sexta-feira, 18 de maio de 2007

never mind the pollocks


A maior sensação da exposição permamente do MoMa é, sem dúvida, um pequeno quadro -emoldurado suntuosamente de dourado - que retrata uma noite campestre. É o Noite Estrelada, de Van Gogh, que mal divisa-se entre as levas de visitantes que o cercam, de dúzia em dúzia, enquanto um guia discorre longamente sobre o impressionismo, o expressionismo, as pinceladas grossas, a loucura do artista, eticetra.

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Lembro-me de ter ido ao Louvre, há quase vinte anos atrás (é sério), e irritar-me/apiedar-me dos japoneses que tiravam foto de tudo, quase sem examinar o objeto fotografado, tudo apressado, apreendendo o objeto, nunca compreendendo.


Lembro da Mona Lisa, atrás de um cordão de isolamento, cercada por uma redoma de vidro, emoldurada de dourado, parecendo-me um pequeno quadro escuro cercado de japoneses por todos os lados. O cartão-postal vendido na lojinha do Louvre revelava mais nuances que o próprio quadro.

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Hélas, viramos todos japoneses neste século. A câmera digital, celulares com câmera de alta definição, todos os avanços tecnológicos e, sobretudo, a sensação de que não há tempo suficiente e há coisas demais para ver... eis-nos hoje num museu, todos - absolutamente todos - de câmera em punho, passando rapidamente de tela em tela, de sala em sala, capturando (sem flashes) tudo o que nossas retinas registram. Os seguranças do museu não se importam mais com as câmeras. Só estão lá para garantir que ninguém toque nas obras.

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As Demoiselles d'Avignon conseguem se impor sobre os curiosos. Ocupam o lugar de honra de um salão inteiro dedicado a Picasso, o posto mais iluminado e acessível de uma sala impecável. O quadro é grande e a moldura não o oprime, é leve, mal se vê, as mulheres dissolvem-se na parede, elas respiram, é poderoso.








Li ontem que Les Demoiselles d'Avignon está fazendo 100 anos. Fiquei feliz de tê-las visto em plena juventude e frescor, há duas semanas atrás.


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Pollock faz um sucesso absurdo com crianças.



Pollock é aquele que sempre há um mal-humorado ao lado para comentar que faz igualzinho. E você diz "pois é".


As crianças saltam e riem diante da tela.