sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Sagas

Desta vez foi com o Bob. A booker ligou para ele, um teste que era a sua cara. Hora marcada, no estúdio B da produtora X, em Heliópolis. Hein? Isso mesmo, no estúdio B, em Heliópolis.

O Bob é descolado, mora em São Paulo há dois anos, depois de uma temporada ralando em Paris e outra vivendo bem em Goiânia. Ainda não tem um carro. Como bom migrante, conhece os caminhos e as conduções melhor que os nativos (nunca pergunte um nome de rua para um paulistano). Mas Heliópolis... Onde fica, como chega? Qual o percentual de glamour possível de emular após duas horas de ônibus e lotação até este destino?

Diz ele que fez a barba, passou colônia, pôs uma camisa propositalmente amassada - moderna - e entrou no ônibus. Desceu na porta do estúdio cozido, sacudido, mas ainda cheiroso, quase duas horas depois. Reajustou o ar triunfante, atravessou a sala de espera e foi falar com a produtora de elenco.

- Oi, eu sou o Bob, meu teste é às quatro horas.
- Ah. Ok. Senta ali, eu já vou chamar, vai preenchendo a ficha.

Ajeitou-se no banco, procurando não encarar os poucos concorrentes que se esforçavam em não medí-lo de alto a baixo. Cruzou as pernas e tentou preencher o formulário sobre o dorso da coxa sem rasgar o papel.

Cinco minutos depois, ela chamou:
- Você é que é o Bob?
- Sim.
- Acho que teve uma confusão. Agora a gente vai gravar o ator barbudo.
- Mas às quatro horas sou eu.
- Tá aqui no schedule. Quatro em diante: barbudos. Você fez a barba?
- Ninguém me avisou.
- Ah, então: não podia.

São Paulo é um lugar com muita oferta. Testes pedem atores que cantem em inglês e espanhol, dancem balé clássico, jazz e sapateado e meçam pelo menos 1,68m (mulheres) e 1,78 (homens). E aparecem quatro dúzias de profissionais com este perfil para serem selecionados. Já peguei trabalho por causa de três centímetros de altura e já fui cortada em inúmeras seleções pelos mesmos frágeis motivos: vestido errado, cabelo errado, bonita demais (sim, já ouvi isto!!!), normal demais (também já ouvi esta, mais de uma vez!), jovem demais, velha demais.

Então não adiantou o Bob explicar que a barba dele cresceria, oportunamente, e que ele poderia fazer o teste assim mesmo e mostrar que é um ator bacana. E que o diretor poderia vê-lo em cena e imaginá-lo com barba. Sei lá. Algo assim, totalmente impensável.

Bob voltou para casa sem ter feito o teste. O bolso liso como sua cara: como não gravou, não pagaram cachê-teste.

2 comentários:

Denny Naka disse...

Como assim?? Não ser chamado por ter feito a barba??? Ser cortado por causa da Roupa?!? Pelo visto além de talento e dedicação precisa mesmo é de Sorte!

Anna Toledo disse...

Xi, menino, você não viu nada. Tem paredões de seleção onde a gente não é nem ouvido se escolheu a roupa errada...rsrs