Exausta. Quatro dias de enxaqueca. O calor, talvez - não tem outro assunto? Ou isso, mais o calor, mais esta tendência humana, ainda bem, que temos de nos apegar a dados e à análise, num momento em que o pânico parece iminente:
- Viu que o calor foi recorde? A última vez que fez calor assim em março foi em 1943.
- É mesmo. A temperatura está em média seis graus mais alta do que no verão passado.
- Puxa. Incrível o aquecimento global, não?
Estou derrotada. Combalida pelo sol inclemente. Outra manhã tive que ir ao banco, atordoada. Olhei para o teclado do caixa eletrônico como se fosse um perfeito desconhecido: "Eu te conheço?" Atrás de mim, percebi um desconforto e uma leve agitação. Ignorei a fila e continuei olhando para o teclado, tentando reconhecer nele algum traço de familiariedade: talvez, se eu começar pelo 5. Não. 2? Xi.
- Senhora? - a atendende se aproximou - Precisa de ajuda?
Eu não queria dizer alto. As pessoas estavam me olhando. Pior, estavam impacientes. Murmurei para a atendente:
- Esqueci minha senha.
- Senhora, - a mocinha continuou, num tom impiedosamente neutro - a senhora pode tentar duas vezes, na terceira a máquina bloqueará seu cartão.
- Tudo bem - eu disse, muito cansada - Eu vou pra casa.
Incrível, o aquecimento global.
sábado, 7 de março de 2009
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2 comentários:
por mim era inverno o ano inteiro. calor me derrota. não tento nem combater o inimigo. passo meus dias debruçada na janela, esperando o inverno chegar.
Não sou expert no assunto, mas, pela narrativa, parece que não é tanto um caso de aquecimento global, e sim de esquecimento parcial.
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