sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Guelra e Paz


Tem alguns filmes que são totalmente zoados pela crítica e nunca mais se recuperam do baque. Waterworld, do Kevin Costner, é um deles. Está sempre na lista dos piores de todos os tempos, rivalizando com Plan 9 From Outer Space (com seus sensacionais efeitos especiais sweded*), Batman e Robin (aquele com o George Clooney com armadura de mamilos, pois é...), Glitter (alguém lembra, do filme-veículo da Mariah Carey, onde ela entra no palco e diz “parem, parem, esta não é a música que eu quero cantar!” e começa a cantar outra que o seu ex-namorado escreveu num papel - e a banda, milagrosamente, a acompanha?) e outras tantas delícias** que assistimos gritando de horror e prazer.


Estes dias reprisou Waterworld na tevê, num caso de bad timing exemplar, considerando que o telespectador brasileiro, por estes dias, está particularmente sensível a cenas de inundação e devastação pelas águas. Mas o filme é bem engraçado. E eu me lembrei de uma historinha bacana:


Tenho um amigo músico - alemão - que foi criado numa comunidade alternativa. Desde criança, ele viveu apartado da sociedade que conhecemos e privado de uma série de estímulos e informações que recebemos quase que osmoticamente – pela tevê, rádio, outdoors, cinema, ticetra. Claro, recebeu educação da melhor qualidade – alta cultura. Conhecia tudo de literatura, música erudita, artes plásticas, poesia, teatro. Mas mal tinha ido ao cinema até os trinta e poucos anos. Cinema americano, então, pfff.


Pois este amigo meu, Burkhardt - já fora da casca e vivendo em Berlim há alguns anos - foi ao cinema, um dia, e assistiu Waterworld. Seu mundo mudou. Sua vida mudou. Ele nunca tinha visto nada igual, nem sabia que era possível. Ele quis conhecer cinema. Quis ouvir mais trilhas. Chegou no jazz. Descobriu Gershwin e Duke Ellington! A música popular e as emoções baratas.


Tudo por causa de um filme sem pé nem cabeça (mas com guelras).


Aliás, aqui no Brasil, para variar, o título do filme ficou sendo uma daquelas maravilhas inesquecíveis, tipo Waterworld – O Mundo Perdido, ou Waterworld – O Mundo Submarino, ou Waterworld – o Subtítulo Esquecido. Para o relançamento em DVD, eu já deixo aqui a minha sugestão de tradução, estampada no título do post: Waterworld - Guelra e Paz.


*sweded: ver "Rebobine, Por Favor". Expressão usada para definir uma realização artesanal tosca.

** os meus filmes-tranqueira favoritos são Showgirls e Staying Alive. O equivalente cinematográfico a um pacote de cheetos-bacon com fanta. A-do-ro.

Um comentário:

Anônimo disse...
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