segunda-feira, 30 de julho de 2007

la mélancholie

Na esquina da minha rua tem uma banca que não vende jornais. Nem revistas. É uma banca daquelas de lata, com o jornaleiro dentro, mas há meses que ele não tem nada para vender e continua ali, o dia inteiro, com a banca aberta, ouvindo a rádio Cultura.

Ele ainda vende revistas velhas de tricô, cruzadinhas e alguns fascículos dessequenciados dos Mestres da Pintura. E a National Geographic de maio, que comprei mês passado só pra ter assunto.

Seu Geraldo, se não me engano. Passo por ali e digo "tudo bem?" e ele acena com a cabeça, sorri, depois volta para as suas palavras-cruzadas Coquetel, edição de fevereiro.

3 comentários:

ethan edwards disse...

A uns vinte metros da minha banca mora um casal. A moça se chama Ana, se não me engano. Todo dia o marido sai cedo, de carro, e ela sai depois, perto do meio-dia, a pé. Pelo ônibus que ela toma, imagino que trabalhe no centro, pros lados do Teatro Alfa.
Pra pregar o ônibus ela tem que passar em frente à minha banca. De longe percebo quando ela se aproxima. Quando chega em frente à banca, ela diminui um pouquinho o passo e olha longamente pras prateleiras, como se procurasse alguma coisa que não está lá, algo que ela perdeu e já não consegue encontrar. Que será que ela procura com seus bonitos olhos castanhos: a felicidade? O sentido oculto da vida? Ou apenas o calor humano de um olhar compreensivo?
Ela é simpática. Fico feliz quando ela passa e me dá bom-dia. Mas, para não embaraçá-la, assim que a vejo se aproximando, finjo me concentrar nas palavras-cruzadas, apenas levanto os olhos e lhe retribuo o sorriso: “tudo bem?”. Me agrada acreditar que esse pequeno gesto, que não me custa nada, ajuda aquela mulher jovem e gentil a suportar o ônibus demorado, o trabalho cansativo, o árduo cotidiano, enfim, a que estamos condenados todos os que vivemos nesta cidade.

Rodrigo Rover disse...

Mas é nessas bancas de lata que a gente consegue achar raridades. Groo, por exemplo.
Come visit me: http://seletadeprosa.blogspot.com/

Juno disse...

No Butantã havia uma assim, descascada, amassada, lotada de revistas velhas. Só que o ramo era na verdade outro - loteria zoológica, por assim dizer.