido como fotógrafo. Realmente, todas as suas obras são exibidas neste suporte final: a fotografia. Mas o jogo começa aí para o espectador, que pensa enxergar uma tela, depois entende que está vendo a foto de uma escultura, ou de uma colagem, ou ainda de uma pintura que foi fotografada propositalmente sem foco. É um jogo de ilusões, ou ainda um discurso eloquente sobre a percepção da realidade.



Voltarei ainda umas duas vezes, pra olhar de novo. Quem quiser ir comigo, pode me chamar.



Vik Muniz - Garbage Works

segunda-feira, 4 de maio de 2009

excesso de humildade é antipatia

Estava parada na saída do teatro, ontem, quando uma senhora se aproximou:

- Oi... Você é...
- Acho que não - cortei, tentando ser educada, mas já desencorajando a abordagem. É recorrente me confundirem com a Estela Ribeiro - que faz o personagem da Baronesa - na saída do espetáculo e ficarem desapontados ao saber que eu interpretei uma das freirinhas. O pior é o fato da Estela sair quase sempre incógnita do teatro, pois ela está irreconhecível no palco, com uma peruca ruiva e curtinha, e realmente parece mais velha em cena.

- É você sim, não é? - a senhora chegou mais perto.
Sorri e fui me afastando, abaixando a cabeça.
- Você não é a Anna Toledo? - ela insistiu.
- Oi?
- Eu sou a Joyce, de Curitiba. Não lembra de mim?

Puuuuutz.

Era a maestrina do Coral Curumim. Eu estava tão incomodada com a provável confusão que nem olhei pra cara dela. E depois fiquei tão sem-graça que nem consegui perguntar como iam as coisas, mandar lembranças, etc. Um horror. Se alguém de Curitiba ler este post e encontrar a Joyce, por favor, peça desculpas por mim pelo mau-jeito. E mande as minhas lembranças ao querido Coral Curumim. Obrigada.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Feriadão

Assunto: Churrasco do Dia do Trabalho
Att: todos os funcionários


Queridos amigos e colegas!
Na próxima semana comemoramos do Dia do Trabalho! Como é de praxe, teremos uma festa de confraternização e, este ano, o Sr. Geraldo ofereceu o sítio para um churrasco. Os colegas que foram à festa, em anos anteriores, vão lembrar que o local é realmente muito agradável e propício a um evento deste porte.

A Dona Aline, esposa do Sr. Geraldo, ficou muito satisfeita em receber novamente o pessoal da empresa. Ela só pede que não façam bagunça como da outra vez, que não joguem os restos da carne na piscina, que não escondam as latinhas de cerveja vazias entre as almofadas do sofá e que esperem para usar o banheiro um de cada vez. Para evitar aborrecimentos, ela pediu uma caução de 50 reais por pessoa, a ser entregue na porteira do sítio para o Seu Neto, e que será devolvida na saída, caso o convidado não tenha destruído nada. Ela concordou em abrir mão do processo de danos morais que movia contra a empresa desde 2001, contanto que o Dr. Nivaldo concorde em permanecer de bermuda durante toda a festa e que a empresa pague o acordo devido até esta sexta feira, anterior ao sábado do churrasco.

Para evitar que alguém deixe de ir, ou se perca, sugerimos uma caravana para sairmos juntos de São Paulo em direção ao sítio do Sr. Geraldo. Assim as caronas ficam organizadas e todos saem e chegam no mesmo horário. Atendendo a maioria dos pedidos, o horário da saída ficou às 7:00, para chegar logo e ir esquentando a grelha. Ainda que para alguns pareça cedo, é importante lembrar que a Dona Hortênsia pediu para voltar antes das cinco, por causa da artrite, e a Dona Mara, da Contabilidade, só pode ir se for para voltar antes da novela das 6, porque, como todos sabem, a filha dela está atuando e ela – a dona Mara - ainda não aprendeu a gravar no DVD.

O local da saída será o estacionamento do Bar Bicha, nos fundos da loja de móveis Cesco, em frente à praça Benedito Calixto, em Pinheiros. Para facilitar o encontro, pedimos que todos esperem fora dos carros, se não estiver chovendo. Ou ainda, podemos nos encontrar todos na própria praça, que é mais fácil de achar. Para os que não sabem chegar no estacionamento do Bar Bicha, haverá uma pré-caravana saindo às 6:30h do Centro Cultural, no Metrô Vergueiro, em direção à praça Benedito Calixto, em Pinheiros. Pedimos a todos para não haver atrasos e não questionar a organização da caravana, que foi cuidadosamente estudada pelo nosso departamento de logística. O Sr. Mathias, do Departamento de Logística, também avisa que oferecerá um desconto para os carros que ficarem no estacionamento do Bar Bicha, de propriedade do seu tio Jonas.

Este ano, a Dona Jussara não vai comprar a carne, pois alega que todo mundo só come lingüiça e coraçãozinho, reclama que não tem picanha e joga metade da alcatra fora assim que ela esfria. Ficou acertado, então, que cada um deve levar a carne que pretende comer. Quem levar frango não pode mudar de idéia, depois. O churrasqueiro será o Rafael (Mosquito), do setor de limpeza. O Sr.Giuca e o Sr. Leonardo farão a provisão do carvão e do álcool. O Sr.Giuca também ficou de buscar o Mosquito no Jardim Letícia, às cinco da manhã do sábado, mas este último já avisou que talvez ele venha direto do forró – e neste caso, não será preciso buscá-lo.

Finalmente, pedimos a compreensão de todos para o assunto da sobremesa. Uma vez que foi decidido que a sobremesa é opcional, solicitamos que aqueles que desejem trazê-la, que o façam de modo discreto e comam em local afastado. Não podemos esquecer do lamentável incidente do ano retrasado, quando o Sr. Miguel Jorge, hoje afastado dos nossos quadros, chamou a Dona Terezinha de “gorda esganada”, porque ela não ajudara a comprar o sorvete, argumentando que estava de dieta, e tinha comido tudo.

Contamos com a presença de todos. Estamos certos de que será um dia de grande alegria e festa! Sem mais, atenciosamente,

Joana Ribeiro
Comissão de Relações Públicas e Eventos


Anexo a esta circular, vai um mapa com as direções para o Sítio do Sr. Geraldo. Contamos com a ajuda do Dr. Roberto Mirto, do Jurídico, único que lembra exatamente onde é para pegar a faixa 4 da Dutra para a Fernão Dias e onde fica a alça para Mairiporã. Sugerimos a todos que fiquem com seus celulares ligados na estrada e evitem os trotes, pois o Sr. Elpídio teve sérios problemas familiares na última festa, quando foi parar em Belo Horizonte devido a uma indicação errônea.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

How to Be Fofa: The Software

Não interessa se a mulher tem dois diplomas, MBA em Tecnologia do Conhecimento, carteirinha da OAB, ou se traduziu um livro de poemas simbolistas elogiado pela Hilda Hilst. Assim que senta ao lado do namorado na cadeira do cinema, roda no seu cérebro um programa chamado “Fofix”. Imediatamente, esta mesma mulher começa a fazer perguntas do tipo:

- Ué, mas ele morreu? (...) E este aí? É o bandido? (...) Mas pra onde eles foram?

“Fofix” tem a função primária de ativar a masculinidade do parceiro: o homem se sente infinitamente mais forte e capaz do que aquela coisa linda que não consegue acompanhar a trama sozinha. Costuma ter bons resultados, pois o macho se torna mais carinhoso e protetor, mas passará o filme explicando tudinho para a namorada:

- Não, meu bem. Espere que ele vai aparecer. Querida, o bandido é aquele ali de preto. Eles vão fugir dos bandidos que querem pegar eles,entendeu?

- Aaaaahhn...

(Segue-se o som de um pacote de papel sendo remexido. O homem coloca uma pipoca na boca da fofa em questão. Som de beijinhos.)

O programa “Fofix” não vem de fábrica, a instalação é opcional e pode ocorrer a partir de qualquer idade, sendo a adolescência o período mais indicado. As usuárias do programa garantem estar muito satisfeitas com os resultados obtidos.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

faz falta o quê


o meu coração
o meu coração, meu coração
meu coração, nem nada.

minha cabeça é que vai, volta, estanca e cansa
meu pensamento é que me cerca e me falta.

sábado, 18 de abril de 2009

gato espiatório


Meu gato anda com vontade de conhecer a rua. Espia pela fresta da porta e mia longamente, desde que escapuliu, ontem à tarde, e passou quase duas horas fugido. Foi recuperado pela vizinha, que ligou para o número gravado na coleira. Não vou nem comentar o meu estado de nervos, apenas digo que metade do camarim comemorou o telefonema.

Wilbur, o gato, ficou tão eufórico com a experiência da liberdade total que não foi pra cama ontem à noite. Dormiu na sala, olhando a janela. Só quando amanheceu é que subiu pro quarto. Ô, dó...



quinta-feira, 16 de abril de 2009

7 - O Musical

Ai, meu coração...



Assisti a um ensaio geral de 7 - O Musical ontem à noite, no Teatro Sérgio Cardoso. Voltei para casa com o coração aos pulos, certa de que tínhamos visto a preparação de uma obra-prima. Ainda no calor da hora e com o entusiasmo de quem foi encantada, não tenho nenhum pudor em afirmar que apareceu um grande musical brasileiro para o século 21.

7 tem música original composta por Ed Motta, letras de Cláudio Botelho e texto de Charles Moeller. A música é des-lum-bran-te, complexa, com fortes passagens jazzísticas, mas muito ritmo e harmonia brasileiros, a orquestração é genial, cheia de cordas dedilhadas, leve, chorona, valorizando as vozes, é tudo muito bonito. Eu preciso ouvir isto mais dez vezes.


O roteiro, excelente, macabro, fecha todas as pontas. Bem contado, rico em personagens interessantes, apresenta bem a história e seus protagonistas. Conta a história de uma mulher - Amelia - que faz um trabalho de magia negra para ter seu homem de volta. Ao mesmo tempo, há um paralelo com a história da Bruxa, que deseja destruir Branca de Neve por sentir inveja da sua beleza. As histórias se fecham. Não me perguntem como: Vão assistir 7.




Se a obra é brilhante, a montagem não foi menos do que genial na escalação do seu elenco: a escolha de Rogéria e Zezé Motta, como os dois pólos místicos da peça, foi de uma felicidade absurda. Eliana Pittmann tem uma voz rouca ancestral que convence qualquer um de sua sabedoria. E Susana Fainni, que entrou substituindo a saudosa Ida Gomes, está igualmente magnífica.

Alessandra Maestrini é uma força da natureza. Alessandra Verney é perfeita como a mulher mais linda do mundo, pois até quando está horrível traz uma delicadeza e uma fragilidade de princesa. Jarbas Homem de Mello é um ator corajoso e emocionante.

Exacerbei? Tô transbordando de entusiasmo. Repertório novo, peça nova! Viva!

A estréia oficial em São Paulo está marcada para sexta feira.


Gente, e só pra deixar registrado: a Zezé Motta é uma loucura! É ridículo que esta mulher não tenha se transformado numa Deusa Pop aqui no país.

Mais um bom motivo para ver 7 - o Musical: Zezé Motta em todo o seu esplendor.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Moshi-Moshi


É muito bom ter um blog, pela absoluta falta de compromisso - com a coerência, a consistência temática, enfim. Hoje, por exemplo, vou falar do que comi na noite passada.

Descobri há pouco tempo, lendo num livro de viagens do Antoine Bourdain, que o sushi e o sashimi não são exatamente considerados comida para os japoneses. São iguarias, sim, servidas antes da refeição principal. E é só o que nós, brasileiros, conhecemos e comemos. Para fazer um paralelo bem paulistano: seria como se nós fôssemos numa magnífica cantina e nos contentássemos em almoçar pão com sardella.

Munida desta nova indignação, e do meu caderninho com endereços valiosos de restaurantes na Liberdade - fornecidos pela Sheli, minha amiga japonesa com certificação de origem - resolvi ir ao Kaburá e encarar aquele cardápio com fotos de pratos desconhecidos.

Já tinha ido ao Kaburá uma vez, sentado no balcão e observado os sushimen gritando "Haaaaaaai" e "Iokonokosonokoioko" (ou algo semelhante) a cada cinco minutos enquanto cortavam os peixes e jogavam crustáceos gigantes na panela. Mas da primeira vez eu tomei saquê e comi - reconheço - o melhor sushi da minha vida. E foi só isto. A verdade é que eu tinha sido intimidada pelas 30 páginas do cardápio - só fotos.

Desta vez eu sabia que tínhamos que pedir sushi só de entrada (porque o sushi de lá é imperdível), mas era imperativo escolher um prato. Acabamos escolhendo uma espécie de loucura que eu nunca vou lembrar o nome, algo com nogu-nogu, ou chamu-chamu, e que era um festival de legumes, peixes e temperos aferventados numa panela, sobre a própria mesa e depois mergulhados num molho megapicante.

(era o príncípio de um sukiaki, mas no sukiaki vai carne, ovo, arroz, a panela é diferente e o molho é outro, então, bem, era diferente, ahaha.)

Saímos do lugar quase duas horas depois, passados. Um novo portal calórico se abrira para nós.

...
Muito além do sushi

Na Liberdade, a maioria dos restaurantes serve refeição japs, é só saber pedir. O Kaburá fica na rua Galvão Bueno, é uma portinha com cara de bar. De restaurante, tem o Takô, que tem uma refeição completa incrível (com um pudim de ovo memorável), na rua da Glória. E tem vários na Tomás Gonzaga, todos cujos nome e aparência desafiam minha memória: são portinhas de correr, uma ao lado da outra, e ninguém fala português direito, mas a comida é ótima.

Je ne regrette rien

Hoje foi a missa de 7º. dia do Francarlos Reis, na Igreja da Consolação.

Por algum motivo familiar que não pôde ser resolvido de jeito nenhum, o velório e o sepultamento do Fran foram em Campinas. Ou seja, quase nenhum amigo conseguiu se despedir dele direito, já que ele vivia em São Paulo há trocentos anos.

Na sexta feira passada fizemos uma espécie de cerimônia de despedida no Luna de Capri, o bar onde ele vivia. Alguns colegas de elenco foram e beberam o seu drinque favorito – a caipirinha de abacaxi com steinhegger – em sua homenagem. Seguiu-se uma salva de palmas. Quem foi ficou quase satisfeito.

Hoje foi o dia da classe artística inteira aparecer. Foi bem bonito. Foi emocionante e triste, também. Tem horas que a gente fica completamente perdido, vendo o colega rendido, chorando. Tive muita vontade de pular vários bancos e ir abraçar o Marcos Caruso, que parecia de papel, de tão triste que estava.

A missa foi celebrada com a participação dos artistas amigos. Etty Fraser leu algumas passagens bíblicas. Juca de Oliveira falou ao final (lindamente). Carlinha Cottini abriu a missa com a Valsa de Musetta, de La Bohème e cantou a Ave Maria, de Gounod. Saulo Javan cantou Somewhere, de West Side Story, na comunhão. Eu tive a honra incrível de encerrar a missa, cantando Non, Je Ne Regrette Rien, da Edith Piaf.

Foi um dia bonito, uma cerimônia importante. Acho que estamos bem. Com saudades, sim. Mas estamos resolvidos.

sábado, 11 de abril de 2009

luxo do século

Tempo é uma coisa muito luxenta.

O tempo é o tecido da vida, li em algum lugar. Adorei o conceito. Mas não refleti mais demoradamente, por pura pressa.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Francarlos Reis (1941-2009)

Francarlos Reis (1941-2009)

Foi embora hoje à noite, dormindo.

Estava num momento muito bom da carreira, fazendo sucesso com o Tio Max, na Noviça Rebelde, roubando a cena, para variar, e ganhando aplausos e gargalhadas em cena aberta.

Antes tinha feito uma peça de Edward Albee, da qual tinha se orgulhado muito - e obtido sucesso comercial, vejam só.

E antes ainda tinha posto a casa abaixo em My Fair Lady, no papel de Doolittle. Lá a gente contracenava numa cena pequenina, mas muito divertida. Ele era um ator generoso, que gostava de conhecer gente nova e jogar com a bola que estivesse disponível.

Fico com muita saudades, desde já. Lá na peça, a perda é irrecuperável. Para nós, que temos o privilégio de nos chamar de colegas e amigos do Francarlos, fica, além da saudade, o compromisso de honrar o palco, o jogo, a alegria de estar em cena, sempre.

Vai ser foda, Fran. Se cuida. Um beijo.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

teoria do caos

Hoje a Neide limpava meus livros, quando comentou: "Isso aqui está uma bagunça". Ao que eu respondi: "E você fez tudo isto sozinha!"

Atualmente, as obras completas de Shakespeare estão junto com o Dicionário Alemão - Português e o Guia Quatro Rodas Fim de Semana em São Paulo. Há um sistema. Deve haver algum tipo de associação (livros grossos? capa escura?).

Os Saramago foram desbaratados. Cheguei a achar que um maníaco tinha passado aqui em casa e levado meu Ano da Morte de Ricardo Reis. Nada. A Neide levou-o para passear na prateleira de biografias. Está do lado do Freud e do Billy Wilder. Vejam. Há um método.

Os livros de poesia foram anexados à prateleira de livros estrangeiros, na língua original (estaria a Neide querendo dizer algo? ). É sério. Ela misturou os meus guias de viagem com O Mundo É Plano, ahahaha. Finalmente, (que nada) ela empilha sem a menor cerimônia o que não consegue recolocar e deixa um livro sobre o outro, em colunas assimétricas. Não deixa de ser engraçado, quando eu não estou com vontade de matá-la.

- É por isto que o Dr. Marcel não deixa eu mexer nas coisas dele. - conclui a Neide, com o desplante de uma bananeira, enquanto termina de passar o pano na estante.

segunda-feira, 30 de março de 2009

a minha companhia


Às segundas feiras um coral ensaia aqui ao lado de casa. É o coral da faculdade de Belas Artes, ou o coral da Escola de Marketing, tanto faz, é igualmente simples e reconfortante.


Segunda feira é um dia que passo em silêncio, acomodando as idéias, escrevendo; às vezes letárgica, bebendo café a tarde inteira; às vezes lendo revistas e websites ao mesmo tempo e vendo filmes reprisados na TNT.


Tenho idéias antigas às segundas feiras. As idéias novas vêm durante a semana (uso a velha acentuação na segunda feira).


O coral aquece a voz em escalas de cinco notas ascendentes e descendentes. A ordem e a familiaridade do exercício me acalma. Me faz entender onde está a minha casa.


Varrida que estou - não tão cansada, mas confusa - a ordem das vozes me alinha, piedosamente, o espírito. Sem que nenhum tenor perceba, sem que nenhuma contralto se dê conta por achada, estou menos só do que estava há meia hora atrás. A voz deles me acordou para mim.




quinta-feira, 26 de março de 2009

who watches the watchmen? i do


Tentarei ser breve sobre Watchmen, o filme de Zack Snyder baseado nos quadrinhos de Alan Moore e Dave Gibbons.


Sou uma das fãs da graphic novel original, e por fã vocês fiquem à vontade para imaginar uma pessoa que levava estes quadrinhos consigo, na bolsa da escola, até a hora de dormir. Eu sei de memória o diálogo de Marte entre Dr. Mannhattan e a Júpiter/Laurie e não me orgulho disto.


Portanto, quando digo que gostei da maior parte da adaptação para o cinema, é porque realmente acho que o Zack Snyder foi certeiro na caracterização dos personagens e na transposição da história... até o desenlace, que foi a coisa mais chunchada* que ele poderia ter escrito.

Tudo bem que para contar a historia original teria que ser um filme da metragem do Senhor dos Anéis. Mas a solução que ele encontrou ficou confusa para quem não conhece a história original e decepcionante para quem leu a revista.

Ele retoma o epílogo original, mas aí as coisas não têm tanto sentido. Enfim. Acreditem ou não, o filme continua sendo bem assistível, mesmo com um final imposto a fórceps. O elenco está bem bacana, adorei a trilha sonora e amei o Rorschach e o Comediante.



*chuncho: palavra egressa da minha adolescência, quer dizer coisa mal-feita, arremedo, farsa.

antes e depois


Segunda feira fui ao teatro ver A Alma Imoral, com Clarice Niskier.

Pronto, falei bem rápido, pra não elaborar.

Na verdade, fui na segunda retrasada. Estou processando desde então. Até peguei um livro emprestado com uma colega, atriz, escrito pelo mesmo autor da peça, o rabino Nilton Bonder. O livro é bem complicado. Leio e solto "ahs" muito tempo depois. Às vezes é só no dia seguinte que a ficha cai.

A peça é bem mais direta, pois acessa o espectador pela imagem, pelo som, pela interpretação magnífica da atriz Clarice Niskier. E ainda assim, é bastante densa, pois, como a própria atriz adverte no início: "nao tem ação dramática, a não ser isto tudo que está acontecendo aqui dentro de mim enquanto eu leio o livro".


Aos habitantes e passantes por São Paulo, minha sugestão fica: a peça está em cartaz às segundas e terças feiras no teatro Eva Herz.

quinta-feira, 19 de março de 2009

ladeira acima e avante

Dezembro passado fiz um show - lindo - numa casa aqui em São Paulo chamada Casa de Francisca. O show foi um sucesso em todos os aspectos: foi bonito, lotou a casa e pagou todo mundo, deu até um lucrinho.

Este ano procuramos a casa para repetir o show. Para nossa surpresa, descobrimos que não havia interesse em agendar outra data. Depois de alguma insistência - e eu estava muito intrigada, então fui bem insistente - o dono abriu o jogo: não gostou do meu público. Nas palavras dele, a casa "não teve afinidade com o público que foi ao show". Para ficar mais simples: a casa não quer ficar associada ao público de teatro - ou gay.

Bom, por um lado a casa é dele, ele recebe e desrecebe quem ele quiser. Se ele quiser colocar uma tabuleta dizendo: "aqui não entram ruivos, nem anões", também pode. Também pode ser processado por discriminação, é verdade. Mas ele não botou a tabuleta. Só procurou evitar que eu voltasse a cantar lá e meus amigos fossem me assistir. Vai que eles começam a, sei lá, dançar Dancing Queen em cima das mesas, gritar e tirar a camisa?

Alguém pode perguntar: "Mas ele viu o show?" Pois é, não viu. No dia, com a casa bombando de gente, ele deixou tudo na mão da gerente e vazou. Pelo jeito, isto é detalhe, mesmo.

Tanto caminho pela frente.

domingo, 15 de março de 2009

e agora...


camarins da Noviça Rebelde, em São Paulo

sexta-feira, 13 de março de 2009

burritos selvagens


burritos selvagens, upload feito originalmente por anna0170.

los burritos perditos
se extraviaron por el deserto
pero les gusta el sal

llamita


llamitas_ (1), upload feito originalmente por anna0170.

pela estrada afora eu vou bem sozinha

Flickr

This is a test post from flickr, a fancy photo sharing thing.

constelação

Um dos motivos que me levou ao deserto foi a perspectiva de ver o céu à noite. Devo dizer, as estrelas não me falharam. Ganhei até estrelas cadentes para guardar na lembrança.

Contei o nome do nosso guia no deserto? Jesus.

...

Cheguei e já fui engolfada pelos ensaios, pela enxaqueca (foram oito dias, ao todo), pelo calor e já vamos estrear o espetáculo neste final de semana. Não tem muito o que pensar.

Hoje, voltando para casa, uma das minhas colegas comentou: "viu a lua? está cheia". Pensei que era a primeira vez que eu olhava o céu depois que tinha voltado de viagem.

Minhas memórias, meus sonhos, minha constelação particular.

sábado, 7 de março de 2009

um tigre triste

Exausta. Quatro dias de enxaqueca. O calor, talvez - não tem outro assunto? Ou isso, mais o calor, mais esta tendência humana, ainda bem, que temos de nos apegar a dados e à análise, num momento em que o pânico parece iminente:

- Viu que o calor foi recorde? A última vez que fez calor assim em março foi em 1943.
- É mesmo. A temperatura está em média seis graus mais alta do que no verão passado.
- Puxa. Incrível o aquecimento global, não?

Estou derrotada. Combalida pelo sol inclemente. Outra manhã tive que ir ao banco, atordoada. Olhei para o teclado do caixa eletrônico como se fosse um perfeito desconhecido: "Eu te conheço?" Atrás de mim, percebi um desconforto e uma leve agitação. Ignorei a fila e continuei olhando para o teclado, tentando reconhecer nele algum traço de familiariedade: talvez, se eu começar pelo 5. Não. 2? Xi.

- Senhora? - a atendende se aproximou - Precisa de ajuda?

Eu não queria dizer alto. As pessoas estavam me olhando. Pior, estavam impacientes. Murmurei para a atendente:

- Esqueci minha senha.
- Senhora, - a mocinha continuou, num tom impiedosamente neutro - a senhora pode tentar duas vezes, na terceira a máquina bloqueará seu cartão.
- Tudo bem - eu disse, muito cansada - Eu vou pra casa.


Incrível, o aquecimento global.

sexta-feira, 6 de março de 2009

constatação

(...após acompanhar a programação recente nos jornais)

Quando você se perguntar: "que fim levou tal banda?"*
É porque nos próximos meses ela estará tocando no Via Funchal ou no Credicard Hall .







*assim, por exemplo, uma banda que acabou há 15 anos atrás, tipo, o Simply Red, ou o Depeche Mode, ou o B52, ou sei lá... quer ver? Sade?! Lisa Stansfield?! Por que não o Erasure?

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Deixe-me ir, preciso andar



A primeira vez que saí em busca de mim mesma foi um fracasso. Passei batido, sem me enxergar. Eu não era nada daquilo que imaginava.

Da segunda vez, mais preparada, combinei de usar uma écharpe vermelha no pescoço, para me reconhecer quando me encontrasse. Funcionou, mas foi igualmente decepcionante. Não sei, acho que eu esperava outra coisa, foi difícil engrenar um assunto. Eu só sabia falar de mim, de mim. Era tão óbvio.

Ainda não desisti de mim mesma. Pretendo me encontrar novamente, um dia, e quando isto acontecer, espero ter alguma coisa interessante para me dizer. Li em algum lugar que se a gente baixar o nível de exigência, tem mais chances de se aceitar e ser feliz consigo mesma. Prometo que vou tentar. Mas é melhor que eu tenha melhorado só um pouquinho.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

e o troféu momento embaraçoso do ano vai para...

Estava no banheiro, linda, folheando a Vogue. A revista no chão e eu sentadinha, sem os óculos, só olhando as figuras e passando o tempo.

Chamou a minha atenção a Gisele Bündchen, de vestido branco-prata, linda (claro), com uma bolsa esquisita. Uma bolsa horrorosa, para ser sincera. Gente, uma bolsa muito feia. A cor era até interessante, um chocolate brilhante, mas a bolsa era de um mau-gosto descomunal, a bolsa parecia uma barata, nem mesmo a Gisele dava dignidade àquilo.

"Esses designers são muito arrogantes" - pensei, comigo mesma.

Neste momento, meu gato Wilbur aproximou-se da revista e a bolsa saiu correndo.

Era uma barata.

Aaaaaaaaaaaaaaaargh!!!!



P.S.: o Wilbur matou a barata antes de eu terminar de dizer "nojo".

P.S. 2: Devo começar a ir ao banheiro de óculos, daqui pra frente.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

desaforos na sua casa

Abri a gaveta do banheiro e lá estava ele, todo encolhido, mofado nas bordas, esquecido há anos naquele lugarzinho, mas ainda reconhecível: um desaforo. Quando foi que eu o meti naquele canto?

Como regra de caráter, não levo desaforo para casa. Mas às vezes acontece. Remôo alguns pelo caminho de casa, trago-os até o café da esquina, na esperança de afogá-los ali mesmo. Eventualmente um danadinho destes me acompanha até o lar.

Examinei-o bem de perto. Este era dos bons. Mesmo assim, era tempo demais para guardar um desaforo, mesmo um daquela qualidade. O bichinho já começava a se desmanchar, borrava uns detalhes, não era a mesma coisa.

Melhor deixá-lo ir. Joguei-o na privada e dei descarga.


Fui olhar embaixo do tapete, ver como iam as mágoas. Estas, sim: crescem bem, com qualquer coisinha, e tem ótima resistência!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

desconexos

Assisti Koyaanisqatsi ontem, no DVD - 25 anos depois de assistí-lo, embasbacada, na tela do cine Astor.

É muito diferente vê-lo hoje, claro, porque é um filme ingênuo, ultra-didático, situado no período da Guerra Fria, da Corrida Espacial. Os inimigos eram outros, a economia mundial estava em aquecimento, não se falava em islamismo ou terrorismo.

É um filme interessante porque continua lindo de se ver. Mas tem uma retórica rasa. Tipo: "A Natureza é boa. O Homem é mau."

Ora, um homem - no caso, Phillip Glass - compôs a música deste filme, que é uma obra-prima. E outro, por tacanhas que fossem suas idéias políticas, criou uma tecnologia espetacular de captura de imagem, que revolucionou o cinema e a televisão. Não se ganha nada com a generalização.

...

Fun fact! Numa das sequências finais de Koyaanisqatsi, os fãs de Madonna vão encontrar, em perfeito estado, o background luminoso de Ray of Light, incluindo a boatinha onde a Madonna vai parar no final do clipe.

Aliás, quem é o diretor de Ray of Light? Não consegui descobrir.
...

E por falar em raso: assisti o Grammy ontem, só pra passar raiva. Ô, que vergonha... O que que é a Kate Perry?! Aquilo era pra ser transgressor?! A mina esticando o dedinho para beijar as fãs, cantando I kissed a girl? Cadê a Britney bêbada?!!! Que droga!!!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

eu te vi passar pela tela da tevê

A canção chama-se Thaís, de Marcelo Amazonas.

Anna Toledo (voz), Marcelo Amazonas (piano), Jorge Mueller (flauta), Rafael Ferrari(contrabaixo), Ramon Montagner (bateria). Arranjo de Marcelo Amazonas.

Gravado no All of Jazz, em São Paulo, 4 de fevereiro de 2009.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

um solzinho particular


O meu amigo Marcelo Amazonas está no Brasil. Veio gravar seu segundo disco e tocar suas músicas para uns espertos que aparecerem no All of Jazz na quarta feira que vem. Significa que apesar desta chuvarada toda, tem um solzinho prometendo despontar para quem quiser ouvir.


Marcelo - Momô, para os chegados - faz a música mais solar que eu já presenciei. Até as músicas que falam de tristeza abrem pro céu e deixam ver a luz. É um som que remete às origens da Bossa Nova, no melhor sentido, na mais pura essência: harmonias deslumbrantes, vocais em cortina, sugerindo natureza, grandes painéis harmônicos e rítmicos, um luxo.


Serei a vocalista convidada do show, ou seja, a intérprete de algumas canções. Então estamos ensaiando aqui em casa: Momô me ensinando pacientemente os padaiás e laiês exatos, como devem soar. Ele traz tudo escrito. Aí uma hora eu estava no meio de um "badaiá laiá laiá" totalmente jobiniano e comentei, rindo:


- Vige. Até parece que bateu um sol de lado, agora, na minha cara.


O Momô pulou no banco do piano:


- Isso! Isso! É isso! Tem que bater um sol! Assim é que tem que soar!




Serviço:
Marcelo Amazonas em Nova Bossa Nova
- participação especial de Anna Toledo
Quarta Feira, 4 de fevereiro 22h
All of Jazz : rua João Cachoeira 1366 São Paulo - SP

www.allofjazz.com.br

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uma graça

Visite o Google hoje. Por qualquer pretexto.

É aniversário de Jackson Pollock.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

só pra lembrar


mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse raimundo
seria uma rima, não seria uma solução
mundo mundo vasto mundo
mais vasto é meu coração



carlos drummond de andrade


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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Meryl Streep no SAG

Ontem foi a premiação do SAG Awards - o Screen Actors Guild Awards. É o prêmio em que apenas os atores sindicalizados votam - e apenas nas categorias de atuação - nos melhores trabalhos de cinema e televisão do ano passado. É um prêmio muito conceituado e desejado pelos atores, por significar reconhecimento de seus pares - apesar de ter pouco impacto na indústria cinematográfica, ou seja, não se transformar em bilheteria, como o Globo de Ouro ou o Oscar.

Então, lá estava a Meryl Streep indicada a melhor atriz pela, vamos dizer, 20a. vez seguida*, como acontece todos os anos, quando, o Ralph Fiennes abre o envelope e diz: " e o Actor** vai para Meryl Streep"

Ela levou um susto tão genuíno que visivelmente quase caiu da cadeira. A platéia toda parecia aliviada. Eu fiquei aliviada. Já estava de saco cheio desta história de "ela não precisa mais ganhar nada" Como assim? Todo ano a mulher ia lá e ainda conseguia surpreender, arrebatar, e já estava ficando por isto mesmo, como se já fizesse parte das obrigações de ser Meryl Streep. Adorei.

Aí ela conseguiu subir no palco, às gargalhadas. Estava com uma blusa preta de tafetá, um rabo de cavalo simprinho e uma calça comprida confortável. E sapatos baixos. Ou seja, tinha ido para aparecer sentada na televisão! Quando conseguiu respirar, segurou o troféu, foi para o microfone:

- Se eu imaginasse que isto poderia acontecer, teria vindo de vestido! - e gargalhou de volta.


Foi a melhor da noite.

Curiosidades no SAG Awards

A indicação do Dev Patel para Melhor Ator Coadjuvante por Slumdog Millionaire. Dã. Se ele é o coadjuvante, quem é o principal? Os atores americanos ficaram com pruridos de indicar um garoto indiano imberbe e desconhecido para a principal categoria da noite? Ou foi alguma questão burocrática (ele não é sindicalizado e só poderia concorrer na categoria de coadjuvante, sei lá)? Afinal de contas, ele é só o personagem-título.

De todo o modo, o premio de Melhor Elenco - a premiação máxima do SAG, que não premia o melhor filme, mas o melhor desempenho em conjunto - foi para Slumdog Millionaire. Considerei este um resultado surpreendente, pois imaginava que Dúvida tivesse mais chances no SAG - afinal, falamos de um elenco com Meryl Streep, Phillip Seymour Hoffmann, Amy Adams, Viola Davis...



*Não sei quantas indicações Meryl Streep acumula ao longo da carreira. Parei de anotar quando ela superou as 14 da Katherine Hepburn. E na época da Kate Hepburn só havia o prêmio da Academia!

** O prêmio do SAG chama-se... Actor.



Aqui a lista completa da premiação.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

na academia

- Nossa, cara.
- Pois é, emagreci. Tô com 73kg.
- Quanto você pesava?
- 86kg.
- Mas então você perdeu muito músculo.
- Não. Só perdi o gosto, mesmo.

começa a mesa-redonda do oscar!

Primeiro, a minha agradável surpresa: descobrir que traduziu-se o título de Slumdog Millionaire aqui no Brasil para o simpático "Quem Quer Ser um Milionário?" Já gostei.

Aí as indicações: a briga feia ficou mesmo entre "O Curioso Caso de Benjamin Button" e "Quem Quer Ser um Milionário", um concorrendo a treze premios, outro a dez.

Assisti Benjamin Button na semana passada. (spoiler alert!)
Correndo um sério risco de passar por rabugenta, achei o filme absolutamente previsível. Bonito, claro, com lindos atores, a Cate Blanchett, pelo amor de Deus..., a Tilda Swinton sempre elegantérrima. Mas a cada cena, eu lembrava de outro filme onde eu já tinha visto a mesma coisa - e o desfecho era igual. De um modo geral, Benjamin Button, na estrutura narrativa, parece filho de Forrest Gump com o Paciente Inglês: ao invés de retardado, ele é uma criança num corpo de velho, o que dá quase no mesmo. Tem o amigo marinheiro-rude, a mãe sulista, a namorada de infância meio artista que está sempre dando pros outros menos pra ele, tem a fase em que ele resolve sair e correr o mundo e acaba participando de um momento histórico...
E aí, pontuando isto tudo, tem uma velhinha agonizante num leito de hospital, contando a própria história para a filha (Julia Ormond, que está a cara da Juliette Binoche, do Paciente Inglês, ahahaha).

Nem comentei dos efeitos especiais que fazem a Cate Blanchett ficar com 18 anos e dançar balé clássico e o Brad Pitt ter cara de 17 anos. Parece Final Fantasy. Mas esta é a parte legal. Só que eu não estava muito na onda do filme.


Quem Quer Ser um Milionário?, por sua vez, é tudo menos alguma coisa que eu já tenha visto. (spoiler alert!) Na verdade, ele sugere às vezes a influência visual de Cidade de Deus. Mas o enredo é uma maravilha e o jeito de contar a história - a partir de um interrogatório policial, que gera o flashback do jogo do Milhão, que gera os flashbacks da vida do narrador - é brilhante. Eu adoro os atores, adoro cinema feito com gente e texto e idéias, acho um sopro de ar fresco. E a música.... Uau!


Bom, sobre as outras indicações, eu só gostaria de protestar (é claro) pela não-indicação do Tom Cruise por Trovão Tropical! Foi uma das performances mais legais do ano passado, tão surpreendente que a maioria de nós só o reconhecia lá pelo meio do filme! O Robert Downey, Jr. foi indicado por Trovão Tropical, merecidamente, mas o coleguinha Cruise merecia ter ido junto.

Dica: se alguém ainda não assistiu esta maravilha, pegue Trovão Tropical no DVD. É o filme mais engraçado do ano passado. Com ressalvas para os espíritos mais sensíveis e delicados, pois é totalmente rude, incorreto e hilariante. Os extras são absurdos.