Na fila do caixa, no mercadinho, o senhor na minha frente empacou. Esquecera a própria senha. Não conseguia passar o cartão para finalizar a compra. A fila se amontoou. O caixa era prestativo: saiu do seu posto, foi buscar um copo d'água pro senhorzinho e pediu que ficasse ali sentado, que ele - o caixa - tinha separado as compras e que, assim que o senhor lembrasse os números a transação seria completada.
O homem estava contrariado, nervosíssimo. Causar transtorno é chato, verdade. Mas, esquecer a própria senha? A traição que o próprio cérebro perpetra. Com quem se zangar? O que mais esperar?
Tive vontade de ir lá acalmá-lo. Falar: "Todo mundo esquece tudo, em algum momento". Não fui, fiquei sem-jeito. O pobre sujeito ia e vinha ao longo do balcão do caixa, feito um velho leão na jaula. Pensei: "Com que idade eu vou passar por isto? Com 60 anos? Com 80?"
Sempre tive orgulho da minha memória. Aprendia muito rápido textos e música e não esquecia. Hoje tomo um remédio para dor de cabeça que diminuiu a minha velocidade de apreensão de informações. Ou seja, já decoro com mais dificuldade do que antes.
É fato que em algum momento - espero que longínquo, mas certo - também vou atrasar alguma fila, tentando lembrar de algo absolutamente corriqueiro e que vai me parecer tão sorrateiro como uma barata.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
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Um comentário:
Anna, infelizmente (ou felizmente) qndo vc chegar numa certa idade que segurará a fila por esquecer a senha, você já vai ter esquecido deste episódio e vai ficar impaciente igual esse senhor. Digo felizmente entre parênteses pq em contrapartida que "os detalhes" são esquecidos as boas recordações ficam para sempre em nossas memórias. Envelhecer também é uma Arte!
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