quarta-feira, 12 de novembro de 2008

música contemporânea

O mash-up - procedimento de um DJ fundir duas músicas já gravadas e tocá-las ao mesmo tempo na balada - rompeu definitivamente com um dos parâmetros musicais mais fundamentais da música pop: a tonalidade.

Agora, desde que a música permaneça no mesmo ritmo, a melodia pode estar tocando fora do tom, com o baixo e o bumbo em dissonância, que tudo bem (sim, o bumbo tem afinação, antes que alguém pergunte). O que importa é a batida.

O conceito do mash-up me agrada, pois não passa de um arranjo: a promoção do encontro de duas músicas que podiam ter algo em comum e nem sabiam. O problema, a meu ver, é a realização, que gera um ruído totalmente indesejável, quando as duas músicas estão em tons incompatíveis. Bem, pelo menos para os meus ouvidos do século passado.

Um compositor do início do século passado, Charles Yves, norte-americano, já compunha mash-ups avant-la-lettre* (ou seja, muito antes de existir este termo). Ele escrevia marchas diferentes para duas bandas, ficava no alto de uma torre, dava um sinal e as duas vinham, cada uma de um ponto da rua, até se encontrarem numa esquina. As composições não estavam em "tons compatíveis", ou seja, as dissonâncias iam se aproximando lentamente. A experiência era, justamente, experimentar as dissonâncias e a politonalidade.

Me ocorre que se Yves e outros compositores que experimentaram a politonalidade e as dissonâncias fizeram-no pelo desejo de exceder os parâmetros musicais conhecidos (melodia, harmonia, ritmo) - ou seja, por gostar muito de música - hoje, o grande público que consome a música eletrônica aceita a politonalidade do mash up por desprezar os mesmos parâmetros. Eles provavelmente não estão ouvindo.


Link: mash up de I kissed a girl e Womanizer, na radio uol, aos 30'



*ui, que insuportável que eu sou...

2 comentários:

thais cavalcanti disse...

"um ruído totalmente indesejável". foi exatamente isso que eu pensei quando vi a notícia. não tive coragem de ouvir. meus pobres ouvidos tamb´´em são do século passado.

thais cavalcanti disse...

baidêuei, muito chique você de marcadores.