sábado, 1 de março de 2008

o chamado

Li Martin Eden, do Jack London, quando tinha uns dezessete, dezoito anos. Acho que já contei esta história, ou sinto que já contei muitas vezes, mas enfim. O livro teve uma influência definitiva nas minhas ações por vir - mais que Werther, ou Cartas a um Jovem Poeta, ou outros livros de teor romântico e humanista que li no mesmo período. É engraçado, pois estes dois últimos que citei são muito mais "bonitos". Mas Martin Eden me atingiu de uma maneira tão mobilizadora que foi o único livro que levei comigo quando saí de casa, meses depois. Suas idéias me serviram de apoio em horas de medo e solidão, de paralisia, em vários momentos que precisei de coragem. Curiosamente, o livro fala de um aventureiro que se suicida, por sentir (pelo que me lembro, já faz muitos anos) que não cumpriu sua vida a contento, que perdeu seu rumo nos corredores da alta sociedade.

Talvez por isto, ontem, tenha recebido um impacto tão grande assistindo Na Natureza Selvagem (Into the Wild), de Sean Penn. O filme conta a história de um garoto recém-formado da faculdade que doa todo seu dinheiro e cai na estrada, acompanhado de alguns poucos livros (Thoreau, London, Tolstoi) na mochila. A história é real. Durante dois anos, o menino cruzou os Estados Unidos, foi até o México, voltou e foi até o Alasca, onde acabou perecendo. O filme tenta recriar seu caminho, os encontros, as relações que estabelece, os afetos que descobre nele próprio e no mundo, a dignidade da Natureza e do Homem, Deus, as coisas maiúsculas que ficam escondidas entre as vagas do estacionamento do shopping no sábado à tarde.

Ainda não elaborei tudo. Talvez não consiga. Mas é filme para ficar cantando dentro da gente muitos dias, filme que ressoa. E, como é filme de estrada e de Alasca, filme que impregna a retina. Recomendo assistir no cinema.

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