terça-feira, 15 de maio de 2007

Agora sem as pedras

Foram dias estranhos.
Minha mãe me contou uma história, quando eu estava no hospital.

Contou que, quando foi ao Marrocos, encantara-se com as paredes das casas, decoradas com seixos, conchinhas, como se fizessem uma moldura para a cor. De volta a Curitiba, percebeu que a casa em frente à sua tinha uma parede semelhante, sempre esteve ali, mas só agora ela enxergava.
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Também contou a história da dona Nadyr, moradora de Vila das Peças, na ilha de Superagui - litoral norte do Paraná. Animada com a onda do turismo ecológico, Dona Nadyr reformou a propria casa para receber os turistas. Construiu um puxadinho nos fundos para si e ergueu, defronte à casa que beirava o mar, um muro altíssimo. Igual aos que havia visto na cidade.

Minha mãe chamou a D. Nadyr para conversar:
- Mas pra quê o muro? - perguntou
- Porque é mais chique.
- Mas assim você tapa a vista do mar.
- Pra que que este povo quer ver mar?

Minha mãe fez cara de "vai por mim". D. Nadyr derrubou o muro, contrariadíssima.
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A experiência no hospital não me trouxe nada de transcendente. Concluí ou reconcluí o pouco que já sabia. Que não tenho arrependimentos. Que faço exatamente o que gostaria de fazer. Que desejo continuar fazendo o que faço. Que eu faço sentido quando existe o outro para sentir. Que meus amigos são o meu jeito de ver (e viver) o mundo.

Que as pessoas amadas são as que têm o poder de transformar as horas difíceis em horas felizes.

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