quarta-feira, 2 de abril de 2008

As Três Irmãs

Tenho pensado na peça As Três Irmãs, de Tchecov. Para ser honesta, tenho pensado nela obsessivamente. A idéia, a lembrança desta peça ressurgiu como uma cantilena, há alguns dias atrás, e não abandona a minha mente desde então.

O enredo fala das irmãs Irina, Masha e Olga, que moram numa cidade do interior da Rússia, mas que sonham viver em Moscou - e tentam fazê-lo através de amizades, casamentos, alianças sociais promovidas entre os homens da família. Imagine, carreira profissional era uma coisa um pouco mais difícil para mulheres da alta sociedade no início do século XX. Ao final, uma intrusa, Natasha – uma garota de origem social e cultural inferior – atrapalha os seus planos. É bem simples, na verdade. O genial, o comovente, é a narrativa.

Pois é a narrativa que está me acompanhando ao fechar e ao abrir os olhos.

No primeiro ato, as três irmãs estão recebendo convidados, num salão da sua casa, em sua grande propriedade. O segundo ato é dentro de um quarto, na mesma casa. As três estão fechadas, confinadas ali dentro. O terceiro ato passa-se no jardim da mansão. Elas foram expelidas – fisicamente, ainda que não tenham sido expulsas de verdade – da própria casa. A locação das cenas dá a dimensão e a evolução das personagens.*

Penso neste movimento dramático: nas três irmãs que vivem na grande casa iluminada, na música, os risos, depois as luzes se apagando, o espaço diminuindo, o confinamento, até a expulsão final - do próprio sonho, da própria vida.

*Quem primeiro me apontou este virtuosismo narrativo foi o Márcio Mattana, estudioso sério, professor de direção da FAAP e, graças ao bom Deus, um grande amigo. Ele me disse (mais ou menos o seguinte, pois já faz muito tempo): “em Tchecov, a cenografia faz metade do trabalho da direção.”

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