segunda-feira, 25 de junho de 2007

Realeza

Gregório chutou o balde: entrou no Emporio Armani e saiu com um terno de 6000 reais. Chegou no escritório, na segunda feira, com outros ventos. Ninguém precisava saber que assumira dez salgadas prestações (600 reais, sem juros, no cartão). Era um vencedor.

Wilmar chegou-se muito acanhadamente para o colega. Nem um mês tinha passado do dia em que Gregório fizera sua entrada triunfal pelo corredor e acomodara-se na baia com a realeza do terno novo. De gerente para gerente, o primeiro cumprimentou:
- Beleza, Greg?
Sem desviar os olhos do laptop, Gregório assentiu com a cabeça. Wilmar continuou:
- Meu, vim te pedir um favor de irmão.
- Manda.

A história era até simples. Wilmar seria padrinho de um casamento importante dali a uma semana, a cerimônia era num buffet no Morumbi e ele não tinha um terno à altura da festa. Tinha duas opções: ou pegava um empréstimo no banco para comprar uma roupa nova, ou...

- O meu Armani? - reagiu Gregório, quase violentamente.
- É só para o fim de semana, eu mando para a lavanderia, devolvo novo, nem vou beber na festa para não espirrar nada.
- Puta que o pariu, meu...
- Você quer, eu pago pelo aluguel.
- Não, não... - respirou fundo - Tudo bem. Eu te empresto. É só um terno, afinal. Mas cuida bem dele, cara.
- Claro, claro - Wilmar parecia remoçado de alívio.

Passou o final de semana, chegou a segunda feira e Gregório não encontrou o colega no escritório. Terça feira, final da tarde, perguntou de Wilmar para a garota do RH.

- Ah, o Wilmar, menino. Coisa fulminante. Nem deu tempo de avisar todo o pessoal do escritório. Você era amigo dele? O enterro é hoje à tarde, acho que você ainda pega o velório.

Como explicar que mal conhecia o falecido mas que ele lhe devia um terno caríssimo?

Sem saber o que estava fazendo, desabalou-se em meros 40min para o Cemitério da Consolação. Entrou na capela do velório ainda ensaiando o que diria para a família, quando enxergou o caixão, com Wilmar ali dentro, descansando na realeza de um Armani legítimo.

2 comentários:

ethan edwards disse...

A senhora é uma legítima Nelsa Rodrigues. Parabéns!

thais cavalcanti disse...

seguidora de nelson rodrigues. eu sou uma personagem rodrigueana assumida. será que é por isso que a gente se deu bem? hehehe