terça-feira, 9 de setembro de 2008

sem esperanças


E aí eu fui ver o Linha de Passe. Cheia de vontade de gostar, por todos os motivos que expliquei abaixo, mais a fome de ver um filme com bons atores, um roteiro possivelmente bom, diretores provadamente competentes, essas coisas.


Credo. Cruzes. Não gostei nadinha. E quero explicar, antes de tudo, que os diretores são bons, os atores são excelentes e o roteiro é consistente. Eu apenas sofri com o que o filme argumenta - aliás, de modo muito eficiente, pois o filme consegue deprimir qualquer um.


Não consigo ver nenhum tipo de denúncia, apenas proselitismo, num filme que retrata piedosamente a vida de uma família de pobres cuja vida é duríssima, que não se ajudam, que vivem na ignorância e no alheamento (a mãe engravida compulsivamente, outro decide assaltar para pagar as contas, outro passa os dias fugido de casa, procurando o pai desconhecido, outro é crente, mas entra em crise com a religião) . O filme parece argumentar que não há saída, que vai sempre dar tudo errado, que não há um sentido, senão apenas viver (ou sobreviver) - daí o final sem fechamento, com todos em movimento. E me pedem muito: Querem que eu tenha compaixão do motoboy que assalta e sequestra para pagar a pensão da filha. Calma lá. Jura que esta é a única opção?


A única história realmente interessante, que provoca a fantasia do público, é a do filho que joga futebol e que está passando da idade para entrar nos times profissionais. Mas os diretores optaram por não se aprofundar nesta história, nem oferecer nenhuma esperança. Como se o desejo e o sonho individual estivessem fadados a serem esmagados pelo sistema, a sociedade, os playboys, os corruptos. Ah, não. Não, não...


Acredito que há muitas maneiras de se contribuir com a sociedade e com a discussão sobre a grande lacuna social. Não sei se olhar o pobre como uma vítima pura e não-passível de crítica e/ou responsabilidade é um caminho para algum lugar mais interessante.

3 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Estou falando de mim, qualquer semelhança com as mil milhões de pessoas do mundo é mera coinscidência. Se eu só assistir agradáveis filmes com boas saídas para nossa financeiramente má distribuída sociedade eu só terei a confortável sensação de que tudo está sendo feito e que eu não preciso me mover. Preciso de Buñuel pra me mover e de Miguel Nicolelis para me direcionar para uma saída.

Anna Toledo disse...

Então, pode ser, também. Se quando você assistiu o filme, se sentiu mobilizado, sentimento do tipo "movimento com uma direção", o filme funcionou diferente para você. Maravilha.