quarta-feira, 13 de maio de 2009

Dia das Mães*

Cinco da manhã em Ribeirão Preto. Regiane e seu noivo, Luis, espanam o sono dos olhos enquanto alongam rapidamente coxas e panturrilhas a caminho da rua. Ainda não há sol, mas é preciso sair logo, pois o calor promete ser inclemente dentro de poucas horas e o treino será longo. Cinco minutos atrás, eles engoliram dois nacos de pão com manteiga e beberam um gole de suco de soja – não dava tempo de passar um café e iriam acordar o resto da casa. Agora já começam a trotar pelas calçadas da cidade vazia, num domingo em que as mães acordarão mais tarde.

Nem tão tarde assim, porém. Às nove, quando os dois estão de volta da corrida, encontram a mãe de Regiane desasada, aflitíssima, à porta da casa:

- Graças a Deus! Eu ia chamar a polícia.
- Mas, mãe – Regiane tenta acalmá-la – Eu avisei, ontem, que nós íamos correr.
- Correr pra onde?
- Correr, mãe. Por aí.
- Mas precisa correr tanto?
- Mãe, a gente está treinando para a maratona.
- Sei – a mãe sacode a cabeça.

Regiane e Luis ensaiam entrar na casa. Hesitam. O noivo coça a testa, encarando os novos parentes – sogro, cunhadas, todos intrigados, sentados à mesa do café. Dia das Mães com a família da noiva e a sensação de ser um alienígena suado.

Sentam-se para o café. Fazer o quê? Lavar o rosto e conversar. A irmã pergunta novamente o porquê da correria uma hora daquelas. Um tio comenta que Regiane já está magra demais para fazer tanto exercício. É o gancho para a outra irmã acrescentar que Regiane deveria fazer musculação, ao invés de corrida, pois o exercício aeróbico emagrece demais.

Calada, a mãe observa a filha mais velha se explicando, o novo genro esticando os lábios em direção às orelhas, na tentativa de sorrir. Serve-se de um copo de café e pergunta:

- Minha filha, e depois?
- Depois o quê, mãe? – devolve Regiane.
- Você corre esta maratona... e depois, o que acontece?

Regiane suspira.

- Não acontece nada, mãe.

A mãe dá um sorriso. Vitoriosa. Corta dois pedaços de bolo de milho e serve-os para a filha e o genro exaustos.



*um agradecimento especial à Renata Briani, que me contou a história que inspirou esta croniqueta.

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