quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

a minha amiga toma-me pela mão



Sem dormir a noite inteira. Nem esforço fiz. Quando o dia amanheceu, era óbvio. Mas eu estava triste.

"Ninguém morreu", eu me dizia, negociando a desproporção da minha tristeza com os fatos. "Um sonho", pensei. Uma ilusão que nutri, e não vingou. Mas tenho mais coisas pra fazer. O novo dia nasceu com coisas pra fazer. Um novo teste, em Moema. Maquiei-me, fiz o cabelo, vesti a blusinha sóbria, tomei um café quente e amargo. Cheguei no ponto de ônibus em cima da hora. O ônibus passou por mim sem parar.

Subiu o nó na minha garganta.

Bateu um medo enorme, ou uma solidão, ou um não-sei-o-quê. Um ônibus tinha me ignorado! Aí era demais. Liguei pra minha amiga Renata.

- Eu dei sinal e o ônibus passou batido! - as lágrimas escorriam pela superfície maquiada do meu rosto.

Renata, com a voz boa, ignorando piedosamente o fato de eu estar chorando por ter perdido um ônibus:

- Fica tranquila, em que rua você está?
- Na Joaquim Távora. Snif.
- Passa um monte de ônibus aí - ela disse - Qual você ia pegar?
- O Terminal Santo Amaro. Snif.
- Pode pegar o Capelinha, também. Vem que eu já estou aqui no teste te esperando.

Depois de uns dez minutos passou o tal Capelinha e, depois de meia hora, cheguei no teste, bem atrasada. O produtor me olhou, com cara de fim de ano:

- Pode preencher a ficha e voltar depois das duas. A gravação da manhã já fechou.
- Eu dou aula à tarde - avisei - Se eu for embora eu não volto.
- Pois é, mas já passou das onze.
- SÃO ONZE E DEZ! Você já andou de carro nesta cidade?

Neste altura da conversa, Renata - ela mesma- surgiu da sala de maquiagem, pronta pra gravar. Eu já ia embora. Ela foi falar com o moço e, honestamente, não sei o que disse. Mas ele levantou da mesa e me entregou uma claquete, com o meu nome escrito:

- Pode gravar seu teste depois dela.

Mal pude agradecê-la. Renata fez o teste e saiu voando - feito um anjo? - para outro canto da cidade. Outro teste em Perdizes, parece.

2 comentários:

Nara disse...

eita, lírico afinado esse!


n.

Anna Toledo disse...

Nara, o elogio, vindo de você, é absolutamente encabulante. Você é muito generosa. Obrigada!