sexta-feira, 25 de maio de 2007

Second Life or No Life at All

Ainda não experimentei o Second Life. Sou, capricorniana, um tanto resistente a tanta novidade. O que não me impede de já ter uma opinião a respeito, claro. Me assusta um pouco este conceito "matrix" de estar conectado a outra vida, vivenciando (detesto esta palavra, desculpem) experiências através do cérebro, com o corpo servindo tão-somente de suporte energético. A plenitude é cada vez menos desejável: vivem-se (fortes?) emoções virtualmente, sem a participação dos sentidos reais, enquanto o corpo fenece e engorda, atrofiado ou, para ser menos dramática, acomodado numa poltrona, diante de um computador.

Ah, as sombras de platão, bla, bla, bla.



Uns bons vinte anos atrás, o Luiz Fernando Veríssimo publicou uma charge intitulada "O Pós-Modernismo", onde um sujeito filmava um pôr-do-sol deslumbrante e comentava, entusiasmado: "mal posso esperar para assistir isto no vídeo, lá em casa!"

Hoje fui assistir um espetáculo infantil, à tarde, numa sessão fechada para escolas (meu amigo Paulinho está no elenco e conseguiu me pôr para dentro - a peça, aliás, é lindinha!). Mas, enfim, o que me deixou assustada foi a quantidade de crianças que não conseguiam assistir a peça sem filmá-la no celular. Tinha um garoto bem na fila em frente à minha que baixava seus e-mails, jogava, filmava a peça e mostrava o filminho para os colegas, tudo durante o espetáculo.

Afora o desejo quase incontrolável de dar um peteleco no guri, sobreveio um tipo de tristeza, uma pena, porque este guri e todos os piás iguais a ele já não conseguem estar num lugar só e experimentar viver plenamente o momento. Os sentidos foram subjugados por uma ansiedade (burra, burríssima, sem propósito) de dar conta de várias coisas, de não "perder tempo".

Mas o que está acontecendo é isto: a gente está perdendo tempo. Perdemos o presente.


* ilustração: Gregório Gruber


3 comentários:

ethan edwards disse...

O menino estava se divertindo, sim, e "vivendo o momento". Mas não com o espetáculo, que para ele, certamente, não tem o encanto que tem para você. Estava se divertindo com as múltiplas possibilidades do seu celular.

thais cavalcanti disse...

isso me assusta tb. minha sobrinha tem 4 anos, e passa horas (se deixarmos) no micro, com os joguinhos do site da barbie. eu tenho medo do futuro, essa é a verdade.

Anna Toledo disse...

será? tento enxergar desta maneira, também, para não me sentir tão velha. mas duvido um pouco. acho que este (o celular, no caso) é o jeito que as pessoas validam suas experiências, atualmente. Não tenho certeza, mas desconfio.