terça-feira, 23 de outubro de 2007

Largada(s)



Depois de um tempo, largar fica menos complicado. Largar a mão dos pais ao atravessar a rua, largar a casa antiga, a família, largar a cidade natal, largar a cidade que não vingou e a que vingou - mas só por um tempo. Largar o projeto que não ia dar tão certo assim. Largar hábitos. Largar um trabalho.

Às vezes não há muita escolha neste largar. Ainda que o abandono implique numa perda, a partida irreversível é mais leve do que aquela que carrega consigo a dúvida: terei errado?

Largar é disponibilizar. Ter as mãos livres, novamente, criar espaço, desapegar. Largar é seguir em frente.

Não é fácil. Eu só disse que, depois de um tempo, é menos complicado.


Domingo passado, o espetáculo My Fair Lady encerrou sua temporada, depois de oito meses em cartaz. Me despedi dos colegas com quem dividi intimamente meu cotidiano - muitos ali, vindos de trabalhos anteriores, mais próximos e frequentes do que a maioria dos meus familiares. De hoje em diante, bifurcamos novamente nossos caminhos e seguimos em frente, acenando até a próxima curva.

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