sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

technicolor

Hoje eu fugi do trem. Não fui nem pra aula nem pra Mooca. Me fiz de louca e deixei o tempo passar. Sei lá. Estava chovendo. Garoa. Trauma. Ontem o trem demorou tanto entre o Brás e a Luz que tive a sensação de estar no Dia da Marmota*: o tempo tinha cessado, ninguém mais estava com pressa, só o cheiro do cidadão ao meu lado é que não dava trégua. Pelamordedeus, vamos abrir esta porta.
...

Pois é. É a nova moda agora nas chamadas das estações de trem e metrô:

" Atenção, jovem cidadão Jorge Silveira dos Santos, favor entrar em contato etc"

Jovem cidadão!? E aí? O Orwell está recebendo royalties?
...

Eu ainda não falei do filme "Jogo de Cena", do Eduardo Coutinho. Mas não é tarde, pois o filme ainda está em cartaz em São Paulo e não entrou em cartaz em um monte de lugares - talvez chegue direto nas locadoras e aí é o caso de comprá-lo imediatamente. Eu disse, imediatamente.

Fui rever o filme domingo passado, com duas amigas atrizes. Neste filme você sempre adivinha onde estão os atores na platéia, por causa das reações. Afinal, é um filme sobre interpretação. Sobre atuação, em muitos momentos, e sobre a interpretação - a força da interpretação sobre a verdade. Pois algumas vezes, os fatos, quando interpretados (ou reinterpretados) de nova maneira, ganham ou perdem força, ganham maior ou menor caráter de verdade. Ui, que complicado. É surpreendente perceber que a história de uma mulher pode ser mais emocionante contada por uma atriz do que pela própria mulher. Mas ela então é mais verdadeira? E a atriz, estava mentindo? O que é interpretar? ui, ui, ui.

Vou falar do que eu entendo: no filme, uma das atrizes (conhecidas) que menos se aproxima do seu personagem (real) é a Marília Pêra - sabidamente e reconhecidamente uma das maiores atrizes brasileiras. Mas ela parece criticar o personagem e, com isto, distanciar-se dele. Vemos Marília atuando, com toda a sua riqueza, mas não enxergamos uma pessoa nova ali dentro. Interessante. Já a Andréa Beltrão é uma surpresa, há uma humildade na sua entrega e na sua interpretação simples e honesta, ela tem uma generosidade surpreendente, que acaba por enriquecer o personagem que ela interpretou - e aí vem a nova discussão, ela criou outra coisa? Sim! Puxa vida, ui, ui, ui. Mas aí não é mais a verdade, é outra coisa...

E aquele filme Desejo e Reparação, não fala disto, mas fala do poder da palavra e da interpretação. Aliás, eu achei o filme chato até o final, quando de repente, o filme ficou muito bom. Como cinema (ai ai ai) é realmente bacana, tem aquele plano sequência da praia que é um deslumbre, mas precisa de mais um filme inglês de guerra com um monte de aristocratas tomando sol e um serviçal que ama a mocinha, sério mesmo? Só que o final é genial, o final traz esta questão que eu gosto muito, a da revisão, às últimas consequências.

E eu vi a Vanessa Redgrave andando na rua, num frio de rachar coco, toda enrolada num cachecol. Mas eu não sabia o que dizer. "Oi, Dona Vanessa", não era uma opção. Fiquei quieta e olhei ela passar.**


* o dia da marmota era no filme "O Feitiço do Tempo".
** isto foi há umas três semanas atrás, no Upper West Side, em NYC.

4 comentários:

ethan edwards disse...

Fazer o quê? Nada. É ficar parada, olhando, até que a imagem dela se evanesça...

Assionara Souza disse...

Anna, vc teve uma experiência "a sensível diferença de vinólia"; ouviu a musiquinha? - Nossa, eu adoro 'o feitiço do tempo', é por de bão demais! E o comentário do outro filme me lembrou o filme "adaptação", que eu gosto muito de várias vezes.
=]

Anna Toledo disse...

ê, vanessa, ele disse... kkkk
...enquanto isto, no japão, um cientista (nascido no brasil, mas japinha) descobre mais um planeta no sistema solar, só na base da conta de cabeça.

ethan edwards disse...

É bem lógico. Afinal, não tem ninguém, no mundo, que goste tanto de conta de cabeça igual brasileiro. Na Bahia, então, pra qualquer lado que você olhar você vê uma cabeça cheia de trancinha, dreadlock, e aquele monte de conta colorida. Conta de cabeça é com nós mesmos!